
Luís Eduardo Gomes
Centenas de pessoas se reuniram na manhã desta quarta-feira (14) para realizar um abraço à Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), uma das nove fundações estaduais ameaçadas de extinção pelo mais recente pacote de ajuste fiscal do governo de José Ivo Sartori (PMDB). Aos trabalhadores da própria entidade, se uniram funcionários de outras fundações e empresas estatais ameaçadas de extinção e deputados estaduais contrários ao pacote.
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Localizada na Rua Washington Luís, no Centro de Porto Alegre, a Cientec foi abraçada simbolicamente por volta das 10h, quando dezenas de manifestantes cercaram o perímetro de cerca de 1 km das instalações da fundação para protestar contra sua extinção.
Presidente da Associação de Funcionários da Cientec, o químico e auxiliar de pesquisas Claudiomiro de Souza Machado classificou o projeto como uma “farsa” por não discutir nem com a sociedade nem com os funcionários das fundações as razões para a extinção, tendo focado apenas na questão financeira que, mesmo assim, não levaria em conta a realidade das instituições.
“A Fundação tem como função principal ser o laboratório oficial do Estado e recebe recursos das instituições de pesquisa, como o CNPq e outras, e qualquer outro órgão de governo não recebe esses recursos. Nossos laboratórios todos foram reequipados com dinheiro que vem do CNPq e da Finep”, diz, acrescentando que hoje a Cientec tem laboratórios “de ponta” em áreas como química e alimentos graças a estes recursos.
Machado ainda ponderou que mesmo com a extinção da Cientec o governo não poderá demitir os 215 funcionários do quadro da entidade por se tratarem de trabalhadores com estabilidade. “Se for extinta a Cientec, não haverá economia, porque todos os funcionários têm estabilidade por terem entrado por concurso”, afirma.
Por outro lado, salientou que, apenas em 2016, os trabalhos realizados pela Cientec já trouxeram aos cofres públicos R$ 12 milhões. “Não é uma economia que ele vai fazer, pelo contrário. Extinguindo a Cientec serão R$ 12 milhões a menos e os curtos serão os mesmos”, diz. “Esse governo entende que ciência, tecnologia e educação são despesa. Em nenhum outro país do mundo se avança sem isso. Hoje, o fechamento da Cientec é um retrocesso”, complementa.

Além disso, Machado ainda destacou que a fundação presta serviços de fiscalização ao governo, Assembleia Legislativa, Ministério Público, Polícia Federal, entre outros órgãos, tendo papel decisivo no combate à adulteração de combustíveis e na descoberta da chamada “fraude do leite”. “Fechada a Cientec, esse trabalho todo ficará por conta da indústria privada”, diz.
Uma das deputadas presentes no ano, Manuela D’Ávila (PCdoB) ponderou que a Cientec conta com alguns dos principais pesquisadores do RS e tem uma “contribuição determinante na construção de pesquisa, de conhecimento e também na fiscalização de políticas públicas do nosso Estado”. “Fica a pergunta: quem fiscalizaria grandes obras públicas para o Daer, por exemplo, no caso da extinção da Cientec?”, questiona a deputada. “Isso tem relação inclusive com o debate sobre corrupção. É interesse de grandes empresas que haja menos fiscalização no padrão das obras”, complementa.
Para a deputada, o governo não calculou o impacto que a extinção da Cientec e outras fundações terão para o Estado. “O governo não tem projeto. Ele trabalha a economia do Rio Grande como se fosse uma equação matemática da quarta série. Quanto custa? Vou tirar isso, isso e isso. Não tem menor ideia do valor, do que incrementa o nosso orçamento. Trabalha com despesa de maneira simplista”, diz.
Ela ainda acrescentou que os deputados tiveram pouco tempo para se informarem sobre o papel exercido pelas fundações. “Grande parte não tem como ter informações favoráveis às extinções. Então, a única coisa que pode levá-los a votar favoravelmente é ser da base do governo”, afirma.
Em um discurso contrário ao pacote, apesar de seu partido ser da base aliada, a deputada estadual Juliana Brizola (PDT) assumiu o compromisso de votar contra a extinção da Cientec e criticou o governo do Estado por ser “contra o conhecimento”. Durante sua fala, afirmou que todos querem que o RS se recupere, mas ponderou que: “Se é para cortar na carne, que se comece pelos poderosos”.

Ainda como nome de Itergs, a fundação de pesquisa estadual foi criada na década de 1940. A partir do governo de Leonel Brizola, foi transferida para a área que ocupa hoje e transformada em Cientec. Nesta quarta, Juliana Brizola recebeu uma placa de 11 de dezembro de 1959, que marca o lançamento da pedra fundamental da atual estrutura da entidade, autorizada por seu avô, e esteve “perdida” por décadas após ter sido retirada pela ditadura militar.
Outro deputado presente no ato foi Jeferson Fernandes (PT), que destacou o papel da Cientec na produção de laudos técnicos que ajudaram o governo do Estado a conseguir na Justiça uma indenização de R$ 216 milhões da Ford ao provar que a montadora americana fez uso indevido de incentivos fiscais obtidos.
Fernandes também convocou os trabalhadores a, na próxima semana, realizarem grandes mobilizações para pressionar os deputados a não votar pela extinção das fundações. Na mesma linha, o policial civil Fábio Castro, representante da Ugeirm, manifestou apoio à mobilização e convocou uma grande mobilização para votação do pacote.
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