

Da RBA
Presentes no VIII Congresso da Confederação Nacional do Ramo Químico da CUT, Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), e Gilmar Mauro, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), defenderam nesta sexta-feira (14) a unidade dos movimentos populares, sociais e sindicais como única alternativa para manter a resistência ao governo de Michel Temer e suas reformas.
“O momento exige uma ampla unidade entre nós. Para enfrentar o tamanho do retrocesso, precisamos estar todos juntos. A unidade agora não é uma escolha, é uma necessidade. Ou estão o movimento popular e o movimento sindical numa mesma trincheira enfrentando isso, ou vamos perder e apanhar cada um no seu canto, sendo criminalizado cada um no seu canto”, alertou Boulos.
Além de defender a unidade perante o “governo golpista de Temer”, Boulos afirmou que a esquerda precisa ter a dimensão da gravidade do Estado de exceção em marcha. “A condenação do presidente Lula sem nenhuma prova, ao mesmo tempo em que Temer é salvo na CCJ, com um monte de provas, mostra que o Judiciário no país se tornou uma facção política, institucionalizando medidas de exceção e tornando isso regra. Se a gente não reagir agora, vai chegar um momento em que a gente não vai ter condições de reagir.”
Com análise semelhante, Gilmar Mauro defendeu que as lideranças de diversos setores da esquerda e dos movimentos sociais deixem de lado o personalismo e as visões de mundo diferentes para unir forças. Ele também alertou para a necessidade de movimentos e lideranças estabelecerem estratégias e táticas de médio e longo prazos.
“É preciso criar unidade, que não é feita de organizações padronizadas, mas diferentes. As alianças não se dão entre iguais, mas entre diferentes. Precisamos ter ações e projetos comuns respeitando as diferenças entre nós. São necessárias alianças e unidade para construir uma cultura política de frente”, disse Gilmar.
Apesar da crise, o dirigente do MST se declarou otimista. “A crise abre portas para a construção da consciência política para dar maturidade e ter um projeto comum, que nos leve a enfrentar essa conjuntura e plantar as sementes socialistas no Brasil e no mundo.”
Para Guilherme Boulos, a gravidade do momento pode ser medida pelo balanço de pouco mais de um ano de governo Temer, período em que o país retrocedeu nos três pactos sociais firmados no último século. “O mais recente, o pacto lulista, com seus limites e contradições, que pautou os governos a partir de 2003, está sendo totalmente desmontado.”
O outro pacto que Temer e aliados estão desconstruindo é o da Constituição de 1988, avalia Boulos. “As redes de proteção social, educação e saúde pública estão saindo do horizonte. E agora, não contente em desmontar esses dois pactos dos últimos 20 anos, desmontam o pacto varguista, que garantia algum tipo de segurança no trabalho a milhões de trabalhadores”, acrescentou, em referência à reforma trabalhista.
Sem citar nomes, Gilmar Mauro criticou setores divisionistas da esquerda caracterizada por lideranças personalistas, que proclamam “um vanguardismo autoproclamado”. “Uma esquerda que comemora derrota de outra esquerda não é esquerda”, disse. “A boa negociação se dá se a categoria faz uma boa luta. A conquista não é do dirigente, mas da classe em luta. Precisamos de planejamento de longo prazo. Os capitalistas fazem planejamento de 20 anos. Nós temos dificuldade de planejar quatro ou cinco anos.”
Para o coordenador do MST, no momento histórico atual, o desenvolvimento do capitalismo produz retrocessos históricos “do ponto de vista da legislação e da humanidade”. “Nossas organizações (estão) marcadamente com dificuldade de articulação internacional e têm dificuldade de fazer o enfrentamento ao capital nesse tempo histórico.”