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29 de julho de 2015
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22:05

Após uma semana sem água, Gravataí lança edital para nova concessionária assumir serviço

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
Com o alagamento das estações de captação de Cahoeirinha e Alvorada, moradores da Região Metropolitana sofreu com a falta de água e teve de se virar como pôde. Em Viamão, a dona de casa Iara teve de comprar água e se socorreu de vizinhos para encher baldes nos seis dias sem abastecimento|Foto: Guilherme Santos/Sul21
Com o alagamento das estações de captação de Cahoeirinha e Alvorada, moradores da Região Metropolitana sofreram com a falta de água e teve de se virar como puderam. Em Viamão, a dona de casa Iara teve de comprar água e se socorreu de vizinhos para encher baldes nos seis dias sem abastecimento|Foto: Guilherme Santos/Sul21

Jaqueline Silveira

A interrupção no fornecimento de água em cidades da Região Metropolitana devido ao alagamento nas estações de captação durante a enchente que atingiu o Estado neste mês parece ter sido a gota d’ água para o município de Gravataí partir para o rompimento do contrato com a Companhia Riograndense de Abastecimento (Corsan). A prefeitura publicou, nesta quarta-feira (29), no Diário Oficial do município e da União, o Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), primeiro passo para dar início ao processo de concessão do serviço em Gravataí. Nessa fase, as empresas se habilitam ao PMI e depois fazem o estudo técnico. Após o levantamento, a prefeitura fará a licitação que definirá a concessionária responsável pelo abastecimento.

A chuva causou o alagamento da estação de tratamento de Cachoeirinha, localizada junto ao Rio Gravataí e que abastece também parte da cidade de Gravataí, com cerca de 150 mil habitantes. O mesmo problema ocorreu na estação de Alvorada, que além da cidade, fornece água para Viamão. Devido aos alagamentos, a Corsan informou que foi necessário desligar as bombas por questão de segurança.

Com a medida, os moradores ficaram seis dias sem água. A demora para restabelecer o abastecimento somadas às dificuldades enfrentadas pelos moradores com o alagamento das casas motivou muitas reclamações dos municípios contra a Corsan. A estatal alegou à época que precisava baixar o nível do rio para retomar o abastecimento. Depois de uma semana sem água, o fornecimento voltou, contudo, a companhia pediu aos usuários “o uso racional” para que todos tivessem o líquido nas torneiras.

No entanto, a falta de água nesses municípios não ocorre só no inverno ou em função das condições climáticas. Na estação mais fria do ano, segundo o secretário Geral de Governo, Luiz Zafallon, o desabastecimento ocorre independentemente do período de chuvas. Nos lugares mais altos de Gravataí, conforme ele, há problemas. Já no verão, conforme o secretário, é comum as torneiras ficarem vazias. “Nós estamos largando a Corsan, não adianta mais cobrar”, afirmou Zafallon. No verão de 2013/2014, relatou o secretário, a cidade, que teve 6 mil pessoas atingidas pelas cheias deste mês, chegou a ficar 10 dias sem água.

Zafallon destacou que o prefeito Marco Alba chegou a participar de uma reunião com o governador José Ivo Sartori, ambos do PMDB, sobre a situação dos municípios castigados pelas cheias e que a Corsan teria prometido melhorias. Entretanto, a prefeitura não irá “esperar” mais por investimentos na área de abastecimento. “Não tem mais saída”, garantiu Zaffalon, sobre as constantes cobranças à companhia na tentativa de resolver os problemas.

A casa de máquinas em Alvorada alagou e deixou, além da cidade, Viamão sem água|Foto: Charles Scholl/prefeitura Alvorada
A casa de máquinas em Alvorada alagou e deixou, além da cidade, Viamão sem água por uma semana|Foto: Charles Scholl/prefeitura Alvorada

Mais de 200 mil sem água em Alvorada

Em Alvorada, cerca de 210 mil habitantes ficaram sem água, já que 75 mil pontos de distribuição foram afetados com alagamento da estação de captação do município. Secretário adjunto Geral de Governo de Alvorada, Charles Scholl afirmou que a estatal demorou a tomar uma providência, classificando como “relapsa” a postura da empresa. Ele relembrou que, em 2003, ocorreu uma enchente semelhante em quantidade de chuva a deste mês, entretanto a casa de bombas não foi alagada, porque a Corsan providenciou uma contenção com sacos de areia antes de a água atingir o local. Agora, segundo ele, isso só foi feito depois que a água já tinha invadido a estação. Além disso, a companhia queria aguardar o nível do Rio Gravataí baixar, que atingiu 6,80 metros, para restabelecer o abastecimento, o que, segundo Scholl, era inviável, já que levaria em média 10 dias para diminuir seu volume. A solução foi usar bombas para sugar a água da casa de máquinas para restabelecer o fornecimento o mais rápido possível.

A empresa, segundo o secretário adjunto, teria prometido uma força-tarefa para resolver o problema na estação de captação, mas não teria sido isso que a equipe da prefeitura constatou no local. Devido à demora e à gravidade do problema enfrentado pela população, o município foi à Justiça cobrar o restabelecimento da água e foi atendido judicialmente. “Ficamos em calamidade”, contou Scholl.  A enchente atingiu 11,7 mil habitantes de Alvorada. Desse número, 2.950 ficaram desalojados e uma parte ainda não conseguiu retornar para suas casas devido ao nível ainda alto do Rio Gravataí.

Apesar de reconhecer que o serviço da Corsan deixa a desejar em Alvorada, que é governada pelo prefeito Serginho Bertoldi (PT), Scholl ressaltou que a privatização da companhia não seria solução para o problema. A empresa estaria na lista de estatais que o governo Sartori pretende privatizar como medida para superar a crise financeira do Estado. “Estão utilizando o momento para colocar em xeque (o trabalho). Nós não somos a favor”, enfatizou ele.

Sacos de areia foram colcados para conter a água, mas medida teria sido adotda depois que água tinha invadido a estação|Foto: Charles Scholl/Prefeitura de Alvorada
Sacos de areia foram colocados para conter a água, mas medida teria sido adotada depois que água tinha invadido a estação|Foto: Charles Scholl/Prefeitura de Alvorada
Bombas foram usadas para sugar a água e esvaziar a estação de tratamento|Foto: Charles Scholl/Prefeitura de Alvorada
Bombas foram usadas para sugar a água e esvaziar a estação de tratamento|Foto: Charles Scholl/Prefeitura de Alvorada

Viamão não alagou, mas ficou sem abastecimento

Já Viamão não sofreu com os estragos das enchentes, a exemplo das outras três cidades, mas foi castigada pela falta de água, uma vez que o município tem o sistema integrado de abastecimento com Alvorada. Boa parte da cidade foi atingida pelo desabastecimento, inclusive a prefeitura e todo o centro da cidade. Um dos principais supermercados das redondezas, por exemplo, chegou a suspender a venda de café passado por falta de água. “Foi horrível! Muitas pessoas não vieram à cidade, sabiam que não tinha água”, contou Álvaro Ribeiro da Silva, proprietário de uma lancheria no Centro, sobre os transtornos causados pela interrupção do serviço. O comerciante disse que, normalmente, gasta 100 litros de água por dia e que limitou o uso ao longo dos seis dias, inclusive orientando os clientes a procurarem banheiros públicos. Já a louça era lavada “com canequinha” com água das bombas que se obrigou a comprar. Silva reclamou que no verão também há desabastecimento. “Somos prejudicados, não há investimentos e o serviço é precário”, queixou-se o comerciante.

Dono de uma lancheria no centro de Viamão, o comerciante comprou bombas e economizou água nos seis dias. Ele diz que no verão também há problemas|Foto: Guilherme Santos/Sul21
Dono de uma lancheria no centro de Viamão, o comerciante Álvaro recorreu à compra de bombas. Ele diz que no verão também há problemas|Foto: Guilherme Santos/Sul21

Os bairros de Viamão também foram afetados com o desabastecimento. “Foi um sufoco”, resumiu a dona de casa Iara Tereza Cardoso da Rocha, moradora há 25 anos da Vila Viamópolis, sobre os seis dias sem água. Nesse período, ela comprou duas bombas de 20 litros e se socorreu de vizinhos que tinham caixa d’água para encher os baldes. Mas o líquido era racionado. Conforme Iara, durante esse período, ela não lavou roupa e o banho era de bacia. No verão, segundo ela, também há problema, porém o abastecimento não se prolonga por tanto tempo como ocorreu agora. “Sempre tem falta (de água) no calor”, acrescentou o tesoureiro da Associação de Moradores e Amigos de Viamópolis, Luiz Carlos de Almeida, ressaltando que a Corsan não resolve o problema, que é antigo.

Por conta da insatisfação com o serviço prestado pela empresa, o prefeito de Viamão, Valdir Bonatto (PSDB), foi à Justiça no começo de 2014. Ele reclamava, principalmente, da falta de água e de investimentos em saneamento básico. Agora, devido à interrupção do fornecimento, o prefeito enviou um ofício à direção da estatal com cópia ao Ministério Público, cobrando o imediato restabelecimento da água em Viamão. “A companhia está infringindo o princípio da eficiência, já que o desabastecimento de água se dá em decorrência das bombas de captação estarem submersas, fato considerado comum e previsível”, dizia um trecho do ofício enviado por Bonatto à direção da estatal. No documento, o chefe do Executivo ressaltou, ainda, que a Corsan poderia ter investido em tecnologia para evitar o problema, já que só na sua cidade teria faturado R$ 18 milhões de lucro em 2014. “A companhia é reincidente no desabastecimento de água em Viamão”, afirmou o prefeito.

Corsan promete investir R$ 22 milhões na Região Metropolitana

A empresa alega que essa enchente for maior em comparação à outra, ocorrida há 50 anos, quando a Corsan ainda não havia sido constituída. A estatal argumentou ainda que o nível máximo atingido pelo Rio Gravataí até hoje foi de 5,80 metros e que agora alcançou 6,80 metros, provocando o alagamento das estações de captação em Cachoeirinha e Alvorada. Por meio da assessoria de imprensa, a Corsan informou que está adotando medidas para que a interrupção do abastecimento não se repita em virtude de enchentes.

“Em Alvorada e Cachoeirinha, a companhia já está agindo de modo emergencial, por meio de diversas ações, como elevação, contenção e vedação de aberturas das duas estações de bombeamento atingidas nas enchentes, com a finalidade de não mais permitir o acesso de água em eventuais cheias”, diz um trecho da nota enviada ao Sul21. Como medida definitiva, segundo a empresa, os prédios serão elevados dois metros acima do nível atual. Especificamente em relação à Alvorada, a Corsan informou que buscará “alinhar-se” com o sistema de drenagem que está sendo desenvolvido pela prefeitura.

Já para garantir que não falte água neste verão nas cidades da Região Metropolitana, a estatal informou que está investindo R$ 22 milhões com o fim “de reforçar e readequar” a distribuição de água nos bairros de Gravataí abastecidos pela estação de tratamento de Cachoeirinha. As obras, segundo a companhia, contemplam a instalação “de quatro grupos moto-bomba e o assentamento de novas tubulações.”

Alvorada foi uma das cidades mais atingidas pelas enchentes da última semana. Mais de 11 mil pessoas foram afetadas|Foto: Charles Scholl/Prefeitura de Alvorada
Alvorada foi uma das cidades mais atingidas pelas enchentes da última semana. Mais de 11 mil pessoas foram afetadas|Foto: Charles Scholl/Prefeitura de Alvorada

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