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10 de fevereiro de 2015
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19:35

“Enfermeiro disse que não podia liberar voo porque o serviço aeromédico não existia”, relata médica

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
Rossana de Carli tomou a iniciativa e assumiu a responsabilidade pelo transporte aéreo. Caso contrário, o menino seria conduzido por via terrestre a Porto Alegre. (Foto feita pela própria equipe que estava no helicóptero)
Rossana de Carli tomou a iniciativa e assumiu a responsabilidade pelo transporte aéreo. Caso contrário, o menino seria conduzido por via terrestre a Porto Alegre. (Foto feita pela própria equipe que estava no helicóptero)

 Marco Weissheimer

“Uma coisa que poderia ser evitada e deveria ser corriqueira tornou-se algo complicado, que pode colocar a vida de pessoas em risco”. Foi assim que a médica pediatra e emergencista, Rossana de Carli, resumiu a situação que enfrentou, na manhã desta terça-feira (10), para transportar de helicóptero o menino argentino Thiago Baez Cichanowski, de 3 anos, de Capão da Canoa para Porto Alegre. O menino caiu do terceiro andar de um hotel em Capão da Canoa, sofrendo graves lesões na cabeça.

Rossana de Carli estava de plantão no Hospital Santa Luzia, quando uma ambulância do Samu de Capão da Canoa levou o menino para ser atendido. A médica faz parte, ou fazia – como observa referindo-se à decisão do governo estadual de desativar sua equipe – do serviço aeromédico do Estado. Quando viu o menino, ele já havia sido entubado e estabilizado. Ela sabia que havia um helicóptero da Brigada Militar em Capão e ligou para o Major Frank, comandante da aeronave, para ver a possibilidade de transportar a criança para Porto Alegre. O major prontamente se dispôs a fazer a o transporte e Rossana de Carli telefonou para a Central de Regulação do Samu, na Secretaria Estadual da Saúde. Aí começou uma novela de contornos kafkianos. A médica relata:

“Liguei para a regulação e, num primeiro momento, falei com o enfermeiro Raul. Ele me disse que não poderia liberar o voo porque o serviço aeromédico não existia. Eu disse a ele então que estava assumindo a responsabilidade pelo transporte da criança na condição de médica. Pedi apenas uma ambulância para fazer o transporte entre o parque da Redenção, onde o helicóptero deveria pousar, e o Hospital de Pronto Socorro. O enfermeiro me disse então que iria falar com a chefia. Após cerca de 50 minutos, liguei de novo e me informaram que o enfermeiro Raul estava em uma reunião. Falei então com a enfermeira Silvana que também não queria liberar o voo. Insisti e ela disse: Então, a senhora e o Major Frank assumem a responsabilidade pelo transporte. Assumi a responsabilidade e pedi uma ambulância para fazer o transporte do helicóptero até o HPS, em Porto Alegre”.

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Mas as dificuldades não pararam por aí. Como a equipe do serviço aeromédico foi desmontada, Rossana de Carli teve que equipar sozinha o helicóptero da Brigada Militar com equipamentos como respirador e monitor cardíaco. Quando a equipe estava na ativa, havia pessoal de plantão para executar esse procedimento rapidamente.  “É um paciente gravíssimo que teve fratura de base de crânio, em cima da órbita ocular, e afundamento de crânio, entre outras lesões. O Hospital Santa Luzia não tem UTI pediátrica e só podia fazer o tratamento inicial, o que fez muito bem”.

Se não tivesse tomado a iniciativa e assumido a responsabilidade pelo transporte aéreo, o menino seria conduzido por via terrestre a Porto Alegre, o que levaria muito mais tempo. “Só para ter uma ideia, além do tempo que levamos para ir e voltar de helicóptero, ainda seriam necessários 30 minutos a mais, em condições de normais de trânsito, apenas para a ida de Capão da Canoa a Porto Alegre por via terrestre. Neste tipo de situação o tempo está contra nós. Uma lesão cerebral pode evoluir e levar a uma parada cardíaca”, relata a pediatra.

Minutos preciosos foram perdidos no atendimento, assinala ainda, porque “o serviço aeromédico não existia para eles”. Na verdade, o serviço da equipe aeromédica não foi extinto oficialmente pelo governo. Os integrantes da equipe vêm sendo informados que “ele não existe mais” por enfermeiros da central de regulação do Samu, em Porto Alegre.

Nota da Secretaria da Saúde

No final da tarde de terça, a Secretaria Estadual da Saúde divulgou nota oficial sobre o caso:

Em relação ao socorro médico prestado ao menino, vítima de queda no município de Capão da Canoa, nesta terça-feira (10), pela manhã, a Secretaria Estadual da Saúde, esclarece o que segue:

9h40min- O médico plantonista do Hospital Santa Luzia, de Capão da Canoa solicita uma vaga ao Hospital de Pronto Socorro (HPS ), de Porto Alegre;

12h34min- A criança recebe atendimento no HPS, em Porto Alegre.

Neste período, desde a entrada no Hospital Santa Luzia, até a chegada na capital, a criança recebeu todos os cuidados intensivos médicos;

17h15min- De acordo com as informações do HPS, o menino apresenta um quadro de Traumatismo Craniano Encefálico (TCE) grave e permanece em coma induzido.

O diretor do Departamento de Assistência Hospitalar e Ambulatorial da Secretaria Estadual da Saúde, Alexandre de Britto, reafirma que o atendimento aero-médico continua sendo prestado pelo helicóptero da Brigada Militar. Britto também informa que, os dois helicópteros adquiridos pela SES, em 2014, permanecem nos Estados Unidos, aguardando a entrega por parte do fabricante.


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