
Débora Fogliatto
Com o crescimento do conservadorismo no Congresso Nacional, aliado às altas taxas de violência contra a mulher no Brasil, mulheres protestaram em todo o país para evitar retrocessos de seus direitos. Na 5a Marcha das Vadias de Porto Alegre não foi diferente: centenas de mulheres participaram do ato, que teve como tema “o fim da violência sexual e reprodutiva das mulheres” e abrangeu protestos contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e pela legalização do aborto.
O peemedebista se tornou um dos maiores inimigos das mulheres brasileiras ao apoiar e propor leis que retiram direitos, como o projeto de lei 5069/13, que exige que vítimas de estupro provem, a partir de boletim de ocorrência e exame de corpo de delito, que foram estupradas para ter acesso à pílula do dia seguinte e aborto previsto por lei.
Devido ao quadro político, a organizadora e integrante do Coletivo de Mulheres da UFRGS, Maria Fernanda Salaberry, avalia que a própria Marcha também se politizou em relação aos outros anos. “A Marcha começou com uma questão muito importante, que era a justificativa que a sociedade dá para violentar a mulher, mas percebemos que não basta isso. Não basta só ter o direito de ir para a escola de shortinho, as violências que as mulheres sofrem são muito mais amplas”, observa, ressaltando a questão do número de mortes por aborto no país: “a gente diz que temos números de guerra. A quantidade de mulheres que morrem no Brasil vítimas de violência e de abortos mal-sucedidos superam o número de mulheres mortas em países em guerra”.

Desde as 15h, mulheres se reuniram em frente ao Movimento ao Expedicionário, no Parque da Redenção, para se concentrarem para a caminhada. Como já é tradicional no ato, havia mulheres sem blusa, reivindicando o direito a seu corpo e a não ser insultada e violentada por estar com pouca ou nenhuma roupa. Ao mesmo tempo, uma ala alinhada ao feminismo radical pedia em um cartaz “por um mundo em que nenhuma mulher seja chamada de vadia”.
Dentre as músicas, estavam algumas contra Cunha, como “o Cunha sai, a pílula fica” e “pra nossa vida melhorar, o Cunha vamos derrubar. Se a mulherada se unir, o Cunha vai cair, vai cair, vai cair”. A já tradicional “eu beijo homem, beijo mulher, tenho o direito de beijar quem eu quiser” foi alterada pela ala alinhada ao feminismo radical para “odeio homem, amo mulher, tenho direito de rachar quem eu quiser”. Ainda foram entoadas palavras pela legalização do aborto e feminismo em geral, como “a nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria” e “cadê o homem que engravidou? Por que a culpa é da mulher que abortou?”

Nos anos anteriores, a Marcha ocorreu em abril, mas desta vez aconteceu em novembro, em meio aos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher. O trajeto também foi inédito: desta vez, o ato saiu pela Avenida João Pessoa, de onde seguiu pela Salgado Filho, dobrou na Borges de Medeiros, Jerônimo Coelho e chegou na Praça da Matriz.
Lá, em frente à Catedral Metropolitana, mulheres da organização criticaram o controle da Igreja sobre os corpos femininos, especialmente em questões relacionadas ao aborto, dizendo “tirem seus rosários de nossos ovários” e cantando “se o Papa fosse mulher, o aborto seria legal”. De lá, entoando “feminismo é revolução”, a Marcha seguiu alguns metros até o Palácio Piratini, onde vaiaram simbolicamente o governo pela extinção da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Em seguida, após dar a volta na Praça da Matriz, o ato se dispersou em frente ao Theatro São Pedro.
A Marcha das Vadias surgiu em Toronto, Canadá, após a declaração feita por um policial local que, depois de uma onda de estupros ocorridos em uma universidade, afirmou que as mulheres haviam sido agredidas porque estavam vestidas como “vadias”. A fala desencadeou uma série de protestos por todo o mundo, chegando ao Brasil, onde acontece anualmente como um dos maiores protestos feministas.
Confira mais fotos:









