

Luís Eduardo Gomes
Além de obrigar muitas pessoas a deixarem suas casas, a forte chuva que castigou a Região Metropolitana desde a madrugada de domingo trouxe grande prejuízo para diversas empresas no bairro industrial Anchieta, uma das regiões de Porto Alegre mais atingida pela chuva. Nesta terça-feira (21), a reportagem do Sul21 visitou o bairro e, apesar de o sol começar surgir, encontrou alagamento em grande parte das ruas e múltiplas empresas com portões fechados.
Com diversas ruas do bairro completamente embaixo da água, grande parte das empresas só era acessível por veículos de grande porte, como caminhões e caminhonetes, ou por veículos de pequeno porte com motoristas dispostos a se aventurar e arriscar ficarem parados na metade do caminho. Além disso, a linha de ônibus 702 Bairro Anchieta precisou sofrer um desvio no trajeto por causa do alagamento, dificultando a vida de quem precisava dela para chegar ao trabalho.
Uma das empresas que fechou as portas na segunda-feira (20) foi a cervejaria Seasons, uma das empresas que faz parte do polo cervejeiro do bairro Anchieta. “Qualquer dia de indústria parada é um dia de prejuízo. Ontem, a empresa simplesmente não abriu”, disse Leonardo Garbin, diretor de marketing da empresa.

Apesar de a rua em que a empresa está localizada, a Ângelo Dourado, ter permanecido intransitável nesta terça por causa do alagamento, Garbin explicou que a produção foi retomada porque o proprietário alugou uma caminhonete para buscar funcionários na estação Anchieta do Trensurb. Segundo ele, diversas outras empresas fizeram o mesmo, o que acabou gerando um “corre-corre” por veículos de grande porte em uma locadora de carros do Aeroporto Salgado Filho.
Esta ação, contudo, não foi suficiente para fazer com que a empresa operasse 100% dentro da normalidade. Uma entrega de rótulos, marcada para segunda-feira, precisou ser adiada. Além disso, a chuva afastou os clientes que costumam ir à cervejaria para comprar bebidas no local.
Mesmo para aquelas que conseguiram abrir as portas ontem e hoje, a água provocou preocupação. José Sanco, gerente comercial da Acplast, fabricante de embalagens plásticas, explica que improvisou uma barreira com sacos de areia em frente a um dos portões para impedir que a água acumulada na rua Padre Pedro Schneider atingisse os produtos.
“Se molha a matéria-prima, é perda”, diz Sanco. “Ficamos torcendo para a chuva não aumentar”, complementou, salientando que essa é a pior enchente que vivenciou nos 11 anos de atuação da empresa na região.

Baixo movimento prejudicou comerciantes
Uma das principais empresas da região, a Ceasa só não foi tão afetada pelos alagamentos porque a maior parte de seus clientes chegam de carro ou caminhão. Ainda assim, a empresa está praticamente inacessível para pedestres devido ao alagamento de vários trechos da Av. Fernando Ferrari, uma das principais da região, e de quase todas as vias nas imediações.
De acordo com o diretor Vanderlan Vasconselos, o movimento desde segunda-feira está normal, mas ainda não é possível saber se haverá algum tipo de desabastecimento. “Não tivemos nenhum tipo de prejuízo, mas não sei os efeitos que a chuva teve sobre os produtores”, afirma Vasconelos.
Contudo, outros negócios que dependem do movimento da Ceasa, como a empresa de máquinas e equipamentos agrícolas Agrimar, localizada na Av. Jaime Vignoli, estavam completamente vazias nesta manhã. Segundo os funcionários do local, terça e quinta são os melhores dias de vendas para a Agrimar por causa do alto movimento na Ceasa, mas, devido ao alagamento, o volume de clientes não chegava a 20% do normal nesta manhã.

Além dos comércios e das indústrias, outros estabelecimentos que dependem do movimento no bairro e sofreram com os alagamentos foram os bares e restaurantes. Enquanto uns estavam fechados por se encontrarem completamente ilhados, outros, como o Manus, operam com movimento muito abaixo do normal. “Hoje está bem complicado porque o pessoal não veio trabalhar”, disse o funcionário Alfredo Machado, que estima que, por volta do meio-dia, o volume de clientes não chegava a 50% de um dia normal.
DEP culpa ponte da BR-448
Segundo Tarso Boelter, diretor-geral do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), os alagamentos na região dos bairros Humaitá e Anchieta são causadas por uma série de fatores combinados.
“A ponte que foi construída na BR-448 acabou com o canal e interrompeu o curso das águas”, afirma Boelter, acrescentando que o Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT) não se preocupou com o sistema de drenagem da região durante a obra. “O DNIT fez a obra do jeito que quis e não se preocupou com a drenagem”.
Boelter explica que, para solucionar o problema causado pela construção da ponte, seria preciso construir galerias laterais que desviassem da área da ponte para escoar a água. Segundo ele, a Prefeitura já tem um projeto pronto, mas não há recursos no momento para e execução dele.
O diretor do DEP também explica que há um problema na casa de bombas número 5, que atende a região. “Ela precisar ter a capacidade de bombeamento ampliada e precisa ter gerador próprio, porque, quando chove, para de funcionar”, disse Boelter. Ele afirma que as obras na casa de bombas foram contempladas com investimentos federais do PAC Prevenção e que a Prefeitura aguarda apena a liberação do Ministério das Cidades para lançar os editais da obra.
Além disso, ele afirma que há o problema do lixo acumulado nas ruas da região. “Uma grande parcela da população do bairro Humaitá não colabora com a cidade e joga lixo nos arroios”, afirmou.
Diante destes fatores somados, ele reconheceu que a região não tem como suportar o volume de chuva que caiu nos últimos dias. Contudo, Boelter fez uma avaliação positiva do impacto que chuva teve na cidade. “Diante de todo esse cenário da Região Metropolitana, Porto Alegre até que suportou bem”, disse.


