
Nícolas Pasinato
A greve geral dos rodoviários em Porto Alegre se confirmou nesta quarta-feira (29). Desde o começo da manhã, os trabalhadores se concentram nas garagens das empresas de ônibus para impedir a saída dos coletivos. Cerca de um milhão de pessoas ficaram sem transporte público. A decisão da categoria foi tomada na terça-feira (28) ao final da reunião mediada pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que determinou a circulação de 70% da frota de ônibus nas ruas em horários de pico e de 30% nos demais horários, o que já vinha sendo cumprido.
Segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Júlio Pires, a decisão de greve geral se deu em razão da revolta dos trabalhadores com o resultado da reunião do TRT. “Já havia um acordo com o Ministério Público do Trabalho de cumprir os 30%. Agora, vem o (prefeito José) Fortunati e pede 70% da frota. Os trabalhadores se revoltaram”, justifica. Ao final da reunião de ontem, os motoristas e cobradores, que aguardavam em frente ao prédio do TRT, realizaram uma assembleia e alegaram que manter um volume maior de coletivos funcionando tiraria o sentido da greve da categoria.

Na manhã de hoje, havia uma significativa mobilização em frente às garagens das empresas. Na sede da Carris, além dos rodoviários, também estavam presentes integrantes do Bloco de Lutas e do CSP-Conlutas. Wenceslau Machado, integrante da comissão de negociação, afirma que cerca de mil pessoas passam pelo local ao longo do dia e há um revezamento entre os grevistas. Ele considerou a decisão da presidente em exercício do TRT, Ana Luiza Kruse, como autoritária.
Conforme Wenceslau e o presidente do Sindicato dos Rodoviários, as negociações com a classe patronal não avançaram em nenhum item. A categoria pede reajuste salarial de 14%, aumento de R$ 4 no vale-alimentação e manutenção do plano de saúde, entre outras reivindicações. Wenceslau revela que será apresentada uma proposta, em assembleia, que abdica de qualquer reajuste salarial, desde que seja aprovada a redução da jornada de trabalho dos rodoviários para 36h semanais.
“O que mais queremos é qualidade de vida. Trabalhamos cerca de 12 horas em função do deslocamento até o trabalho e temos apenas um dia de folga por semana”, diz Wenceslau. O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Júlio Pires, admite que essa proposta (da redução da jornada) pode ser avaliada, mas a prioridade, segundo ele, é aguardar alguma resposta do Sindicato das Empresas de Ônibus (Seopa) para depois negociar uma contraproposta.
CSP-Conlutas e Bloco de Lutas apoiam a greve

Presentes em frente à sede da Carris, integrantes do CSP-Conlutas do Estado e do Bloco de Lutas manifestaram o seu apoio a mobilização dos rodoviários. “É uma importante categoria com uma pauta significativa. As mulheres não tem auxílio creche, as condições de trabalho são ruins e não há um plano de saúde adequado. Os trabalhadores enfrentam doenças de trabalho como síndrome do pânico em função dos assaltos e problemas na coluna”, condena Andreia Ortiz, da coordenação do CSP-Conlutas do Rio Grande do Sul.
Cristian Nunes, do Coletivo Vamos à Luta e integrante do Bloco de Lutas, informa que haverá um protesto do grupo na próxima sexta-feira (31), tendo como uma das pautas o apoio a greve dos rodoviários. “Desde o ano passado, criamos uma unidade entre a classe trabalhadora e a juventude para avançarmos na luta pelo passe livre e por 100% do transporte público. Esperamos que o Fortunati pare de se aliar com as empresas e olhe para os trabalhadores, mas sabemos que as mudanças só ocorrerão com protestos e uma greve radicalizada como essa”, declara.
EPTC fiscaliza transportes clandestinos
No primeiro dia de greve geral, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) afirma que a equipe está priorizando o aumento de frotas de veículos em circulação. Além disso, está monitorando os transportes clandestinos para não ocorrer abusos. “Não podemos permitir que o cidadão fique desprotegido com transportes inseguros. Há muitos veículos colocando cartazes com o preço da tarifa, o que é ilegal. Não estamos cassando esse tipo de transporte, mas estamos cuidando para que eles não se tornem um risco para a população”, afirma o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari.
Conforme Cappellari, a prefeitura espera que o judiciário tome medidas necessárias para o descumprimento da decisão judicial por parte dos rodoviários, uma vez que não estão respeitando o serviço mínimo previsto. “Esperamos que além das multas o judiciário tome providências”, declarou.
Lojas da Capital já apresentam 25% de queda em vendas desde o início da greve

Levantamento realizado pelo Sindilojas Porto Alegre na manhã desta quarta-feira (29) com lojistas de diversas regiões da Capital aponta prejuízo em vendas, baixo fluxo de clientes e dificuldades para os funcionários chegarem ao trabalho.
A média de redução nas vendas já chega a 25% e deve cair mais no final do dia de hoje. O impacto no resultado do mês pode chegar a 50%. De acordo com os lojistas consultados, há funcionários que não conseguiram chegar às lojas e há aqueles que utilizaram táxi, dividindo a despesa com colegas.
Para Ronaldo Sielichow, presidente do Sindilojas Porto Alegre, a ação de retirar todos os ônibus das ruas torna a greve inconstitucional e afeta negativamente toda a economia da cidade. “Não é só o comércio que perde, mas sim a população e os trabalhadores. Não podemos ficar dependentes de uma categoria para que a cidade funcione. Repudiamos este movimento que tira o direito de ir e vir do cidadão e solicitamos que as autoridades sejam ágeis e eficientes na resolução desta questão”, afirma.