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18 de agosto de 2015
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20:24

Mesmo improvisada, reabertura do Restaurante Popular traz alívio para pessoas em situação de rua

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
Mesmo improvisada, reabertura do Restaurante Popular traz alívio para pessoas em situação de rua
Mesmo improvisada, reabertura do Restaurante Popular traz alívio para pessoas em situação de rua
Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Polenta, arroz, feijão, frango e salada é o almoço servido | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Débora Fogliatto

“Comida para pessoas em situação de rua” avisa uma placa na entrada do Albergue Municipal, que agora funciona também como Restaurante Popular improvisado. Pelo menos até outubro, o local estará servindo refeições a R$ 1, com capacidade para fornecer até 600 almoços, embora nesta segunda-feira (17) e terça (18) tenham sido preparadas cerca de 200, visto que o serviço ainda está pouco difundido.

O espaço foi combinado durante as reuniões do Comitê Pop Rua, que lida com políticas para pessoas adultas em situação de rua, composto pelo poder público e sociedade civil. A reivindicação da abertura do Restaurante era uma das principais do Movimento Nacional da População de Rua, que realizou diversos protestos sobre o assunto e ainda exige a existência de um espaço permanente. A ideia é que seja uma solução provisória até a abertura do Centro de Referência Alimentar, que está em fase de finalização das licitações. A comida, fornecida pela empresa Mix Refeições Corporativas, foi elogiada por quem almoçava lá nesta terça à reportagem do Sul21.

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O morador em situação de rua José Cícero de Lima, conhecido como Baiano, veio da avenida Baltazar de Oliveira Garcia para provar a comida. “Antes, eu pedia doação. Daí tinha que esperar né, até umas quatro da tarde mais ou menos, pra conseguir comer”, contou. Agora, pretende voltar outros dias ao restaurante, pois não tem renda para comer em outros lugares. “Foi bom eles fazerem isso, ajuda os moradores de rua e gente que não pode comer”, comemorou.

Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Local serviu, nos dois primeiros dias, cerca de 200 pratos | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Ele foi até o local de carona com o amigo e vizinho Erivelto Santos Mendes, que é taxista à noite, mas levou ele e mais duas pessoas em seu carro particular até o restaurante, onde também aproveitou para almoçar. “Foi uma boa ideia fazer isso. É importante solucionar os problemas dando dignidade, qualidade de vida para as pessoas, dando uma chance. Porque quando fica sem isso, a pessoa perde a autoestima e pode cair nas drogas”, refletiu, acrescentando que a “alimentação é básica” nesse sentido.

O cardápio desta terça-feira era arroz, feijão, frango assado, polenta mole e salada. “Quem cozinha está caprichando, e não exageraram no sal, o que é importante”, elogiou Erivelto. Eles constataram que, mesmo vindo de longe, a comida vale a pena. Baiano, que na verdade veio de Alagoas para a capital gaúcha, mora na rua e não gosta de abrigos. Embora esteja desempregado, diz que sempre “consegue alguma coisa” com reciclagem e, com isso, poderá pagar o almoço a R$ 1.

Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Comida é fornecida pela Mix Alimentações | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Já Elizete Santos Pacheco mora em Gravataí, mas vem para Porto Alegre visitar a filha, que está internada no Hospital Conceição, na zona Norte da capital. De lá, pegou um ônibus até o novo restaurante popular. Desempregada e precisando cuidar da menina, também comemorou a existência do almoço. “Eu recebo benefício do governo por causa da minha filha, mas é bem difícil. Trabalhei lá no próprio Conceição fazendo limpeza alguns meses, mas fui demitida”, relatou.

Ela estava acompanhada do namorado, Cristiano de Campos, que vive em Porto Alegre e está desempregado e sem local para morar. Atualmente, vive de forma provisória no abrigo Dias de Cruz, depois de perder o local onde morava de aluguel por não conseguir mais pagar. “A gente acabava comendo xis ou salgado na rua por cinco pila ali na praça, agora é muito melhor comer uma comida de verdade”, relatou ele, que provou pela primeira vez o prato. Segundo Cristiano, a comida é, inclusive, melhor do que a do antigo bandejão.

À espera de reformas 

O secretário de Direitos Humanos da Prefeitura e coordenador do comitê Pop Rua, Luciano Marcantônio, está acompanhando a primeira semana de serviços almoçando no local com uma equipe. Ele explicou ao Sul21 que as licitações de equipamentos, recursos humanos, serviço de alimentação e obras necessárias no prédio onde funcionará o Centro de Referência Alimentar já foram feitas. Agora, basta terminar a aplicação da parte de engenharia, que consiste principalmente em instalar caixas d’água e de gordura.

Aguardado há cerca de dois anos, o novo Restaurante Popular irá funcionar na rua Santo Antônio, 64, e Marcantônio espera que o local esteja pronto até outubro, embora destaque que a data não é garantida. Durante a espera, a solução de servir os almoços no albergue foi levantada durante as reuniões do Pop Rua. “A empresa responsável pelos almoços já foi homologada, então já podia começar a trabalhar. Queremos fazer lá com calma, porque vai ser um centro de referência nacional”, explica.

Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Marcantônio almoçou no local ontem e hoje | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Após ter a vencedora da licitação, o secretário conta que a preocupação era com a qualidade da comida, que acabou sendo aprovada por toda a equipe. Embora estejam preparados para fazer até 600 almoços por dia, por enquanto estão sendo servidos um terço desta quantidade, preparada de acordo com o número de pessoas esperadas. Marcantônio espera que, com a divulgação boca a boca entre os frequentadores, o número chegue ao máximo até setembro. A comida que é feita e sobra é levada para instituições parceiras pela própria empresa que faz o almoço.

Além do almoço, é servido também suco e sobremesa incluídos no valor. A comida é fornecida em embalagens descartáveis, que preservam um pouco o calor. Mas quando o Centro de Referência for aberto, os alimentos ficarão em buffet aquecido e serão servidos no esquema de bandejão.

Responsabilidade municipal

Essa é a primeira vez que o “bandejão”, que sempre foi de responsabilidade do governo estadual na capital gaúcha, será gerido pelo município. Agora, a Prefeitura receberá uma verba de quase R$ 900 mil por ano por parte do Estado e entrará com um valor de mais de R$ 300 mil para manter o local. O antigo espaço, na Rua da Conceição, foi fechado pela vigilância sanitária por falta de Plano de Prevenção Contra Incêndios (PPCI) em julho de 2013.

Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Comida foi aprovada pelos consumidores | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

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