
Da Redação
As aulas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul recomeçaram esta semana com os cinco restaurantes universitários fechados. Os espaços garantem a alimentação de 50 mil estudantes, mas estão de portas cerradas. As creches que atendem 130 crianças filhos de funcionários e professores da instituição também estão sem oferta de almoço. O transtorno e os gastos com alimentação pegou pais e estudantes de surpresa desde a última segunda-feira (2), quando iniciou o ano letivo.

Ainda que as aulas tenham começado oficialmente nesta semana, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufrgs acompanhava o problema dos RUs desde o final de fevereiro. “Nós sabíamos que tinha um problema porque ficou todo o período das férias sem os restaurantes. Tivemos um encontro com a reitoria que alegou problema na licitação. Mas, se houve desorganização para que deixassem começar o ano com os RUs fechados, os alunos não podem pagar esta conta”, afirma a estudante Natália Bittencourt, membro do DCE.
A aluna de Enfermagem Jaqueline Mendes diz que estranhou o restaurante fechado no primeiro dia de aula, no Campus Saúde, no bairro Rio Branco. Como observou que os demais dias seguiam iguais, procurou informações junto ao diretório acadêmico. “Ninguém mandou um e-mail para avisar ou colocou um cartaz, ao menos, em frente aos restaurantes para que a gente trouxesse comida e se preparasse para pagar fora, se fosse o caso. Nada fizeram”, afirma.
Outra estudante do mesmo campus lembra que a falta de amparo aos estudantes da instituição sem alimentação acessível compromete a renda de muitos colegas. “Nós temos bolsa e muitos vêm de outras cidades ou se sustentam em Porto Alegre por conta do estudo, por serem de outras regiões do estado. Pagar R$ 15 ou R$ 20 para almoçar nas opções fora do campus faz muita falta”, disse Vanessa Ozório.

Creche da UFRGS está sem almoço para as crianças
Com 150 alunos, 40 funcionários da universidade e 60 funcionários de uma empresa terceirizada, a creche que funciona no Campus Saúde é uma opção para os funcionários e professores de toda a instituição. O professor Rodrigo Nunez conta que buscar a filha todos os dias e gastar com almoço para toda a família fora de casa pesará no orçamento se a situação se prorrogar por mais tempo. “Atrapalhar a rotina dos adultos é o de menos, o pior é comprometer a rotina das crianças que têm um tratamento de excelência nutricional na creche da Ufrgs”, afirma. Ele diz ainda que, os deslocamentos de funcionários de campus mais distantes, como o Campus do Vale (bairro Agronomia) prejudica o rendimento do trabalho. “Muitos não dão conta de vir até aqui buscar os filhos almoçar e voltar até lá em tempo. E as chefias cobram. Isto está bem complicado”, relata.
De acordo com o Pró-Reitor de Assuntos Estudantis da Ufrgs, Angelo Ronaldo Rosa da Silva, a instituição encontrou sucessivas dificuldades no processo licitatório da empresa terceirizada responsável pela manutenção dos restaurantes e alimentação na creche da universidade. “Estamos contratando a quarta empresa que se apresentou. Desde o dia 24 de dezembro, estamos com o processo em andamento e as outras três empresas tiveram problemas para alcançar o número de profissionais necessários para a realização dos serviços”, explica.
Como forma de auxílio para parte dos estudantes bolsistas atendidos pelo Programa de Assistência Social da UFRGS, a universidade está oferecendo R$ 15 reais por dia para gastos com alimentação. Segundo o pró-reitor “850 pessoas recebem o auxílio” em um universo de 2,5 mil alunos do programa. “É uma medida que não atende nem 10% do todo de alunos prejudicados com o fechamento dos RUs. Isto é um deboche”, critica a tesoureira do DCE, Natália Bittencourt.

Para atender os cinco restaurantes universitários de toda a Universidade estão sendo contratados 221 profissionais. O período de férias dificultou o recrutamento dos profissionais habilitados e disponíveis no mercado, argumenta o pró-reitor. “Nós somos uma empresa pública. Tentamos agilizar o processo para não começarmos o ano nesta condição. No entanto, temos que respeitar os prazos legais para licitações. A cada desistência de uma das empresas, esperávamos até 10 dias para manifestação de interesse da próxima. Fizemos isso por quatro vezes até conseguir atender a demanda”, explica.
A previsão da UFRGS é reabrir os restaurantes universitários do Campus Centro e Campus do Vale no dia 16 de março. Os demais, assim como um sexto RU que deverá ser construído no Campus do Vale, deverão ser inaugurados até o final de março. Como alternativa para os estudantes que não têm condições de almoçar fora e em protesto contra o fechamento dos RUs, o DCE está promovendo salchipães.
Os estudantes se mobilizaram para oferecer pão, salsichão e informação para os acadêmicos. “Muitos não estão entendendo o que está acontecendo e porque estão fechados os RUs. Por isso, estamos começando o ano protestando contra esta desorganização e conversando com os alunos. Também temos microondas em alguns diretórios para quem precisar esquentara comida”, diz o coordenador do DCE, Gully Marchant.


