Débora Fogliatto
Cemitério mais antigo do estado do Rio Grande do Sul ainda em atividade, com cerca de quarenta mil jazigos, o Cemitério da Santa Casa recebe nesta sexta-feira (13) uma visita guiada com ênfase na arte cemiterial. O evento será conduzido pela especialista em Educação e historiadora do Centro Histórico-Cultural Santa Casa Amanda Eltz e pelo doutor e mestre em História da Arte e especialista em Patrimônio Cultural José Francisco Alves. Devido à lotação, as inscrições já foram encerradas.
A visita, que acontece a partir das 19h, faz parte do Projeto Passeios pela Arte, que abrange diversas caminhadas, idas a monumentos, espaços públicos e até cidades. A iniciativa é desenvolvida pelo Atelier Livre do Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues e acontece em determinados momentos do ano. “O objetivo do projeto é realizar visitas guiadas em espaços abertos e poder contar sobre a arte contida neles, seus aspectos plásticos, de história da arte, curiosidades e necessidade de preservação e divulgação”, explica o professor José Francisco.
As visitas guiadas ao Cemitério já são parte da programação do Centro Histórico-Cultural Santa Casa, mas a proposta é realizar o passeio à noite e em uma data cheia de lendas e superstições: a sexta-feira 13. A ideia da visita noturna nesta data foi de José Francisco, em razão de experiências de visitas guiadas pelo pesquisador Francisco Queiroz em cemitérios do Porto, Portugal. “Com a noite, creio que muda um pouco as perspectivas de enfoque das esculturas, numa visão que não é possível se ter normalmente porque os cemitérios são fechados à noite”, avalia o professor.
A iniciativa é baseada em projetos do tipo que já existem em outras cidades, segundo a diretora do Atelier Livre, Miriam Tolpolar. “É o cemitério que mais tem arte na cidade, além de túmulos de muitas personalidades históricas, então tem muita coisa interessante para se ver lá. Tem uma estatuária muito interessante, inúmeros artistas que produziram monumentos”, afirmou ela, classificando como “verdadeiras obras” as esculturas do local. ” É um lugar muito interessante de ir com um especialista”.
A atividade irá abordar questões relacionadas à arte, arquitetura e as influências dos túmulos e mausoléus e alegorias do Cemitério com a história do Rio Grande do Sul. “Os estudos cemiteriais integram um campo interdisciplinar que envolve principalmente aspectos da arte, história e sociologia. A presença da arte em cemitérios varia de acordo com o uso que a arte e a arquitetura tiveram para uma determinada coletividade. Em Porto Alegre, a arte está ligada a um fenômeno que ocorreu principalmente entre 1900 e 1928, um boom estatuário, com a existência de uma industria cultural nesta área, pela qual os cemitérios também foram afetados”, relata o professor José Francisco.
Segundo José Francisco, há obras que são verdadeiros “monumentos públicos, dignos de figurarem em qualquer lugar de uma cidade, devido à sua monumentalidade e simbolismo, como os mausoléus frutos de concursos públicos”, como o túmulo do senador Pinheiro Machado (escultor Pinto do Couto, 1923), o túmulo do ex-governador Daltro Filho e o túmulo do político Maurício Cardoso (ambos de 1941, de Antônio Caringi).
Outras personalidades enterradas no cemitério, que existe desde 1850, são Manuel Marques de Sousa (1804-1875), conhecido como Conde de Porto Alegre; Júlio de Castilhos (1860-1903), político e jornalista; Teixeirinha (1927-1985), cantor e compositor; e Iberê Camargo (1914-1994), artista plástico. Há, ainda, muitas obras originais, específicas para determinados túmulos, bem como obras esculpidas em mármore de Carrara, importadas da Itália.
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