
Samir Oliveira
O nono dia da greve dos rodoviários de Porto Alegre terminou sem qualquer alteração na disputa de força entre os trabalhadores e os empresários do setor. A única coisa que ficou definida é que poderá haver uma nova reunião de mediação na quarta-feira (5). Já no início da terça-feira (4) os rodoviários realizaram uma assembleia onde decidiram não acatar o acordo firmando na segunda-feira (3) no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

Pelo acordo, assinado após quase quatro horas de negociações, os empresários se comprometiam a conceder um reajuste salarial de 7,5%, um aumento de R$ 16 para R$ 19 no vale-refeição e um desconto de R$ 10 no contracheque. Inicialmente, as empresas haviam proposto apenas o reajuste pela variação do INPC (5,5%) e um real de aumento no vale-refeição. A contrapartida no plano de saúde ficaria em R$ 40, pela proposta inicial dos patrões.
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Os trabalhadores rejeitaram os termos do acordo firmado na segunda-feira – exceto em relação ao plano de saúde – por entenderem que as principais bandeiras do movimento são um reajuste de 14% e a redução da jornada de trabalho para seis horas diárias. A assembleia da manhã desta terça elaborou uma pauta de 19 reivindicações para apresentar nas negociações futuras.
Irritados com a decisão, os empresários afirmaram que não voltarão a negociar enquanto os trabalhadores estiverem descumprindo a liminar do TRT. Deferida na terça-feira passada, a decisão surgiu em resposta a um pedido da prefeitura de Porto Alegre e determinou que os rodoviários colocassem 70% da frota nas ruas em horário de pico. Após sair a liminar, a categoria resolveu, em resposta, paralisar 100% da frota – quadro que se mantém até hoje, deixando a greve em situação de ilegalidade perante à Justiça do Trabalho, o que faz com que o Sindicato dos Rodoviários esteja condenado a pagar multa de R$ 100 mil a cada dia em que a liminar seja descumprida.
Movimentação em frente ao TRT
Nesta terça-feira, dezenas de trabalhadores permaneceram em vigília em frente a sede do TRT. Às 14h30min, a desembargadora Ana Luiza Kruse, que vem conduzindo as negociações, convocou uma reunião com a comissão de negociação dos rodoviários e o sindicato da categoria.

De acordo com as lideranças grevistas, a magistrada queria apenas ouvir qual era o sentimento da base da categoria em relação aos rumos da greve. Após esse encontro, ficou acertado que uma nova reunião ocorreria às 17h30min, com a presença das empresas de ônibus.
Entretanto, após entrar em contato com os empresários, a desembargadora ouviu deles a resposta de que não havia clima para negociações, já que estavam irritados com o resultado da assembleia dos trabalhadores nesta manhã. Com isso, a magistrada convocou uma reunião após as 19h, em que comunicou aos grevistas que tentará novamente contato com a patronal nesta quarta-feira (5) para que possa haver uma reunião de mediação entre as partes.
“Nossa primeira expectativa é que haja a mediação. A segunda expectativa é que haja avanço na negociação. Estamos ansiando por um aceno de verdade, que mostre compromisso da patronal com a classe trabalhadora e com a população de Porto Alegre”, declarou Alceu Weber, uma das lideranças da comissão de negociação dos rodoviários.
Ele ainda lamentou a declaração das empresas nesta terça-feira, que afirmaram que, diante da negativa dos trabalhadores em aceitar a proposta mediada no dia anterior, poderão adotar medidas como demissões e corte de salário relativo aos dias paralisados. “Todas as tentativas de retaliações, inferências e intransigências resultaram onde estamos. Tem um ditado velho que diz que as coisas sempre podem piorar. Eu não quero que isso seja de fato verdadeiro. Na assembleia ficou claro que existe um radicalismo muito forte instalado”, comentou.