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17 de novembro de 2016
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13:29

Alckmin utiliza Nota Fiscal Paulista para favorecer os mais ricos, acusam auditores

Por
Sul 21
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Alckmin utiliza Nota Fiscal Paulista para favorecer os mais ricos, acusam auditores
Alckmin utiliza Nota Fiscal Paulista para favorecer os mais ricos, acusam auditores
Geraldo Alckmin anuncia suspensão da reorganização escolar, no ano passado. Verbas públicas, interesses privados. DU AMORIM / FOTOS PÚBLICAS
DU AMORIM / FOTOS PÚBLICAS

Gabriel Valery
Da RBA

“O Programa Nota Fiscal Paulista (NFP) carrega uma injustiça social enorme. O conceito do programa premia ricos”, denuncia o Sindicato dos Auditores Fiscais do Estado de São Paulo (Sinafresp). Por seu conceito, a NFP deveria devolver parte do imposto cobrado pelo produto ao consumidor – 20% – na forma de créditos. Entretanto, uma prática fiscal do governo Geraldo Alckmin (PSDB) afeta esse repasse ao contribuinte.

Com a chamada Substituição Tributária (ST), o governo deixa de recolher certos impostos, em especial o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), do comércio final, das lojas, e passa a cobrar diretamente das fábricas, da indústria. O Sinafresp explica que a prática anula a NFP, porque a restituição do programa só ocorre quando o imposto é recolhido diretamente do comércio. Somente dessa forma são contabilizados créditos que se convertem em dinheiro a ser devolvido ao contribuinte.

“A Sunstituição Tributária tira os créditos da Nota Paulista das lojas. Então, o consumidor que colocar seu CPF na nota não vai receber o valor de restituição do programa”, afirma o sindicato. “O NFP foi criado juntamente com a massificação da Substituição Tributária (2008). Elas são duas coisas contraditórias”, completam os profissionais do Fisco.

O problema ainda é agravado, de acordo com o Sinafresp, em razão de quais produtos passam pela ST e não produzem créditos para o consumidor. São os “massificados”. “Os produtos dentro da ST são os vendidos em supermercados, mercearias, bares etc. Então, os mais pobres compram mais esses produtos, e esses produtos não possuem créditos. Agora, as mercadorias que não estão na ST e geram muitos créditos são as de luxo”, explicam. Esta é a grande injustiça do programa, de acordo com o sindicato.

A categoria dos auditores fiscais de renda de São Paulo está mobilizada e vem realizando manifestações nos últimos meses por uma visão técnica da Fazenda do Estado, o que inclui uma análise crítica sobre a NFP. Para os profissionais, a política fiscal promovida pelo governo Geraldo Alckmin cobra mais impostos dos pobres e beneficia os ricos.

“Em um restaurante em uma região nobre de São Paulo como o bairro dos Jardins, por exemplo, uma pessoa rica pode gastar em média R$ 300 no almoço e ganha os créditos por este valor. Já o pobre que faz sua marmita com produtos comprados na feira ou no supermercado não reverte o valor gasto em créditos. Então, quanto mais soberbo o consumo, mais créditos. Quem se apropria desta restituição são os mais ricos”, diz a categoria.

Além dos prejuízos ao NFP, a ST ainda cria injustiças no campo da cobrança básica de ICMS. Isso porque o estado faz uma média do preço de um produto para taxar a indústria. “Um refrigerante, por exemplo, é vendido no Jardins por R$ 8. Na periferia, o preço final dele é de R$ 4. Então, o imposto cobrado na fábrica será sobre a média disso. Oito mais quadro dividido por dois é seis. Então o imposto será cobrado em cima do valor de R$ 6. Isso é injusto”, afirmam. “Na prática, se o imposto fosse cobrado a partir do valor final, o pobre pagaria imposto sobre R$ 4 e não R$ 6, então o pobre paga mais impostos. Já o rico pagaria impostos por um produto com preço de R$ 8 e não R$ 6. Ou seja, o rico paga menos”, explicam.

Cofres públicos

Existe uma queda brutal na arrecadação paulista que, de acordo com o Sinafresp, supera qualquer número negativo relacionado ao cenário de crise econômica nacional. Ainda segundo informações do sindicato, entre os meses de janeiro e agosto, a arrecadação do ICMS caiu aproximadamente 9%.

Os profissionais do Fisco apontam diversos problemas que poderiam ser solucionados com uma visão mais técnica e menos política da gestão de Alckmin na Fazenda.

“O custo deste programa apenas em créditos fora da Substituição Tributária e prêmios pagos giram em torno de dois bilhões de reais por ano. Sem contar a manutenção de todo o parque de informática, que é enorme. A base de dados do programa equivale à mesma base de todo o conjunto da Nota Fiscal Paulista. Pra que isso se o grosso da arrecadação está na Substituição? Pra que gastar tudo isso? Estudos estimam que o acréscimo do programa para os cofres públicos é de 30 milhões de reais. Dois bilhões gastos e 30 milhões revertidos, qual a racionalidade disso?”, questionam.


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