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15 de abril de 2014
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19:28

Feira do Peixe inicia com atraso em Porto Alegre e provoca protestos

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Feira iniciou sem peixe devido à falta de energia elétrica para os freezers | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Roberta Fofonka

A tradicional Feira do Peixe de Porto Alegre, na sua  234ª edição, começou sem peixe algum nesta terça-feira (15). Marcada para iniciar às 8h da manhã, os comerciantes não puderam começar as vendas no Largo Glênio Peres devido à falta de energia elétrica nas bancas, o que impedia que os freezers mantivessem a temperatura adequada dos pescados. A instalação só foi concluída por volta das 11h35 da manhã, e a venda foi liberada somente a partir das 13h. A instalação de extintores de incêndio e luzes de emergência também ainda não havia sido concluída nesta manhã.

As famílias que compõem os 65 estandes, quase todas oriundas da Ilha da Pintada, contam muito com os ganhos da Feira, que acontece sempre na Semana Santa, para garantir o sustento. A maioria deles se organiza para chegar às 6h da manhã, e o movimento vai até por volta de 23h30. A feira abre às 8h. É comum as crianças ganharem atestado na escola para participarem com a família. Como a Ilha da Pintada é pequena, praticamente todo mundo se conhece. “Aquele ali da frente, por exemplo, é meu vizinho. E é tudo parente de um, cunhado de outro, casou com a prima do outro… não dá pra falar mal de ninguém!” brinca Alberto da Rocha Gonçalves, de 56 anos. Ele e a esposa, Rita, que há dez anos não participavam da Feira, voltaram um pouco decepcionados. “A gente participou em Canoas e São Leopoldo nestes dez anos. São Leopoldo é um exemplo de organização. Hoje já perdemos uma manhã inteira de Feira, e isso é muita coisa”, diz. Para esta edição, Rita preparou sozinha 300 bandejas com 16 bolinhos de peixe em cada, que vende a R$ 10,00. Alberto conta que o movimento maior é na quinta e na sexta-feira. Hoje e amanhã, muita gente vem à feira para pesquisar preços, inclusive comerciantes. “Bom mesmo é quando começa a gritaria. Tu fica numa agitação que só consegue dormir direito no sábado”, relata.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Vendas de peixe começaram por volta das 13h | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Terezinha da Rocha Nunes, de 75 anos, e Maria da Silva, de 50, acordaram cedo para comprar peixe nos primeiros momentos da Feira. As duas esperaram a manhã inteira.  O hábito de comer peixe na dita “Semana Santa” ou ainda, na “Sexta-feira Santa” é um costume católico. No período da Quaresma e na Semana Santa, antecedente à Páscoa, a igreja proibia o consumo de carne vermelha, na Idade Média, pois, para eles, fazia alusão ao sangue derramado por Cristo para salvar a humanidade de seus pecados. Até hoje, a tradição é mantida em algumas famílias. Maria, que trouxe até uma bolsa térmica para carregar os peixes resfriados até sua cidade, de Estância Velha, abriu mão da manhã de serviço como empregada doméstica. “Eu vim aqui comprar o peixe porque temos o costume de reunir a família na Páscoa. É um descaso com o povo. Com quem trabalha e com quem vem prestigiar”, sustenta.

“A gente se mata trabalhando, mas a gente adora”, conta Andreia Vilanova, de 24 anos. Ela é filha, neta, e esposa de pescadores, e está no evento essencialmente para cuidar da parte financeira da banca da família. Ela diz que a Feira poderia melhorar na divulgação e estrutura. “Sinto que as pessoas têm procurado mais a Feira, muitos jovens que passam por aqui vêm perguntar o que é isso que está acontecendo aqui. Muita gente não faz ideia de que isso acontece há 234 anos.”

Os pescadores são escolhidos através de sorteio, nas reuniões da Colônia de Pescadores Z5. O presidente da Colônia e também presidente da Federação dos Pescadores do Estado, Vilmar Coelho, é quem cuida de todos os detalhes da organização, entre as famílias e a Smic (Secretaria Municipal de Indústria e Comércio). Ele começou a pescar com o pai aos 9 anos, também na Ilha da Pintada. Hoje, tem 66.”Eu estou aqui abdicando da coisa que eu mais gosto de fazer, que é pescar, para ajudar o pescador. Esta é a semana que o pescador vai vender diretamente ao consumidor. O ano todo ele vende para atravessador que vai lá, compra e paga o preço que quer.” O filho dele, Gilmar, Superintendente  Federal da Pesca e Aquicultura no Rio Grande do Sul, tirou férias para trabalhar na banca da Colônia. “Ele tirou férias e tá aqui por que ele é filho de pescador. Por que ele sabe a importância de voltar às origens e ajudar aqui”, relata.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

João Carlos, de 30 anos, é o “trocador” da Feira. Conhecido como “Bobó”, há 14 anos, ele percorre as bancas pegando dinheiro para trocar no comércio e nos bancos, para os vendedores não precisarem correr atrás de troco. Ele carrega até uma planilha onde anota a quantia que recebe, o troco necessário, e a comissão que receberá. “O Bobó é o Banco do Brasil da gente!”, conta Alberto. “Se perguntar quem é o Bobó, todo mundo conhece. Mas garanto que aqui ninguém sabe o nome dele”, comenta, animado.

Outros vendedores ambulantes também aproveitam a ocasião do evento para vender toda sorte de utensílios aos pescadores, desde lanches, café e doces, até facas, gelo, calculadora e canetas.”É uma oportunidade pra muita gente aqui.Tudo que tu possa imaginar que a gente utiliza aqui, aparece gente para vender. Além dos temperos, que também é uma venda tradicional na volta do Mercado”, conta Andreia.

O encerramento está previsto para a sexta-feira, dia 18, ao meio-dia. Além de 59 bancas com pescado, há uma com peixes vivos e cinco com gastronomia e petiscos, duas delas com peixe assado na taquara.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
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