

Débora Fogliatto
A notícia de que um antigo tanque do Exército será transformado no mais novo monumento de Porto Alegre vem repercutindo entre a população desde a semana passada. Um grupo crítico à decisão chegou a lançar um evento no Facebook para promover uma intervenção artística no veículo de guerra. Após a polêmica, o vereador Alberto Kopittke (PT) protocolou, nesta segunda-feira (18), Projeto de Lei que visa proibir a exibição de artefatos bélicos como elemento principal nos monumentos na capital.
Caso aprovada, a proposta proibiria a colocação de armas de fogo e armas de guerra em geral como monumentos. A prefeitura informou que cedeu o terreno em agradecimento pela doação de uma área do 3° Regimento de Cavalaria de Guarda para a construção da alça de acesso ao viaduto da avenida Bento Gonçalves.
Kopittke lembra que o debate sobre o papel das Forças Armadas e sua relação com o regime militar continua inserido na cidade, com a troca do nome da Avenida Castelo Branco para Avenida da Legalidade e da Democracia, por exemplo. Já o tanque viria na contramão dessas iniciativas. “A gente tem que desconstruir esses símbolos autoritários, de violência, de guerra, que seguem presentes. E o Brasil tem que seguir o sentido que o Chile e a Argentina tem seguido, leis proibindo qualquer tipo de símbolos ligados ao regime autoritário e aqui continua muito vivo”, aponta.
O vereador diz ainda que os monumentos sustentam um poder simbólico. “Um tanque de guerra em forma de monumento é a sustentação da violência, é o simbolismo da destruição humana e, notoriamente, Porto Alegre encontra-se no triste rol das capitais mais violentas do Brasil”, afirmou o vereador.
Ele destaca, porém, que o objetivo não é ser contra as Forças Armadas em si, mas sim propor um diálogo sobre o papel dessa instituição. Segundo o vereador, a decisão sobre o tanque não passou pelo crivo da Comissão Técnica Permanente de avaliação e gerenciamento dos monumentos e obras de arte da capital, ligada à Secretaria Municipal de Cultura. Esta comissão deveria se posicionar sobre a colocação de qualquer novo monumento na cidade.
“Este conselho não foi consultado. É um conjunto de ocupações do espaço público pelas Forças Armadas, eles ocupam a Redenção, por exemplo sem pedir autorização, como se fosse um poder soberano, enquanto teria que seguir a legislação de toda a cidade, como qualquer outro órgão público. Acho importante promover esse debate”, justifica.
Ele espera que o projeto tenha aprovação de seus colegas vereadores, que já concordaram com medidas como a restituição dos mandatos de vereadores cassados em 1964, em função do regime militar. “Acho que é um debate importante sobre a própria cidade e que tipo de monumentos a gente quer”, destaca.
O tanque
O tanque Leopard, modelo 1A1, foi comprado da Bélgica, começou a ser utilizado no Brasil em 1997 e agora foi substituído por um modelo mais moderno. Instalado na esquina das avenidas Ipiranga e Salvador França, o Exército decidiu usar o tanque aposentado para homenagear a instituição. A comunidade #PoaCidadeCriativa lançou um evento no Facebook para promover uma intervenção artística no novo monumento.