
Luís Eduardo Gomes
Com a presença de figuras políticas, artistas da cena e um público heterogêneo, foi realizada na tarde deste domingo (28), no Parque da Redenção, em Porto Alegre, mais uma edição da Parada de Luta LGBT, evento que marca o Dia Internacional do Orgulho LGBT e que busca aliar a festa e o brilho com reivindicações políticas, o que os organizadores dizem estar em falta em outras paradas pela causa.
Dia de festa e luta
O evento, que se estendeu do início da tarde – começou oficialmente às 15h – até o cair da noite na Redenção, contou a participação de milhares de pessoas, algumas de passagem e outras que marcaram presença do começo ao fim. No público, jovens – hétero, homo, bi e transexuais -, casais – de todas as orientações -, pessoas enroladas na bandeira do arco-íris, famílias com crianças pequenas, grupos de amigos, representantes de movimentos LGBT, integrantes de partidos – estavam presentes bandeiras do PSOL, PSTU e PCB -, davam o tom e o colorido da diversidade do evento.

Em cima do caminhão de som, sob o comando de Roberto, do Desobedeça, e das artistas Silvinha Brasil e Marrom, revezavam-se apresentações musicais – de Amy Winehouse a Wando – de artistas da cena LGBT local com discursos políticos e depoimentos.
Um dos momentos de maior emoção do evento foi justamente um depoimento, quando uma mulher, identificada como Alessandra, subiu no caminhão de som para contar a sua experiência como mãe de um adolescente de 13 anos homossexual. “Sou mãe de um gay, que nasceu gay, não virou gay por ‘modinha’, em momento algum eu deixei de amá-lo ou escondi ele”, disse, sendo muito aplaudida
Ela também atraiu aplausos ao lembrar que é responsabilidade dos pais por ajudar seus filhos a enfrentar o preconceito, seja ele na escola ou até mesmo dentro da própria família, por parte de familiares que não aceitam sua orientação sexual.
Cobrança política no Dia do Orgulho LGBT
Roberto Seintefus, da coordenação do grupo Desobedeça LGBT, um dos organizadores da Parada de Luta LGBT – em parceria com os movimentos Juntos, UJS, Diversos, com a Comissão da Diversidade da OAB-RS e outros grupos LGBT da Região Metropolitana e do interior do Estado -, afirma que o evento teve por objetivo misturar a festa da Parada Livre, tradicionalmente realizada em novembro, com a cobrança de políticas públicas.
“Precisamos de um movimento político mais sério, que não seja só um carnaval fora de época, mas consiga vincular a questão dos shows e da cultura LGBT com a reivindicação de direitos. A parada de luta tem esse caráter, reivindicar direitos”, explicou Seintefus.

Ele defendeu a importância das reivindicações políticas dos movimentos sociais, o que inclui a causa LGBT, em um momento de crescimento do conservadorismo no país, o que também afeta outros grupos discriminados.
“Hoje, existe uma concepção de estado que vem aparecendo cada vez mais de combate aos direitos humanos. A partir do momento que os movimentos começam a sair mais para rua, que começa a ter toda essa luta e conquistas, outros setores mais à direita e ultraconservadores tendem a aparecer cada vez mais para se contrapor a essa luta”, avaliou Seintefus.
Ele também salientou que outra questão importante da Parada de Luta é o fato dela ser realizada no dia 28 de junho. “É importante demarcar essa data como uma data de luta. Como é o 8 de março para as mulheres e o 20 de novembro para os negros, o 28 de junho é para a comunidade LGBT”, diz.
O 28 de junho comemora a chamada Revolta de Stonewall, em 1969, quando frequentadores (gays, lésbicas e travestis) do bar Stonewall Inn, em Nova York (EUA), se rebelaram contra a polícia, o que gerou um conflito de 4 dias. “Liderados por travestis, eles se rebelaram contra as constantes batidas da polícia, que inclusive cobravam dinheiro desses bares para que as pessoas pudessem se expressar livremente dentro deles”, explicou Seintefus, salientando ainda que a Parada de Luta é realizada desde 2007, sempre nessa época do ano.

O deputado federal Jean Wyllys, uma das participações mais aguardadas da Parada de Luta, também saudou o caráter político do evento.
“As paradas no Brasil inteiro viraram eventos de massa, já incorporadas ao calendário turístico das cidades. É um dia de festa, basicamente, e isso deu uma apagada na agenda política do movimento LGBT. Então é bacana que se construa um espaço paralelo em que a gente seja apresentada com um maior rigor, com mais clareza. Não que uma tenha que concorrer ou eliminar a outra, mas que tenha esse outro espaço e que seja no Dia do Orgulho Gay”, afirmou Wyllys.

Além disso, o deputado também sublinhou a importância do orgulho para o movimento LGBT. “É importante ser no Dia do Orgulho Gay porque, na maior parte do tempo, a gente vive a nossa sexualidade como vergonha “, disse o deputado, que ainda criticou as tentativas de também se criar um dia do orgulho hétero em contraposição.
“Não faz sentido falar em orgulho hétero, porque os héteros não experimentam a sua sexualidade como vergonha. Ninguém apanha na rua, ninguém é xingado por ser heterossexual ou cisgênero. Mas as pessoas transgêneras e homossexuais vivem a sua sexualidade com vergonha. Então, falar de orgulho, pride, é fundamental”, complementou. o deputado.
A Parada de Luta também contou com a participação de outras figuras políticas, como a candidata à presidência em 2014 Luciana Genro (PSOL), a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB), a vereadora de Porto Alegre Fernanda Melchionna (PSOL) e o candidato a governador em 2014 Roberto Robaina (PSOL).
Fernanda lembrou a importância da mobilização política do movimento LGBT ao falar sobre a votação do Plano Municipal de Educação, em que a Câmara dos Vereadores de Porto Alegre aprovou a retirada das questões de gênero e sexualidade do texto.
Além da defesa da causa LGBT, também subiram ao palco pessoas para falar sobre outras pautas, como o combate à redução da maioridade penal e contra a intolerância religiosa, entre outras.
O evento terminou por volta das 19h, com uma caminhada.
Confira mais fotos da Parada de Luta LGBT:











