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17 de junho de 2014
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19:06

Hostels de Porto Alegre recebem estrangeiros animados com a Copa do Mundo, mas não ficam lotados

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
No Porto do Sol, paredes são coloridas e clima é aconchegante | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Débora Fogliatto

Ao se caminhar pelas ruas de Porto Alegre, a variedade de línguas que se ouve nos últimos dias é muito maior do que normalmente. A cidade, que não é considerada uma das mais turísticas do país, recebe milhares de estrangeiros durante a Copa do Mundo. Nos hostels, ou albergues, hospedagem caracterizada por preço mais acessível, com quartos com maior número de camas e banheiro e cozinha compartilhados, a situação não é diferente.

Franceses, australianos e holandeses que vieram ver suas seleções jogar estão entre a maioria dos turistas hospedados em três dos mais tradicionais hostels da cidade. Mas pessoas de outras nacionalidades, como ingleses, canadenses, americanos, mexicanos e uruguaios também vieram para Porto Alegre para curtir a Copa do Mundo e conhecer o Brasil.

Dentre os hostels visitados pela redação do Sul21, todos disseram que não estão com a lotação máxima durante o mundial, mas que o perfil do público é diferente: enquanto durante o ano costumam receber brasileiros de outras partes do país, agora são praticamente apenas estrangeiros. Em geral, são jovens entre 20 e 35 anos, homens, de países europeus e latino-americanos os atuais hóspedes dos hostels Porto do Sol (Avenida Mariante, 958), Bom Fim Hostel (Felipe Camarão, 60) e Casa Azul (Lima e Silva, 912).

Porto do Sol

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Blair (E) e James (D) estão acompanhando a seleção australiana nas cidades onde joga pela Copa | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Inaugurado há quatro anos, quando a maior parte da população de Porto Alegre ainda não conhecia o conceito de hostel, o Porto do Sol, no bairro Rio Branco, tem 40 vagas, desde quartos privativos até para dez pessoas. Durante os dias 14 e 15, a proprietária Caroline Klein conta que estavam com a lotação em 100%, mas agora está em torno de 60%. Ela lamenta ter tido algumas faltas de comparecimento de pessoas que fizerem reservas e não chegaram, mas espera que no dia do jogo da Argentina contra Nigéria (25 de junho) chegue ao máximo novamente.

Nesta terça-feira (17), eram praticamente apenas australianos os que estavam hospedados no hostel. A maioria dos estrangeiros — 95% dos que estão hospedados nesta época — passam cerca de três dias na cidade, acompanhando os jogos da Copa. É o caso dos australianos Blair McMillan e James Vedelago, que antes de Porto Alegre foram a Cuiabá, onde a seleção de seu país também jogou. Daqui, seguem acompanhando o time em Curitiba, daqui a três dias.

“A Austrália não tem nenhuma tradição no futebol, mas nós amamos, eu jogava antes. Acho que todos os que vieram para a Copa amam futebol”, contou Blair. Eles, que nunca vieram para o Brasil anteriormente, vão passar cinco semanas no total no país. Os australianos contam que em seu país, há alguma animação para a Copa, “mas não como aqui”. Por terem chegado na noite anterior, ainda não conheceram a cidade, mas elogiaram o hostel e a hospitalidade brasileira.

Eles contam que tiveram algumas dificuldades para se comunicar,mas contam com um livrinho de principais frases e arriscam um dizer “eu falo pouco português” pra facilitar o entendimento. Ao comentarem sobre as cores da camiseta da Austrália e do Brasil serem as mesmas, eles brincaram que “é fácil diferenciar, porque o Brasil não estaria perdendo”. Em seu país natal, Blair é contador e James é engenheiro, mas os dois vieram durante as férias e afirmaram estar “muito felizes” em estar aqui.

Durante a manhã, os hóspedes tomavam café e comiam lanche fornecido com a hospedagem. Caroline auxiliava uma nova hóspede, dando dicas em inglês de como se locomover e onde ir para assistir aos jogos. As áreas de uso comum são aconchegantes, com um clima quase familiar, e não muito grandes, com apenas 40 vagas no total.

Bom Fim Hostel

Maior hostel de Porto Alegre, o Bom Fim Hostel é localizado no bairro que o dá nome, na íngreme rua Felipe Camarão quase na esquina com a Avenida Independência. Na entrada, cerca de dez turistas uruguaios lotavam a recepção, onde também fica uma lancheria com sushi, aberta ao público. Bandeiras de diferentes países enfeitam o primeiro andar dos quatro andares da casa, que conta com quartos em todos e mais uma área de uso comum no topo, onde também há um terraço. Na porta de saída, uma placa avisa “são dez minutos de caminhada até a Redenção”, em inglês e português.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
No Bom Fim, bandeiras enfeitam área de recepção e restaurante | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

O hostel existe há dois anos e abriga até 65 pessoas. Durante a Copa, a maioria das noites ficou entre 40 e 50 pessoas, embora nesta quinta-feira seja estimado que o número chegue a 60. De acordo com uma das proprietárias, Júlia Gonzalez Varani, são muitas as nacionalidades dos hóspedes. “Uruguaios, argentinos, australianos, ingleses, neozelandeses, egípcios, canadenses, norte-americanos. Alguns até que as seleções não jogaram aqui, mas aproveitaram para conhecer”, conta.

Dentre esses, estão Pav Subramania, Nathan Muruganandran, Nim Harindra, Alastair Greenless e Gavin Fraser, parte de um grupo de nove ingleses que chegaram no sábado (14) e assistiram ao jogo da França contra Honduras no dia seguinte.”Nós fomos torcendo para Honduras, quando as pessoas percebiam que nem sabíamos falar uma palavra de espanhol nos perguntavam ‘mas o que vocês estão fazendo aqui?'”, contou Nim, se divertindo.

Eles contam que estão aproveitando “too many caipirinhas” e gostando muito da cidade, onde é fácil se locomover a pé e as pessoas são muito amigáveis. Por terem comprado as passagens e decidido seus destinos mesmo antes da programação, não vieram para uma cidade onde a seleção da Inglaterra irá jogar, mas não estão preocupados com isso. “Estamos indo a todos os jogos possíveis, queríamos conseguir para o da Argentina, mas não sei se terá ingresso”, disse Nathan. Ele tem um amigo que já esteve em Porto Alegre e falou bem da cidade, por isso esse foi um dos destinos escolhidos pelo grupo, que daqui deve seguir para Florianópolis.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Pav, Allastair e Nim vieram para Porto Alegre mesmo sem a seleção inglesa | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sobre a comunicação, eles relatam não terem tido grandes problemas. Durante o fim de semana, enquanto procuravam a rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento, contam que uma pessoa local percebeu que eram estrangeiros e se ofereceu para ajudá-los, falando em inglês. Também afirmam que a cidade parece bastante segura, fugindo do estereótipo que normalmente se tem na Europa sobre países da América Latina. “Existe alguma vizinhança perigosa, em que não devemos ir?”, questionaram, felizes em anotar recomendações dadas pelos repórteres do Sul21.

A proprietária Júlia conta que o hostel praticamente dobrou o preço para os dias de Copa, embora tenham se adaptado à demanda do público. O grupo de ingleses relata que esperava que a cidade fosse mais cara, mas que ainda é mais barata do que Londres, de onde eles são. “A comida é um pouco mais barata, e a bebida é bem mais”, analisou Allastair.

Júlia, que tem pós-graduação em hotelaria e decidiu investir na sociedade no Bom Fim há nove meses, conta que o local costuma realizar eventos para os hóspedes, como oferecer churrascos, e que as pessoas em geral “ficam muito agradecidas” com isso. “Temos também parceria com bares, festas, restaurantes aqui perto e vamos indicando, mas o que eles mais gostam mesmo é quando se oferece alguma coisa”, relatou. Para ela, o período atual é o que mais foi possível sentir o “clima de hostel”, porque todos os hóspedes estão lá pelo mesmo motivo. Situação semelhante foi durante o vestibular da Ufrgs, onde o hostel ficou lotado de pessoas do interior do estado e outras partes do Brasil.

Casa Azul Hostel

Talvez mais conhecido por ter se tornado um dos mais tradicionais bares da Cidade Baixa, o Casa Azul Hostel surgiu da ideia dos proprietários de fazer um lugar diferente e inédito em Porto Alegre, cinco anos atrás, após se hospedarem em hostels em vários lugares do mundo. São normalmente 34 vagas, que durante a Copa foram ampliadas para 46, no coração do bairro boêmio da cidade, na rua Lima e Silva.

O proprietário Rafael Favero relata que a ideia era fazer um diferencial, por isso surgiu o hostel com bar junto. “Para as pessoas poderem trocar experiências, os hóspedes nem precisam sair para conhecer gente. O movimento do bar acabou sendo muito grande e se tornando conhecido na CB”, contou.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Erwin (E) e Wouter (D) chegaram no domingo e já foram para outras capitais brasileiras | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Mas para os hóspedes que não querem frequentar o bar, há também uma área comum no andar de cima, com computadores, televisão, sofás e cozinha. Nesta quinta-feira, quando o Brasil jogou contra o México, Rafael contou que esperava que houvesse “brasileiros e gringos juntos” assistindo no local. “A gente acaba criando muitas amizades aqui dentro, se for viajar já tem onde se hospedar”, afirma.

Os holandeses Erwin Boer e Wouter Niemeyer vieram para Porto Alegre sem saber que estariam hospedados em um hostel que também é bar no bairro boêmio da cidade, mas estão aproveitando. “Chegamos aqui no domingo à noite e o bar estava lotado, ficamos sem entender nada por um tempo”, conta Erwin. Eles foram antes para Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, e repararam que em geral se fala pouco inglês nas cidades onde estiveram. Dentre essas, destacam a capital paulista como o local em que tiveram mais facilidade para se comunicar.

“Fomos no centro histórico de Porto Alegre, mas não achamos assim tão histórico, se comparado ao de Salvador”, ponderam. Eles contam que esperavam ver mais clima da Copa na cidade, como perceberam nas outras capitais onde estiveram, mas contam que os brasileiros em geral são muito receptivos e animados.

De Porto Alegre, eles seguem para a cidade onde sua seleção for jogar nas oitavas de final, que ainda não sabem se será Belo Horizonte ou Fortaleza. Nesta quinta-feira, pretendem ir à Fan Fest ver o jogo do Brasil contra o México.  “Mas precisamos torcer para o Brasil não ir muito bem, pois queremos ganhar a Copa”, brincaram.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
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