
Da Redação
Localizado às margens do Guaíba, a 32 quilômetros de Porto Alegre, a 20 minutos do aeroporto Salgado Filho, e de frente para duas BRs, a 116 e a 290, o município de Guaíba aposta nesta condição logística privilegiada para dar um salto em seu desenvolvimento nos próximos anos. Ao completar 89 anos de vida, a cidade deve dar um salto no ranking dos municípios que mais arrecadam, passando do atual 18º lugar para o 8º ou 7º lugar, em 2017, diz o prefeito Henrique Tavares (PTB). Em entrevista, o prefeito de Guaíba faz um balanço sobre o atual momento econômico do município e defende a atração de investimentos e geração de empregos como uma condição indispensável para aumentar a arrecadação e, assim, garantir os recursos necessários para os investimentos em saúde, educação e na melhoria da qualidade de vida da população.
Sul21: Guaíba acaba de completar 89 anos de vida. Como o senhor definiria o atual momento social e econômico do município e qual o perfil de cidade que Guaíba vem perseguindo?
Henrique Tavares: O nosso município desfruta de uma condição logística muito boa, possuindo grandes áreas disponíveis para desenvolvimento econômico. Uma das principais, de mais de 900 hectares, é aquela que estava destinada ao projeto da Ford e que hoje abriga um distrito industrial. Hoje, está instalado ali um centro de distribuição da Toyota, responsável por aproximadamente 60% da arrecadação do nosso ICMS, e, na mesma área, será instalada a unidade da Foton, a montadora de caminhões chinesa. No outro lado da BR temos um distrito industrial para pequenas empresas. Além disso, o município conta com empresas como a Engebasa, que fabrica as torres para os aerogeradores eólicos, e a CMPC (Celulose Riograndense), cuja duplicação foi muito importante para a cidade.
Hoje, Guaíba é o 18º município em arrecadação no Rio Grande do Sul. Com a duplicação da Celulose Riograndense, a partir de 2017, deveremos passar para o 8º ou 7º lugar em arrecadação de ICMS no Estado. No ano que vem já devemos passar para a 15ª posição. Ainda não estamos recebendo os retornos desses empreendimentos em termos do crescimento da arrecadação, pois isso demora certo tempo, mas a perspectiva para o futuro próximo é muito boa. Comparando com a maior parte dos municípios do Estado, nós estamos hoje em uma situação relativamente confortável, apesar dos problemas que viemos enfrentando com atraso de repasses federais e estaduais. Tivemos que usar muitos recursos próprios para suprir essas demandas.
Nós contratamos a UFRGS para fazer um plano estratégico de infraestrutura urbana. Temos uma grande preocupação com planejamento, especialmente na parte viária. Concluímos dois viadutos e estamos com um terceiro pronto que vai desviar da área central da cidade o acesso dos caminhões que vão para a CMPC.
No plano social, nós fizemos obras de drenagem pluvial, que muitas vezes os prefeitos não gostam de receber, cujos resultados estão aparecendo agora. Investimos R$ 18 milhões, com recursos federais, em obras na zona sul da cidade e no bairro Nova Guaíba, que eram locais onde qualquer chuva mais forte já provocava inundações. Tivemos uma ocasião em que um pouco mais de uma hora de chuva deixou mais de 200 casas alagadas. Essas obras tiveram um resultado muito positivo. Agora, com toda essa chuva que caiu, nenhum desses bairros teve problema de inundação. Estamos enfrentando um problema com a população ribeirinha, por conta da cheia do rio, mas são pontos localizados.

Sul21: Na comparação com o que está acontecendo com outros municípios da região, como Eldorado do Sul, por exemplo, Guaíba foi bem menos afetada pelas chuvas até aqui, então?
Henrique Tavares: Sim. Eldorado tem muita população ribeirinha. Nós estamos com um problema mais localizado numa área invadida, que pertence ao Instituto de Previdência do Estado (IPE). Mas nós temos que ir lá socorrer essas pessoas, pois elas também são munícipes. A maior parte dessas pessoas trabalha de biscates e estamos monitorando a situação delas. A nossa Defesa Civil está fazendo o monitoramento de toda a orla, mas aqui a situação está sob controle.
Nós realizamos também um trabalho de revitalização da orla do Guaíba durante o nosso governo. O surgimento do catamarã começou a trazer muitos turistas para a cidade, principalmente nos finais de semana. Nós temos aqui locais históricos importantes, como a casa de Gomes Jardim (um dos líderes da Revolução Farroupilha), que foi tombada e preservada, e o cipreste debaixo do qual os líderes farroupilhas tramaram a tomada de Porto Alegre. Nós temos um turismo histórico muito intenso nestes locais. Também há um mirante muito bonito do qual se pode observar toda Porto Alegre. A qualificação da nossa orla tem esse objetivo de receber bem os turistas, mas também é uma melhoria para a nossa população.
Sul21: Como a Prefeitura vem lidando com o impacto ambiental desse crescimento industrial intenso verificado nos últimos anos?
Henrique Tavares: Nós queremos crescer, mas queremos fazer isso com qualidade de vida. Nós tivemos muito cuidado neste sentido com as empresas que estão vindo para cá e já rechaçamos inclusive algumas delas por causa do potencial poluidor das mesmas. Com relação especificamente a CMPC, nós temos tido um cuidado muito grande. A Fepam tem uma estação aqui que mede a qualidade do ar diariamente e também a presença de poluentes no rio. A tecnologia se modernizou muito e essa questão da poluição na planta de celulose está muito bem monitorada. Nós temos acompanhado esse monitoramento feito pela Fepam e até aqui está tudo nos conformes. A empresa ainda passa por uma fase de ajustes e, de vez em quando, ainda emite alguns cheiros e o ruído ainda é meio alto em alguns momentos. A empresa pediu um período de seis meses para conseguir fazer os ajustes necessários para evitar esses problemas.
Sul21: Falando um pouco de futuro, o senhor poderia um ou dois conceitos que possam traduzir o perfil de cidade que Guaíba pode e deve ser, considerando a sua história e suas características atuais?
Henrique Tavares: Guaíba tem uma condição logística privilegiada. Fica próximo da capital, a cerca de 20 minutos do aeroporto, de frente para duas BRs, a 116 e a 290. Isso garante um potencial de crescimento muito grande, especialmente no setor industrial. Além disso, existe a possibilidade de termos um porto no Guaíba e uma plataforma logística. Esse porto estava previsto no projeto da Ford. Porto Alegre tem um porto mas não tem retro-área. Nós temos esse potencial e já uma área definida para isso. Estou chegando ao final do meu segundo mandato e acho que Guaíba está muito bem encaminhada para seguir se desenvolvendo. Para o município ter recursos para investir em saúde, educação e outras áreas, é preciso ter emprego e empresas que aumentem a arrecadação. Não tem outro jeito. Foi isso que a gente plantou.