Eleições 2024
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6 de agosto de 2024
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14:34

Enchente e dobradinhas de candidatos marcam 1º debate à Prefeitura da Capital

Por
Luciano Velleda
lucianovelleda@sul21.com.br
Maria do Rosário, Felipe Camozzato, Juliana Brizola e Sebastião Melo no primeiro debate eleitoral de 2024. Foto: Reprodução/GZH
Maria do Rosário, Felipe Camozzato, Juliana Brizola e Sebastião Melo no primeiro debate eleitoral de 2024. Foto: Reprodução/GZH

A Rádio Gaúcha realizou, nesta terça-feira (6), o primeiro debate com os candidatos à Prefeitura de Porto Alegre nas eleições de outubro. Pelo critério adotado de representação dos partidos políticos, participaram o atual prefeito Sebastião Melo (MDB), Maria do Rosário (PT), Juliana Brizola (PDT) e Felipe Camozzato (Novo). 

Dividido em quatro blocos, alternando momentos de confronto direto entre os candidatos com perguntas de jornalistas e eleitores, o primeiro debate da eleição revelou algumas estratégias que devem prosseguir ao longo da disputa e os temas que tendem a ter mais atenção dos candidatos. 

No campo das estratégias, o debate evidenciou uma espécie de parceria, ou política de boa vizinhança, entre as candidatas Maria do Rosário e Juliana Brizola, unidas na crítica ao atual prefeito e sem procurar criar embates duros entre elas. No mesmo caminho seguiram Melo e Camozzato, trocando figurinhas em tom amistoso. Em determinado momento, Melo perguntou para o candidato do Novo sobre empreendedorismo, um tema recorrente da agenda neoliberal. “Temos nesta eleição propostas muito diferentes”, comentou Melo, e continuou: “Não em relação a ti, Camozzato, mas ao estatismo que está posto aqui”. Camozzato então pegou a deixa e enalteceu o empreendedorismo.

Entre as candidatas do PT e do PDT o clima foi semelhante. No primeiro bloco do debate, com o formato “face a face”, ambas protagonizaram um momento de concordância na crítica ao modo como o atual prefeito conduziu a crise da enchente em Porto Alegre. A dobradinha entre Maria do Rosário e Juliana Brizola foi classificada por Melo como união da “esquerda radical”.

Ainda houve tempo para Camozzato inserir o tema das eleições venezuelanas e tentar constranger Maria do Rosário, cujo partido emitiu nota semana passada reconhecendo a reeleição de Nicolás Maduro, apesar das muitas dúvidas que cercam o pleito e a negativa de vários países de reconhecer a vitória de Maduro – inclusive o Brasil.

Camozzato chegou ao ponto de perguntar à candidata do PT se ela pretende trazer para Porto Alegre “a miséria e a fome” da Venezuela. Maria do Rosário respondeu dizendo não ser candidata na Venezuela, enfatizou que sua trajetória política é de defesa da democracia e, logo depois, procurou puxar o debate com o candidato do Novo sobre as consequências do Estado mínimo defendido pelo partido de Camozzato, como a falta de servidores do Dmae.

A histórica enchente de maio foi o principal tema do primeiro debate e protagonizou os embates mais ríspidos entre Maria do Rosário e Juliana Brizola com o atual prefeito. A tragédia dominou praticamente todo o primeiro bloco do programa, caracterizado por um formato que permitiu aos candidatos debaterem livremente quase sem intervenção da mediadora. 

Sob críticas de ter sucateado o Dmae, não ter feito a necessária manutenção do sistema de proteção contra cheias da cidade e não ter dado atenção aos técnicos da prefeitura que há tempos alertavam sobre problemas nas comportas, diques e casas de bomba, Melo manteve o discurso que já tem adotado. O prefeito não assume ter responsabilidade com as falhas acontecidas, disse que o sistema de proteção da Capital é ultrapassado, incompleto e, por isso, não foi eficiente para sustentar a subida do nível do Guaíba. Melo ainda jogou a culpa no colo do governo federal que, segundo ele, nada fez nos últimos anos para proteger Porto Alegre

Ao adotar a estratégia de responsabilizar o governo federal, de carona Melo criticou Maria do Rosário ao relacioná-la com os governos do PT no Palácio do Planalto. A candidata, por sua vez, procurou evidenciar os erros da Prefeitura e destacar que Melo apenas “passa adiante a responsabilidade”. Maria do Rosário aproveitou para anunciar que, se eleita, irá recriar o Departamento de Esgoto Pluviais (DEP) e realizar concurso no Dmae. Juliana Brizola seguiu linha semelhante, enfatizando a falta de manutenção do sistema. O tema do DEP voltou em outros momentos do debate, com Melo refutando a possibilidade de recriar o órgão. “Se fosse solução, teria apresentado soluções”, afirmou.

Outros assuntos tradicionais apareceram de modo esparso ao longo do primeiro debate, como a mobilidade urbana, falta de vagas em creches, a fila das cirurgias eletivas e a coleta de lixo. Num momento de perguntas e respostas entre Camozzato e Juliana, o candidato do Novo focou as soluções na educação por meio de parceria com o setor privado e tentou fazer o mesmo com os aplicativos de transporte (Uber) em relação aos entraves da mobilidade urbana

A candidata do PDT, todavia, ponderou que o problema é a precariedade dos ônibus e a demora das linhas. Sobre o Uber, disse que o modelo é caro para quem mora na periferia. “Precisamos modernizar, mas olhar para quem mais precisa e, quem mais precisa, ainda usa o ônibus”, afirmou.

O tema das denúncias de corrupção na Secretaria Municipal de Educação (Smed) surgiu somente perto do final do debate. Confrontado com a acusação, Melo voltou a adotar o discurso que já tem colocado em prática, ao se defender dizendo que mandou investigar as denúncias – o caso, entretanto, tem tido diversos desdobramentos a partir de investigações da polícia, inclusive com prisão da ex-secretária de educação, empresários e servidores. A corrupção na Smed foi motivo do único pedido de direito de resposta do debate, feito por Melo e concedido pela direção do programa.


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