
Jaqueline Silveira
Centenas de ciclistas pedalaram na noite de terça-feira (10) pelas ruas da Capital em protesto à morte do arquiteto Joel Fagundes, 62 anos. Ciclista, ele foi atropelado por um táxi na manhã do último domingo (8) e o caso está sendo investigado pela Delegacia de Trânsito. Essa é a primeira vítima de 2015. Já no ano passado, foram registradas seis mortes de ciclistas.
Partindo de várias regiões da cidade, os ciclistas se reuniram no Largo Zumbi dos Palmares. A iniciativa “Ghost bikes para um pai, para um marido, um amigo, um irmão, um filho, um Joel Fagundes” foi organizada pela rede social Facebook. Do local, rumaram em direção à Avenida Severo Dullius, Zona Norte, lugar onde Fagundes foi atropelado, para instalar uma Ghost bike – bicicleta fantasma. Além de homenagear a vítima, o objetivo é evitar que a morte do arquiteto seja esquecida.

Antes de dar a partida, as centenas de ciclistas, boa parte do movimento Massa Crítica, gritaram: “Joel Fagundes, presente!” Organizador do movimento, Eduardo Macedo foi o responsável por preparar uma antiga bicicleta do próprio arquiteto para deixá-la no local do acidente: a pintou de branco e a soldou. Também carregou a Ghost bike por todo o trajeto presa a sua bicicleta. “Inutilizei toda ela”, contou Macedo, para evitar que a Ghost bike possa ser roubada.
A manifestação, segundo ele, uniu dois motivos: “A ideia seria um pouco fazer essa homenagem e também uma conscientização.” Já em relação à iniciativa, ele afirmou que “alguém tinha de fazer”. “Eu faço parte da mesma família dele (Fagundes) que anda de bicicleta”, completou Macedo.
A família do arquiteto também acompanhou a manifestação. “O mais importante é que reconforta um pouco”, comentou Rita Fagundes, sobre a iniciativa dos ciclistas. “Se conseguirem salvar uma vida já valeu a pena. A bicicleta foi escolhida a parceira dele para todos os momentos”, afirmou a filha, emocionada, sobre a conscientização para reduzir o número de acidentes com ciclistas.
Acompanhados por agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e por uma viatura da Brigada Militar, os ciclistas percorreram o trajeto, intercalando silêncio com frases como “Mais amor, menos motor.” Também predominava um sentimento de revolta. No entroncamento das Avenidas Venâncio Aires e Érico Veríssimo fizeram uma parada para homenagear uma ciclista que morreu no local atropelada por um ônibus.

Ao logo do percurso, mais ciclistas se juntavam na pedalada. Em frente à prefeitura, fizeram um minuto de silêncio. Depois de mais de uma hora e meia da partida do Largo Zumbi dos Palmares, as centenas de ciclistas chegaram à Avenida Severo Dullius, momento marcado por muita emoção dos familiares e amigos que rodearam a Ghost bike, que tinha um ramalhete de flores brancas, não segurando as lágrimas. “Vamos lá, pessoal! Vamos levantar esse homem!”, convocaram alguns ciclistas, numa referência simbólica à instalação da bicicleta em um poste.

Enquanto a Ghost bike era amarrada, intercalaram-se gritos de “Joel Fagundes, presente” e muitos aplausos. Junto à bicicleta, foi anexado um banner com a caricatura do arquiteto ao lado de sua companheira de pedalada. Por último, foi feito mais um minuto de silêncio e os ciclistas levantaram suas magrelas e rezaram um Pai-Nosso.
Movimento
As Ghost Bikes começaram a ser instaladas na Capital há quatro anos para homenagear as vítimas e conscientizar a população para os acidentes. Nesse período, já foram instaladas 15 Ghost bike em diferentes locais de Porto Alegre onde ocorreram acidentes com morte de ciclistas. A iniciativa existe também em outros países como Estados Unidos e Inglaterra.
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