
Da Redação
Um imóvel histórico do século XIX que agoniza há anos na rua General Osório, no centro histórico de Novo Hamburgo, receberá uma intervenção promovida pela comunidade. Na manhã desta sexta-feira (17), ativistas irão pintar as fachadas do casarão com a intenção de resgatar o potencial do edifício e pressionar o poder público municipal a iniciar um processo de revitalização.
O imóvel, que data de meados de 1895, pertencia originalmente a Carl e Elisabetha Engel, funcionando como um ateliê de malas e artigos de couro. Sua arquitetura é representativa do desenvolvimento econômico e social de Novo Hamburgo. A casa seguiu funcionando como ponto comercial até meados dos anos 1990, quando foi adquirida pelo arquiteto Aloísio Daudt com a finalidade de preservação e restauração. “O arquiteto fez alguns reparos conforme conseguia, mas infelizmente enfrentou problemas – inclusive com locatários que ocupavam parte do prédio. Por fim, os anos passaram e ele não conseguiu viabilizar a restauração do imóvel como desejava.” conta Jorge Luís Stocker Jr., integrante OSCIP Defender – Defesa Civil do Patrimônio Histórico.
A degradação do imóvel acelerou-se no ano passado, com o desabamento parcial da cobertura e desmoronamento de um oitão lateral. O estado de conservação precário torna, segundo laudo emitido pelo IPHAE-RS, urgente a necessidade de escoramento para assegurar a preservação da originalidade do imóvel.
Ação pretende marcar a importância da casa na paisagem

Com o objetivo de demonstrar a mobilização da sociedade pela preservação desta casa e desassociar a imagem negativa que o aspecto de seu arruinamento traz para a rua, ativistas do Coletivo Consciência Coletiva e da Defender pretendem realizar de forma voluntária a pintura de uma parte da fachada. “A casa Engel Grünn destaca-se hoje na rua negativamente, pelo seu aspecto decadente. Queremos resgatar a importância da sua presença na paisagem, como um dos exemplares mais belos e sensíveis da arquitetura de Novo Hamburgo” comenta o artista Alexandre Reis, um dos idealizadores da ação.
O estudante de arquitetura e urbanismo Jorge Luís Stocker Júnior frisa que “a residência é única no contexto do município. Apesar de seu mal estado de conservação, é uma das casas mais bem preservadas em termos de originalidade. Seu valor cultural é inestimável”, avalia.
Mobilização por restauração começou em 2012
No ano de 2012, após uma reunião aberta realizada no bairro de Hamburgo Velho com participação da comunidade, delegados da Defender levaram para a secretaria de cultura do município alguns dos problemas discutidos. Entre eles, o problema emergencial da Casa Engel-Grünn (também conhecida como casa Daudt em referência ao atual proprietário). Em seguida, participaram de reuniões com a Comissão de Patrimônio Cultural e Natural, levantando a mesma pauta constantemente.
Ainda em 2012, a residência ilustrou o convite para o I Fórum Patrimônio Cultural e Paisagem Urbana de Novo Hamburgo: Ontem, Hoje e Amanhã. O problema foi discutido durante o evento, gerando alguns dos consensos descritos na Carta de Novo Hamburgo.

As mobilizações se intensificam em 2013, com a degradação do prédio cada vez mais acelerada. No mês de setembro, foi promovido um abraço simbólico do prédio pela Defender e pelo Coletivo Consciência Coletiva. A campanha foi estendida às ruas da cidade através de placas alusivas ao problema dentro da campanha SOS Patrimônio Cultural. “Solicitamos o tombamento e valorização do imóvel histórico, por entendermos que o tombamento abre caminhos para viabilizar sua recuperação através de projeto cultural via Leis de incentivo a cultura” completa Alexandre.
Perspectiva de recuperação
Apesar das iniciativas, a situação de decomposição do imóvel permanecia. Em 2013, a Defender acionou o Ministério Público Estadual e foi aberto um inquérito sobre o caso na Defesa Comunitária do MP em Novo Hamburgo. O expediente gerou a ação civil pública 019/1.13.0022564-2, demandando ações urgentes para a preservação do imóvel histórico. A primeira decisão judicial determina que, como restou comprovada a incapacidade financeira do proprietário para recuperação do imóvel, o Município de Novo Hamburgo deve apresentar um projeto viável de restauração em um prazo de 30 dias.
“Nosso primeiro problema foi obter o reconhecimento do problema, já que todos com quem conversávamos davam o caso por perdido. ” – comenta Jorge Luís Stocker Jr., delegado da Defender. “Obtivemos o reconhecimento do IPHAE-RS do valor cultural da edificação, bem como da própria sociedade que tem participado de toda a mobilização pela sua preservação. Ficamos satisfeitos com o apoio do MP e a resposta positiva do judiciário”.
Com informações da Defender – Defesa Civil do Patrimônio Histórico.