Cidades
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29 de janeiro de 2014
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18:38

Mobilização dos rodoviários nas garagens confirma “frota zero” nas ruas

Por
Sul 21
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Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Na manhã de hoje, havia uma significativa mobilização em frente às garagens das empresas de ônibus | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Nícolas Pasinato

A greve geral dos rodoviários em Porto Alegre se confirmou nesta quarta-feira (29). Desde o começo da manhã, os trabalhadores se concentram nas garagens das empresas de ônibus para impedir a saída dos coletivos. Cerca de um milhão de pessoas ficaram sem transporte público. A decisão da categoria foi tomada na terça-feira (28) ao final da reunião mediada pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que determinou a circulação de 70% da frota de ônibus nas ruas em horários de pico e de 30% nos demais horários, o que já vinha sendo cumprido.

Segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Júlio Pires, a decisão de greve geral se deu em razão da revolta dos trabalhadores com o resultado da reunião do TRT. “Já havia um acordo com o Ministério Público do Trabalho de cumprir os 30%. Agora, vem o (prefeito José) Fortunati e pede 70% da frota. Os trabalhadores se revoltaram”, justifica. Ao final da reunião de ontem, os motoristas e cobradores, que aguardavam em frente ao prédio do TRT, realizaram uma assembleia e alegaram que manter um volume maior de coletivos funcionando tiraria o sentido da greve da categoria.

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Wenceslau Machado, integrante da comissão de negociação considerou autoritária a decisão do TRT | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Na manhã de hoje, havia uma significativa mobilização em frente às garagens das empresas. Na sede da Carris, além dos rodoviários, também estavam presentes integrantes do Bloco de Lutas e do CSP-Conlutas. Wenceslau Machado, integrante da comissão de negociação, afirma que cerca de mil pessoas passam pelo local ao longo do dia e há um revezamento entre os grevistas. Ele considerou a decisão da presidente em exercício do TRT, Ana Luiza Kruse, como autoritária.

Conforme Wenceslau e o presidente do Sindicato dos Rodoviários, as negociações com a classe patronal não avançaram em nenhum item. A categoria pede reajuste salarial de 14%, aumento de R$ 4 no vale-alimentação e manutenção do plano de saúde, entre outras reivindicações. Wenceslau revela que será apresentada uma proposta, em assembleia, que abdica de qualquer reajuste salarial, desde que seja aprovada a redução da jornada de trabalho dos rodoviários para 36h semanais.

“O que mais queremos é qualidade de vida. Trabalhamos cerca de 12 horas em função do deslocamento até o trabalho e temos apenas um dia de folga por semana”, diz Wenceslau. O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Júlio Pires, admite que essa proposta (da redução da jornada) pode ser avaliada, mas a prioridade, segundo ele, é aguardar alguma resposta do Sindicato das Empresas de Ônibus (Seopa) para depois negociar uma contraproposta.

CSP-Conlutas e Bloco de Lutas apoiam a greve

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Próximo protesto do Bloco de Lutas, na sexta-feira, dará apoio à greve dos rodoviários | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Presentes em frente à sede da Carris, integrantes do CSP-Conlutas do Estado e do Bloco de Lutas manifestaram o seu apoio a mobilização dos rodoviários. “É uma importante categoria com uma pauta significativa. As mulheres não tem auxílio creche, as condições de trabalho são ruins e não há um plano de saúde adequado. Os trabalhadores enfrentam doenças de trabalho como síndrome do pânico em função dos assaltos e problemas na coluna”, condena Andreia Ortiz, da coordenação do CSP-Conlutas do Rio Grande do Sul.

Cristian Nunes, do Coletivo Vamos à Luta e integrante do Bloco de Lutas, informa que haverá um protesto do grupo na próxima sexta-feira (31), tendo como uma das pautas o apoio a greve dos rodoviários. “Desde o ano passado, criamos uma unidade entre a classe trabalhadora e a juventude para avançarmos na luta pelo passe livre e por 100% do transporte público. Esperamos que o Fortunati pare de se aliar com as empresas e olhe para os trabalhadores, mas sabemos que as mudanças só ocorrerão com protestos e uma greve radicalizada como essa”, declara.

EPTC fiscaliza transportes clandestinos

No primeiro dia de greve geral, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) afirma que a equipe está priorizando o aumento de frotas de veículos em circulação. Além disso, está monitorando os transportes clandestinos para não ocorrer abusos. “Não podemos permitir que o cidadão fique desprotegido com transportes inseguros. Há muitos veículos colocando cartazes com o preço da tarifa, o que é ilegal. Não estamos cassando esse tipo de transporte, mas estamos cuidando para que eles não se tornem um risco para a população”, afirma o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari.

Conforme Cappellari, a prefeitura espera que o judiciário tome medidas necessárias para o descumprimento da decisão judicial por parte dos rodoviários, uma vez que não estão respeitando o serviço mínimo previsto. “Esperamos que além das multas o judiciário tome providências”, declarou.

Lojas da Capital já apresentam 25% de queda em vendas desde o início da greve

Bruno Alencastro/Sul21
Para Sielichow, a ação de retirar todos os ônibus das ruas torna a greve inconstitucional e afeta negativamente toda a economia da cidade | Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Levantamento realizado pelo Sindilojas Porto Alegre na manhã desta quarta-feira (29) com lojistas de diversas regiões da Capital aponta prejuízo em vendas, baixo fluxo de clientes e dificuldades para os funcionários chegarem ao trabalho.

A média de redução nas vendas já chega a 25% e deve cair mais no final do dia de hoje. O impacto no resultado do mês pode chegar a 50%. De acordo com os lojistas consultados, há funcionários que não conseguiram chegar às lojas e há aqueles que utilizaram táxi, dividindo a despesa com colegas.

Para Ronaldo Sielichow, presidente do Sindilojas Porto Alegre, a ação de retirar todos os ônibus das ruas torna a greve inconstitucional e afeta negativamente toda a economia da cidade. “Não é só o comércio que perde, mas sim a população e os trabalhadores. Não podemos ficar dependentes de uma categoria para que a cidade funcione. Repudiamos este movimento que tira o direito de ir e vir do cidadão e solicitamos que as autoridades sejam ágeis e eficientes na resolução desta questão”, afirma.


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