
Roberta Fofonka
A mais ou menos 50 minutos do centro de Porto Alegre, fora da confusão urbana mas ainda dentro da geografia da cidade, é possível ir à praia. No Lami e em Belém Novo, o Guaíba se transfigura em litoral, para quem prefere ou não consegue sair da cidade nos dias de calor.
Segundo o relatório mais recente do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), e da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam), fechado no último dia 12 de janeiro, todos os três pontos da praia do Lami e de Belém Novo são próprios para banho.
Ipanema, por sua vez, apesar do nome de referência a uma das praias mais famosas do Brasil, hoje em dia é só paisagem na zona sul da capital gaúcha. Conforme informações da prefeitura, nas águas da região sequer são feitas medições semanais. A característica predominante da área é imprópria, pois os índices de coliformes fecais na água se apresentam muito acima dos limites fixados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
O médico epidemiologista e coordenador da Vigilância de Doenças Transmissíveis da Secretaria Municipal da Saúde, Benjamin Roitman, alerta para o quanto é importante acatar a determinações deste tipo. “Em Ipanema e no Gasômetro, por exemplo, realmente não dá para tomar banho. Em qualquer lugar impróprio existe um risco maior de contaminação”. A água contaminada, uma vez ingerida, pode conter vírus, bactérias e parasitas, geralmente causadores de diarreias e doenças como Hepatite A. Via contato com pele e mucosas, a água imprópria pode transmitir micoses, vermes, infecções cutâneas e até leptospirose.

“Eu sempre ia em Ipanema e era bom. Agora que não dá mais”, afirma Edemar de Farias, de 57 anos, que desde a juventude acampa com a família nas praias da capital. No Lami, ele, sua filha Carla Maciel e mais quatro netos, chegaram e montaram acampamento na última quinta-feira (16). Só voltam para casa no domingo, dia 26.
“Desde pequena eu venho aqui com meu pai. E agora eu trago os meus filhos”, conta Carla, 30, que mora no bairro Belém Velho, no extremo-sul da capital, e pega três ônibus até chegar ao Lami. “Como tem mercadinho aqui perto, a gente compra as coisas e prepara tudo aqui mesmo”, mostrando o fogão-churrasqueira feito de tijolos ao lado da tenda da família, que veio à praia com duas mochilas, dois carrinhos de feira, duas barracas e uma lona.
A praia do Lami durante a semana é frequentada em maioria por famílias e instituições que fazem excursões até lá. Nos finais de semana o clima muda, com bastante gente interessada em festas. O salva-vidas Roger Wagner, que desde o verão passado trabalha na segurança do Lami, relata que na temporada, aberta desde o dia 20 de dezembro, a média de visitação à guarita central da praia é de 200 pessoas em dias de semana, e 800 nos sábados e domingos. Até o momento, foi preciso realizar apenas um salvamento. A assistência dos salva-vidas no Lami ocorre todos os dias, entre 8h30 e 19h30.
Uma das instituições que aproveita o balneário é a Fundação de Proteção Especial do Rio Grande do Sul, uma ramificação da extinta Febem, que abriga crianças e adolescentes recolhidos de suas famílias pelo Conselho Tutelar e o Juizado da Infância e da Juventude. Em semanas alternadas, o professor de Educação Física da entidade, Marcos Pimentel, leva as turmas de crianças e jovens ao Lami. Neste ano, ir até lá foi a alternativa que ele e as outras “tias” da fundação encontraram para o verão. Nos anos anteriores, eles levavam as crianças para colônias de férias, o que não foi mais possível por causa do corte de horas-extras aos professores que faziam o acompanhamento.
Com acesso fácil para quem vai de carro e de ônibus da parte urbana da cidade, o Lami não parece diferente de nenhuma outra praia. Ao redor, há bares que servem peixes e picolés, a água é morna, aos poucos as pessoas chegam e colocam suas cadeiras, tomam banho de sol. O salva-vidas Wagner diz que poucas pessoas aparecem preocupadas com a qualidade da água. “Só quem é de fora pergunta. E então a gente mostra o laudo e pronto.”










