
Nícolas Pasinato
Nesta quinta-feira (30), 20 ônibus tiveram vidros quebrados e um sofreu princípio de incêndio ao saírem da garagem da empresa Sudeste, em Porto Alegre. Após três dias do início da greve dos rodoviários, alguns coletivos voltaram a circular na cidade. De acordo com a EPTC, foram disponibilizados na manhã de hoje 205 veículos, o que equivale a 14% do total da frota para o horário. A maioria das linhas que circularam (196) pertencem ao consórcio Unibus, que atende a zona Leste da cidade.
Na empresa Sudeste, 70% da frota (92 veículos) foram para as ruas da Capital, respeitando a determinação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Segundo Leandro Piedade Rosa, funcionário da Sudeste e integrante da comissão de negociação, os veículos só estão circulando porque os funcionários, especialmente os mais jovens, foram ameaçados de serem demitidos por justa causa.”Os guris estão apavorados. Estão há oito meses praticando na escolinha (treinamento dos cobradores para se tornarem motoristas). Receberam enorme pressão da chefia”, diz ele.
Rosa demonstra ainda preocupação com os seus colegas, pois não vê segurança garantida ao saírem da garagem. Em poucos minutos, o Sul21 pode flagrar ao menos três ônibus com vidros quebrados e um com tinta no para-brisa e uma pichação dizendo “passe livre já”. “Estamos com medo do que possa acontecer com os colegas. Não há segurança. O povo está indignado”, diz Rosa.
Anderson Gomes, integrante da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) da Sudeste, afirma que a empresa não está interessada na segurança dos rodoviários e dos usuários. “Outras empresas tiveram essa consciência e seguraram os coletivos”, diz. Reginaldo Sanhudo Poncio, delegado sindical da Sudeste, relata que estava no local no momento em que os coletivos começaram a sair da garagem e confirma a coação por parte da empresa. “Eles falaram que os brigadianos estavam aqui e, por isso, ninguém poderia barrar, caso contrário, seria demitido por justa causa”, conta.

Celso Bueno, gestor do setor de operação da Sudeste, garante que não houve ameaça. “Quem saiu foi por vontade própria”, declara. Questionado se a empresa não se preocupou com a segurança de seus funcionários antes de permitir a saída dos veículos, ele diz que a empresa cumpriu a determinação da justiça e que não imaginava eventos de depredação de ônibus. “Largamos os ônibus com o apoio da segurança pública”, afirma.
Os rodoviários, concentrados em frente à Sudeste na manhã de hoje, demonstraram descontentamento com a desembargadora Ana Luiza Heineck Kruse, do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS), a qual consideram ter posturas ‘ditatoriais’, e com o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati. “Estávamos realizando uma greve legal. Seguindo à risca os 30% e vem a prefeitura e o TRT exigir 70%. Isso não é greve”, reclamou um dos rodoviários.
Os rodoviários pedem reajuste de 14%, aumento de R$ 4 no vale-alimentação, manutenção do plano de saúde e melhoria nas condições de trabalho, entre outras pautas.