
Roberta Fofonka
Na manhã desta segunda-feira (27), em Porto Alegre, cerca de 1 milhão de pessoas tiveram problemas para se locomover e iniciar a semana, devido à greve dos ônibus. As principais reivindicações dos trabalhadores rodoviários são a reposição de 14% nos salários, vale-refeição de R$ 20,00, expediente de 6h/dia, e fim do banco de horas. Enquanto isso, as empresas de ônibus operam com apenas 30% da frota, conforme determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT). Segundo informações da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), 436 ônibus circulam nas principais vias da cidade, no total. Em dias normais, operariam 1.453.
Para tentar desafogar o transporte urbano, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) buscou, na manhã de hoje, reforços junto à Metroplan, que rejeitou a solicitação. A exigência da prefeitura agora é que as empresas de ônibus e os rodoviários voltem a negociar, informou o presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari. “A missão da prefeitura é dar o transporte coletivo. A população ficou prejudicada, e a frota é insignificante para fazer o atendimento da operação”, reconheceu. Mas, nem os empresários nem os trabalhadores demonstram disposição em flexibilizar as propostas.
No final da tarde, a prefeitura de Porto Alegre pediu ao Ministério Público do Trabalho que entre na Justiça com pedido de cautelar, solicitando que nos horários normais sejam colocados 50% da frotas para atender a população. E nos horários de pico, 70% da frota. A resposta à solicitação da prefeitura deve sair ainda nesta segunda-feira.
De uma forma bastante atípica, o trânsito de Porto Alegre, bem como as paradas de ônibus do centro, não apresentaram tumulto, reflexo da buscou alternativas pela população para contornar a greve. Mas, aos desavisados, restou esperar.
Daniela Azeredo é um deles. Ela mora em Gravataí, trabalha em pesquisa de Marketing no bairro Nonoai e esperou quase uma hora pelo ônibus na Av. Salgado Filho. No final do expediente, ela terá que compensar o tempo de atraso. “Eu não sabia da greve. Saí de casa às 8h e cheguei na parada no meu horário normal”. O ônibus de Daniela chegou apenas às 10h da manhã e, para o atraso, contribuiria também o tempo gasto no trajeto. O expediente de Daniela começaria às 9h30.
Assembleias nas garagens
Membro da Central Única dos Trabalhadores (CUT), servidor da Carris e integrante do comando de greve, Luiz Afonso Martins conta que, ao longo do dia, foram realizadas assembleias em todas as garagens. Às 19h os rodoviários e o sindicato da categoria reúnem-se para uma análise política da paralisação, e decidem como proceder nos próximos dias. A greve não tem prazo para acabar.
Conforme o Gerente Executivo do Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre (Seopa), Luiz Mário Magalhães Sá, “as empresas de ônibus são totalmente contra a greve.” A proposta patronal permanece a mesma: conceder um aumento salarial conforme a inflação do ano passado medida pelo INPC, o que deve gerar um reajuste de apenas 5,5%. “Se isso for acordado, outras coisas poderão vir a ser objeto de negociação. Mas em relação às outras questões, uma das nossas propostas é manter o vale-refeição com o valor de 16 reais, por exemplo”.
Sá sustenta que as empresas não vislumbram qualquer possibilidade de alterar as propostas, que são o mínimo que a Justiça do Trabalho concede em dissídio, enquanto a Prefeitura e o Tribunal de Contas não acordarem sobre uma nova metodologia de cálculo da tarifa. Até que isto seja decidido, o valor de R$ 2,80 da passagem também permanece congelado.
Do lado dos trabalhadores, Martins afirma: “temos a consciência de que só retornaremos ao trabalho quando os empresários atenderem a nossa pauta de reivindicações. Ou seja, nós não vamos abrir mão do ticket refeição e das principais bandeiras de luta.” Para atender aos 30% de frota operante, motoristas e cobradores estão fazendo revezamento.
O vigilante Antônio Olívio, 40, às 10h da manhã esperava já há uma hora e meia no ponto de ônibus para ir até o Campo Novo. Ele trabalhou a madrugada inteira, e pretendia ir para casa descansar até a retomada do serviço, que aconteceria às 14h. Cansado de esperar, precisou ligar para a empresa levá-lo até em casa. E se a passagem aumentar? “Tudo de novo, né. Vai ser o caos, de novo. Mas este preço é mesmo muito abusivo”, disse.

Abaixo, as linhas de ônibus que estão operando no período de greve:
Carris, com 100 veículos:
Linhas T1; T2, T2A; T3; T4; T5; T6; T7; T8; T9; T11; 343 – Campus Ipiranga
Unibus, com 95 veículos:
Linhas 398 – Pinheiro; 398.2 – Pinheiro/Azenha; 441 – Antônio de Carvalho; 341 – Bento/ Antônio de Carvalho; 491 – Passo Dorneles/Safira; 494 – Rubem Berta/Protásio
Conorte, com 116 veículos:
Linhas 662 – Rubem Berta; 661 – Jardim Leopoldina; 656 – Passo das Pedras; 637 – Chácara das Pedras; 704 – Humaitá; 718 – Ilha da Pintada; 631 – Parque dos Maias; 621 – Nova Gleba; 613 – Elisabeth; TR62 – Troncal Baltazar; 520 – Triângulo/24 de Outubro; 624 – São Borja; 632 – Fátima; B51 – Parque/Postão
STS, com 125 veículos:
Linhas 165 – Cohab; 171 – Ponta Grossa; 173 – Camaquã; 184 – Juca Batista; 188 – Assunção; 209 – Restinga; 210 – Restinga Nova; 211 – Restinga Velha; 267 – Lami; 268 – Belém Novo; 314.1 – Restinga/Puc/3ª Perimetral; 260 – Belém Velho/Oscar Pereira; 284.3 – Belém Velho/Rincão/Azenha; 289 – Rincão/Oscar Pereira