
O primeiro embate entre os candidatos ao governo do Estado ocorreu na noite de domingo (6), dia da largada da campanha eleitoral. Promovido pela Rádio Gaúcha, o debate reuniu os oito concorrentes ao Piratini: Ana Amélia Lemos (PP), Edison Estivalete Bilhalva (PRTB), Humberto Carvalho (PCB), João Carlos Rodrigues (PMN), José Ivo Sartori (PMDB), Roberto Robaina (PSOL), Tarso Genro (PT) e Vieira da Cunha (PDT). Foram duas horas e meia de discussão.
No primeiro bloco, os candidatos fizeram perguntas entre si. Por sorteio, Ana Amélia Lemos foi a primeira a perguntar e escolheu Vieira da Cunha para questioná-lo sobre sua proposta para melhorar a educação, que ocupa o 8º lugar no país. Em resposta, o trabalhista disse que a educação é “a prioridade das prioridades” e que irá retomar o programa de escola integral para qualificar o ensino público e irá se esforçar para pagar o piso do magistério. A progressista aproveitou para afirmar que o tema é um dos mais “relevantes” do seu programa de governo e se comprometeu em honrar o reajuste que o atual governo concedeu aos professores.
Vieira x Tarso
Em seguida, Vieira perguntou ao governador Tarso Genro sobre como reverter a situação da dívida do Estado com a União que, segundo ele, compromete 13% da receita líquida. Tarso, como fez em outros blocos aproveitou para se defender de críticas ao seu governo e para enumerar suas realizações. Afirmou que concedeu um reajuste de 76,6% aos professores para que nenhum deles receba menos que o piso nacional. Ele também disse que sua gestão buscou alternativas por meio de financiamentos e de recursos federais, que permitiram ampliar projetos sociais, e destacou o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) na área econômica. “Não podemos usar a dívida como desculpa”, acrescentou o petista. Vieira contra-atacou ao afirmar “que estou achando vossa Excelência muito conformado com essa situação”, uma vez que o Estado está conseguindo investir só 5% devido à dívida. O trabalhista também criticou a situação do Presídio Central: “Como gaúcho, me sinto envergonhado. É uma situação insustentável”. Tarso, então, devolveu: “Nós estamos pagando as vergonhas que herdamos de governos anteriores”, acrescentando que os presos já estão sendo transferidos para outras penitenciárias.
Na sequência, o governador perguntou a José Ivo Sartori. Quis saber dele a posição sobre programas sociais, como “Água mais Renda”, Plano Safra, Pronatec, implantados por sua gestão. Antes de responder, o peemedebista aproveitou para se apresentar ao eleitor fazendo um breve relato de sua trajetória de vereador, passando por deputado estadual e federal até ser prefeito de Caxias do Sul. Ele afirmou que há “um sentimento de mudança não só no Estado, mas no país.” Sobre os programas, afirmou: “O senhor (governador) sempre teve nossa colaboração”, fazendo a ressalva que talvez não em todas as iniciativas, uma vez que a prefeitura tinha suas próprias ações. O governador aproveitou novamente para falar sobre as medidas tomadas para resolver a dívida e dos financiamentos que permitiram investimentos. Para finalizar os comentários sobre a pergunta e a resposta, Sartori destacou os programas implantados por ele em Caxias como o policiamento comunitário, e afirmou, o que repetiria outras vezes durante o debate, que “o meu partido é o Rio Grande”.
Robaina ataca Ana Amélia e Tarso
O próximo questionamento foi feito por Sartori a Robaina sobre as manifestações realizadas pelo país no ano passado. Primeiro, o representante do PSOL se solidarizou com os atingidos pelas enchentes no Estado. Depois, ele partiu para o ataque, ao afirmar que o modelo defendido pela senadora Ana Amélia é “reacionário”, e é o mesmo implantado pela ex-governadora Yeda Crusius (PSDB). Já o de Tarso Genro, segundo ele, “é o modelo do continuísmo” e pode levar ao “retrocesso econômico e social”. Robaina acrescentou que o PSOL é a alternativa para as causas defendidas nas manifestações e “que temos orgulho” pelo pioneirismo dos protestos, que partiram do Estado para o Brasil. No comentário, Sartori opinou que “democracia representativa e democracia participativa não são excludentes” e garantiu que não prometerá o que não poderá realizar, em caso de ser eleito.

Robaina x Ana Amélia
Depois de responder, foi a vez de Robaina perguntar. Ele escolheu a senadora a Ana Amélia e quis saber sobre a proposta dela para administrar o Estado, reafirmando que seu projeto é o mesmo da ex-governadora Yeda. Em resposta, a progressista disse que não se deve fazer um debate ideológico e que hoje a divisão se dá “entre rápidos e lerdos”. “Não se pode radicalizar para um lado ou para outro, meu compromisso é de seriedade. A população quer saber de melhorias, isso não tem nada de ideologia”, devolveu ela.
Pilchado para enaltecer os valores do Rio Grande do Sul, o militar da reserva Edison Estivalete Bilhalva questionou o candidato do PMN sobre como resolver os problemas na saúde. João Carlos Rodrigues disse que “temos de investir de forma maciça, de forma organizada e coerente nos hospitais”. O militar, então, aproveitou no comentário da resposta para convocar militantes para aderir ao seu partido, PRTB, irem para as filas de postos de saúde e de hospitais e ajudarem a identificar os problemas na área.
Rodrigues, por sua vez, questionou Humberto Carvalho sobre a proposta dele para a segurança. Em resposta, o comunista disse que tem “uma visão diferenciada”, da maioria dos gestores públicos sobre o tema. Disse que a segurança tem ser de agir não para reprimir, mas, sim, “para garantir o direito das pessoas”, criticando a atuação da policia nas manifestações. Rodrigues destacou que a segurança tem de ser melhorada associada à educação.
Para encerrar o primeiro bloco, que teve duração de quase uma hora, Carvalho perguntou a Estivalete sobre a proposta dele para resolver a dívida do Estado. O candidato do PRTB defendeu alíquotas iguais entre os Estados para facilitar os investimentos e o uso dos royalties do pré-sal para repactuar a dívida.
Temas específicos no 2º bloco
Infraestrutura – No segundo bloco, as perguntas foram feitas pela coordenação do debate com temas específicos. Tanto o assunto quanto o candidato para respondê-lo foram definidos por sorteio. Infraestrutura foi o primeiro tema abordado com o questionamento sobre parcerias público-privadas ou outra alternativa para melhorar as estradas. Escolhido para dar a resposta, Robaina lembrou que as manifestações exigiam transporte de qualidade e se deteve no problema da dívida do Estado fazendo um histórico da situação. Defendeu, ainda, uma “auditoria”.
Segurança – Segurança pública foi o próximo assunto envolvendo a proposta de policiamento ostensivo e as regiões que seriam priorizadas pelo candidato. Coube a Sartori responder. Ele disse que a questão “preocupa as famílias” e que segurança não é só efetivo, mas também a integração dos órgãos da área. “É preciso organização, efetivo, vontade política e investimentos”, concluiu o peemedebista.
Impostos – Na sequência, o questionamento foi sobre a possibilidade de aumento de impostos para resolver o problema das finanças. Em resposta, Ana Amélia afirmou que “o gaúcho não tem mais condições de suportar a carga tributária”. Ela prometeu diminuir parte das 24 secretarias e “reduzir drasticamente” os 4 mil cargos em comissão que, segunda ela, o governo possui, com a implantação de “um Estado eficiente”.
Aposentadorias – A possibilidade de elevar a contribuição das aposentadorias para amenizar o déficit foi colocada ao candidato do PMN. Rodrigues destacou que não é possível criar novos tributos nem aumentar contribuições. A solução, conforme ele, é evitar gastos sem necessidade como em publicidade.
Saúde – A saúde também foi outro tema que pautou o segundo bloco do debate quanto às alternativas para resolver a superlotação em hospitais e garantir consultas com especialistas. Escolhido para responder o questionamento, o governador Tarso aproveitou para destacar números de sua gestão, afirmando que o Estado vive “um momento excepcional” com um PIB de 7.3% e uma safra de 30 milhões de toneladas. Sobre a saúde, ele enfatizou que as medidas estão sendo tomadas para melhorar o atendimento e uma delas é a garantia, pela primeira vez, de 12% do orçamento para a área, além de repasses feitos aos hospitais.
Pedágios – Sobre o modelo ideal para melhorias nas estradas com pedágios e parcerias com concessionárias, o candidato do PRTB falou sobre “velhos partidos, velhos problemas” e afirmou que manterá a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR).
Brigada Militar – Quanto à postura da Brigada Militar em protestos com depredação de patrimônio, coube a Vieira responder: “Uma coisa é manifestação, sou da geração que lutou contra ditadura sem máscaras, sem depredação. Manifestação sim, depredação não. A Brigada tem de cumprir sua função e tem reprimir o dilapidador”.
Piso nacional – O pagamento do piso do magistério com a possibilidade ou não de mexer no plano de carreira encerrou o bloco de temas específicos. Escolhido no sorteio, o candidato do PCB afirmou que não concorda com o fato de um professor precisar de quatro contratos para conseguir se manter. O ideal, segundo ele, é o professor ter um turno para dar aulas e outro para planejar o trabalho, corrigir provas e atender aos alunos. Sobre o piso, o comunista prometeu cumprir integralmente.
Mais perguntas entre candidatos
O terceiro bloco repetiu o formato do primeiro com perguntas entre os candidatos. O representante do PMN abriu a rodada e questionou a senadora Ana Amélia sobre a proposta dela para educação. A progressista disse que foi egressa de escola pública e que a valorização dos professores está entre as prioridades. Também prometeu investir no ensino técnico, por meio de parcerias, e para erradicar o analfabetismo. Já a senadora quis saber de Sartori sobre alternativas para arcar com os custos da Saúde, que vem onerando os municípios. Em resposta, Sartori enfatizou que o problema não se resolverá sem “uma efetiva participação do governo federal, Estados e municípios”. Ele defendeu, ainda, um “pacto federativo justo”.
Sartori, por sua vez, pediu a Vieira uma avaliação dos serviços públicos prestados pelo Estado. O pedetista disse que os protestos “foram uma demonstração da insatisfação com os serviços”. Ele afirmou, ainda, que as ”reclamações são generalizadas em todas as áreas, principalmente em infraestrutura”. Para investir nas estradas, Vieira prometeu fazer parcerias público-privadas, porém, diferente do modelo implantado pelo ex-governador Antônio Britto, que, segundo o pedetista, “era exploração”.
PT e PDT juntos e misturados
Antes de perguntar novamente, Vieira lembrou o governador Tarso de que ele assinou a lei do piso dos professores quando era ministro da Educação e não pagou. Depois o pedetista o questionou o fato de o governador afirmar que Estado está bem e, ao mesmo tempo, precisar fazer saques milionários, como dos depósitos judiciais. Ao responder, o governador esclareceu que “não é o Tarso Genro que está colocando a mão”, mas, sim, o Estado para resolver mazelas, justamente, apontadas pelo trabalhista. Tarso lembrou, ainda, que o PDT participou de sua gestão até bem pouco tempo e ajudou a trabalhar na reestruturação da dívida. Descontraído, o governador aproveitou para convidar a sigla a retornar à sua administração caso seja reeleito, mas se Vieira vencer a eleição, brincou que quer o PT na sua administração.
Na sequência, Tarso quis perguntar a Ana Amélia, mas pelas regras do debate não poderia, já que a progressista havia respondido a outro candidato. “Estou de azar”, brincou o governador, uma vez que tinha tentado perguntar no primeiro bloco e não foi permitido. No entanto, o mediador, jornalista Daniel Scola, pediu desculpas a Tarso pelo equívoco da coordenação do debate, já que no primeiro bloco ele poderia ter feito o questionamento à senadora. O governador, então, aproveitou para lembrar que a adversária o ajudou na mobilização pelo projeto de mudança do indexador da dívida no Congresso.

Restou a Tarso questionar Robaina sobre a posição dele sobre a reestruturação do Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul (Fundopen). Em resposta, o candidato do PSOL fez críticas ao governo petista sobre o número elevado de analfabetos, de pessoas que esperam por atendimento de média complexidade e sem moradia de qualidade. O petista reconheceu que o Rio Grande do Sul tem problemas, “mas não quer dizer que o Estado não está melhorando”. Para finalizar, Robaina criticou o governo federal por “gastar milhões” com a Copa, ao invés de investir na construção de hospitais.
Capitalismo x socialismo
Já Robaina quis saber do candidato do PCB sobre sua proposta para a educação. Em resposta, Carvalho aproveitou para explicar que seu partido não integra a Frente de Esquerda, “porque estamos em campanha taticamente diferente”. Ele defendeu, ainda, a luta contra o capitalismo e a favor do socialismo. Na sequência, Robaina pregou um pacto com professores e funcionários para melhorar a educação, um plano para erradicar o analfabetismo e dobrar o orçamento da UERGS.

Carvalho, por sua vez, perguntou ao candidato do PMN sobre segurança do trabalhador. Rodrigues disse que a solução para evitar acidentes não é só do governador, mas também da sociedade. Rodrigues encerrou o bloco de perguntas entre os concorrentes. Ele questionou Estivalete em relação aos problemas da segurança. Na resposta, o militar destacou que “não precisamos de um padrão FIFA, só precisamos de um padrão polícia gaúcha” com valorização dos policiais, bombeiros e servidores da Susepe.
Considerações finais
As considerações finais encerraram o debate. Também por sorteio, foi definida a ordem dos candidatos fazerem a despedida. Sartori abriu o bloco. O peemedebista afirmou que quer “governador para todos, não só para um partido” e contribuir para o desenvolvimento do Estado. Já Vieira afirmou que adotará uma postura crítica, mas também propositiva na campanha eleitoral. Candidato do PCB, Carvalho aproveitou para afirmar que “as aspirações populares” não são as dos políticos e voltou a criticar a atuação da polícia em manifestações.
Ana Amélia, por sua vez, se disse honrada com o desafio concorrer ao Piratini e reafirmou a defesa de um Estado “de transparência, eficiente e mais enxuto.” Já Robaina disse que o PSOL está numa “luta difícil” por enfrentar, conforme ele, grupos econômicos e políticos que dominam o país. Candidato do PMN, Rodrigues prometeu ter na sua equipe secretários que terão de matricular seus filhos em escolas públicas para valorizar o ensino gratuito. Estivalete, do PRTB, pregou lutar por “um Rio Grande de Valor”. Tarso encerrou o bloco e aproveitou para responder críticas feitas pelos candidatos ao longo do debate. Disse, por exemplo, que o ex-governador Olívio Dutra entrou na Justiça conta a dívida e que foi derrotado no Supremo Tribunal Federal (STF).