Esporte
|
17 de julho de 2015
|
14:19

Ghiggia (Montevidéu, 22/12/1926 – 16/7/2015)

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Do Blog do Mário Marcos

Aos 88 anos, vítima de parada cardíaca, morreu na tarde desta quinta-feira, em Montevidéu, Alcides Edgardo Ghiggia, o atacante responsável pelo passe do primeiro gol e autor do segundo na vitória de 2 a 1 sobre a Seleção Brasileira na decisão da Copa do Mundo de 1950 – aquela que passou para a história como Maracanaço e que comprometeu para sempre a carreira de boa parte de uma das mais talentosas gerações do futebol nacional, em todos os tempos.

Ghiggia era o último sobrevivente da seleção uruguaia, a mítica Celeste comandada em campo pela liderança de Obdúlio Varela, um volante que enfrentou com cabeça erguida os gritos de mais de 200 mil torcedores brasileiros reunidos no Maracanã.

Os deuses do futebol decidiram que Ghiggia morreria exatamente em um 16 de julho, o dia daquela decisão de 1950, 65 anos atrás.

Ele e seus companheiros, impressionados com o trauma que a derrota provocou nos adversários, passaram a se encontrar com os brasileiros nos anos seguintes. Dos encontros, surgiu uma solida amizade, que Ghiggia fazia questão de destacar sempre.

– Nem falávamos de futebol – lembra.

Entrevistei Ghiggia em um canto do saguão do Hotel Othon, do Rio, no ano 2000, quando Brasil e Uruguai disputaram amistoso pelos 50 anos da final. Nunca esqueci de uma frase que ele me disse – e que virou título da minha matéria:

– A derrota ensinou o Brasil a vencer.

Ghiggia não tinha dúvidas de que o tropeço e o trauma fizeram o futebol brasileiro reagir, se reorganizar e a partir dali se preparar com mais seriedade para a campanha vitoriosa da primeira das cinco Copas conquistadas pela Seleção, a da Suécia.

Era alguém que esbanjava sabedoria.

Quando começava a falar, as pessoas em volta faziam absoluto silêncio para ouvir as lições e as recordações de Ghiggia. Ele jogou na Itália, chegou a jogar pela Azzurra, mas fez história mesmo na Celeste, com o passe para Schiaffino, no primeiro gol, e o chute rasteiro, firme, no canto esquerdo de Barbosa (na foto, à esquerda, Ghiggia corre para festejar), no segundo, definindo a vitória e o título mundial. O gol fez Barbosa cair em desgraça.

– Sou o único brasileiro condenado à prisão perpétua – lamentou o goleiro ao longo da vida.

A morte de Ghiggia encerra um dos mais importantes capítulos da história do futebol.


Leia também