Ernesto Velásquez
Uma das mais belas vistas de Porto Alegre foi palco na manhã desta segunda-feira (12) de um grande movimento em prol da comunicação pública. No Abraço à Fundação Piratini, entidade que congrega a TVE e a FM Cultura, o Morro Santa Teresa recebeu centenas de pessoas entre servidores da entidade, músicos, atores, cineastas, funcionários de outras fundações ameaçadas de extinção pelo Governo do Estado, além de ouvintes e telespectadores dos veículos.
Jornalistas também marcaram presença para prestar solidariedade à comunicação pública do Estado. “Eu acho que o projeto de destruição da TVE não é só um projeto de ajuste, mas é um projeto de destruição da diversidade. Destruir a TVE e a FM Cultura é atingir a pluralidade no jornalismo e na comunicação. Eu defendo a manutenção destas estruturas para o bem do público, não é para o bem das pessoas que estão lá, é também, mas é muito mais em nome do público que depende desta diversidade”, afirmou o jornalista Moisés Mendes, em meio ao som de tubas e trombones de músicos da Ospa, que foram prestar seu apoio à Fundação Piratini.
Moisés Mendes ressaltou ainda que hoje a comunicação privada está baseada no entretenimento, e que a comunicação pública faz um contraponto necessário a este modelo. “A TVE e a FM Cultura cumprem uma tarefa de periferia, e isto é um elogio que faço, de cobertura de eventos, de pessoas de expressão da cidade, de artistas que não têm cobertura na mídia tradicional. O que é uma função da televisão europeia, por exemplo. A TV privada não tem interesse em cobrir atividades culturais que não atuem em nome do lucro”.
Mesmo com o ato marcado para as 10h da manhã, por volta das nove horas já havia pessoas se concentrando em frente à Fundação Piratini. Às 11h, todos se uniram e deram um abraço simbólico no pórtico de entrada da entidade. Depois os manifestantes ingressaram no pátio da fundação aos gritos de “A TV é nossa”, “A Rádio é nossa” e “Ão, ão, ão, diga não à extinção”. Depois de entrarem, todos se deram as mãos numa corrente que preencheu todo o estacionamento da Fundação Piratini.
Em seguida, unidos em roda, falaram representantes da fundação, e de outras fundações, bem como políticos, artistas e integrantes de movimentos da sociedade civil, como Mariana Baierle e Rafael Braz, da Associação dos Cegos do Rio Grande do Sul. Eles relataram que TVE e a FM Cultura sempre estiveram abertos às pautas das pessoas com deficiência e que dez entidades que representam as pessoas com deficiência já publicaram notas de apoio à Fundação Piratini, como o Conselho Estadual e o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Para o músico Beto Chedid, do grupo Xaxados e Perdidos, afirma que a Fundação Piratini tem os únicos veículos que dão espaço à cultura feita pelos artistas gaúchos. “Sabemos da alegada calamidade financeira, mas temos dados para contrapor: os 9 bilhões em isenções fiscais, 6 bilhões em sonegação. Querer fazer economia com órgãos que representam 160 milhões (orçamento somado de todas as entidades ameaçadas de extinção), não chega nem perto dos valores de onde deveria ser feita a economia mesmo. E isto vai ser uma perda de entidades estratégicas para o desenvolvimento do Estado e para a economia criativa, onde muitas pessoas trabalham com recursos mínimos do Estado. Se terminar isto, vai ter mais pessoas desempregadas, vai ter menos espaço de produção local. Vai multiplicar os problemas, sem amenizar a crise”.
Alexandre Leboutte, integrante do Movimento dos Servidores da TVE e FM Cultura, avalia que a adesão ao Abraço à Fundação Piratini mostra a importância da preservação dos veículos. “São centenas de pessoas em plena segunda-feira pela manhã, e de diversos segmentos da sociedade, o que dá conta da diversidade presente na programação dos dois veículos”.
