

Samir Oliveira
Em assembleia com mais de 200 pessoas na tarde desta terça-feira (28), o Bloco de Luta pelo Transporte Público decidiu que realizará um protesto na sexta-feira (31), às 18h, em frente à prefeitura de Porto Alegre. O ato terá como eixo central o apoio à greve dos rodoviários – que teve início na segunda-feira (27).
Na avaliação dos integrantes do Bloco, a greve é histórica e está, inclusive, atritando a relação entre os empresários que operam o transporte público e a prefeitura. Na terça-feira, o governo municipal ingressou com ação na Justiça, determinando que os grevistas operassem com 70% da frota em horário de pico. A ação foi acatada, o que revoltou os rodoviários e fez com que decidissem, em assembleia, paralisar 100% dos ônibus – até o momento, mantinham 30% da frota em operação, conforme determina a legislação, por se tratar de um serviço de necessidade pública.
Com a decisão, a categoria assume o ônus de pagar uma multa diária por descumprimento da ordem judicial. Nesta quarta-feira, nenhum ônibus circulou pela cidade.
A assembleia do Bloco contou com a presença dos grevistas. “Debatemos o apoio e a solidariedade à luta dos rodoviários. Fazemos um chamado à população para que possamos criar a mobilização necessária para enfraquecer os empresários. As lutas pelo reajuste de 14% aos trabalhadores, contra o aumento da passagem e pelo passe livre são lutas por um transporte 100% público”, afirma Rodrigo Brizolla, militante do Bloco e integrante do Movimento Autônomo Utopia e Luta.
Para Matheus Gomes, que integra o Bloco e milita na Juventude do PSTU, a greve “deu uma dinâmica interessante à mobilização” do Bloco de Lutas e está deixando a prefeitura em uma sinuca de bico. “A prefeitura está tendo uma linha muito perigosa, isso pode ser um tiro no pé. A prefeitura está numa sinuca de bico, porque tem comprometimento muito forte com empresários”, afirma.
Durante esta quarta-feira (29), em entrevista às rádios Gaúcha e Guaíba, o prefeito José Fortunati (PDT) disse que a prefeitura só pode recorrer à Justiça e cobrou “bom senso” dos empresários e dos trabalhadores rodoviários para que haja um acordo e o fim da greve. Para Matheus Gomes, as declarações do prefeito demonstram “muito descontrole e instabilidade”. Já Rodrigo Brizolla sugere que, se Fortunati não encontra soluções para a situação, deve renunciar. “Entendemos que o transporte público é uma concessão e o poder público tem a autoridade para regulá-la. Se a prefeitura está de mãos atadas, como tem afirmado, que o prefeito renuncie. Queremos uma clara posição de qual a relação que a prefeitura tem com os empresários do transporte”, cobra.
Nas redes sociais, o Bloco de Luta tem orientado a população a ligar para a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) – que reúne os empresários do setor – e para a prefeitura de Porto Alegre para cobrar o atendimento às reivindicações dos trabalhadores.
Confira a íntegra da nota divulgada pelo Bloco de Luta em conjunto com o comando de greve dos rodoviários
NOTA CONJUNTA DO BLOCO DE LUTA E DO COMANDO DE GREVE DOS RODOVIÁRIOS
O BLOCO DE LUTA PELO TRANSPORTE PÚBLICO e o COMANDO DE GREVE DOS RODOVIÁRIOS estão juntos na luta por um novo modelo de transporte na cidade. Desde o início de 2013, o Bloco vem construindo uma aliança com os rodoviários, e agora, na primeira grande greve de 2014, reforçamos nossa unidade.
– Por aumento de salário, redução da jornada e melhores condições de trabalho sem reajuste da passagem: que os 14% de aumento reivindicado pelos rodoviários saiam do lucro abusivo dos empresários. Ao contrário do que diz a grande mídia e o prefeito, que tentam incitar a população contra os rodoviários, NÃO HÁ CONFLITO DE INTERESSE ENTRE O BLOCO DE LUTA E OS TRABALHADORES. O lucro das empresas possibilita a concessão de aumento aos trabalhadores sem aumento da tarifa aos usuários.
– Por um transporte 100% público: para transformar o modelo de transporte na cidade é preciso lutar para tirá-lo da mão dos empresários. A lógica empresarial é contrária ao interesse coletivo.
Todos nós, usuários do transporte coletivo, somos afetados de alguma forma pela greve. Sabemos que essa situação só existe por culpa dos patrões e do governo. O apoio da população é fundamental para que essas transformações aconteçam. Inclusive, os rodoviários propuseram rodar com a roleta liberada durante a greve!
Enquanto bilhões de reais são gastos para a realização de megaeventos, faltam recursos para o transporte público e outros serviços básicos.
Greve não é crime, é direito. O ano de 2014 começou com forte repressão policial às mobilizações sociais em todo país – em São Paulo um jovem foi baleado e segue em estado grave, em Joinville dois membros do Movimento Passe Livre foram presos arbitrariamente, e aqui em Porto Alegre 7 foram detidos no último ato do Bloco. Não aceitamos nenhum tipo de repressão e criminalização às lutas sociais.
POR UM TRANSPORTE EFICIENTE E ACESSÍVEL, PARTICIPE DESTA LUTA!
PROTESTO NÃO É CRIME!
QUE OS RICOS PAGUEM A CONTA!
Porto Alegre, 28 de janeiro de 2014,
Bloco de Luta Pelo Transporte Público e Comando de Greve dos Rodoviários