
Jaqueline Silveira
A Praça Brigadeiro Sampaio, na Capital, foi o lugar escolhido pelo coletivo Cais Mauá de Todos realizar, na noite de sábado (1), uma audiência popular com o fim de discutir o impacto da revitalização do Porto nos espaços públicos. O local é, justamente, um dos afetados pela obra, que deverá iniciar em 2016. De acordo com o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) entregue à prefeitura no mês de julho pelo Consórcio Cais Mauá Brasil, responsável pela revitalização, 15 das 330 árvores previstas para serem derrubadas estão na Praça. Na área, está prevista a construção de uma elevada ligando ao shopping, que será erguido em frente à Brigadeiro Sampaio.
A Praça costuma reunir muitos frequentadores, principalmente das proximidades. No final da tarde de sábado, por exemplo, havia muitas mães com os filhos nos brinquedos. Outros usuários passeavam com seus animais de estimação ou tomavam chimarrão. No local, o grupo Cais Mauá de Todos fez uma exposição de um projeto alternativo de revitalização. Idealizado pela arquiteta e urbanista Helena Cavalheiro, o projeto de graduação “Manifesto Mauá – uma costura urbana no centro de Porto Alegre” é considerado ideal para a área pelo grupo Cais Mauá de Todos. A iniciativa foi elaborada pela arquiteta e apresentada ao final do curso de Arquitetura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2008. A proposta privilegia os espaços públicos e a manutenção das características históricas e culturais do Cais do Porto.

Projeto alternativo
O modelo prevê a transferência do muro da Avenida Mauá para entre os armazéns e o Rio Guaíba. Seria uma estrutura móvel erguida do chão em caso de necessidade para não atrapalhar a bela vista de um dos cartões postais da capital gaúcha. Já a Avenida Mauá daria lugar a uma área de convivência que se estenderia até a Usina do Gasômetro e ainda promoveria a integração com os principais pontos turísticos do Centro Histórico, como o Mercado Público, Igreja das Dores, Praça da Alfândega e Casa de Cultura Mário Quintana. Para a passagem dos carros na Mauá, seria construído um túnel e mais duas vias secundárias com o fim de absorver o fluxo de veículos nos arredores.
A revitalização proposta pela arquiteta, que participou da audiência pública da noite deste sábado, também prevê a desativação do Trensurb no trecho entre a Estação Rodoviária e o Mercado Público sendo substituído por um veículo mais leve – BRT- que se estenderia até a Usina do Gasômetro. “Esse é um evento que faz o contraponto à audiência impopular que ocorrerá na Câmara de Vereadores. Todos nós queremos a revitalização do Cais, o que a gente quer é discutir a que preço”, explicou o sociólogo João Volino, integrante do Cais Mauá para Todos, ao público que estava na Brigadeiro.

Muitos frequentadores que circulavam pela Praça pararam para conferir o projeto em exposição. Esse foi o caso do analista de infraestrutura José Alves, que mora nos arredores da Brigadeiro Sampaio e não concorda com a ideia de derrubar as árvorese erguer construções. “Não tem o mínimo de fundamento, eu quero mais verde”, disse ele, enquanto tomava um chimarrão. “Essa Praça tem uma história importante e tem de ser preservada. Não destruída. É um patrimônio dos usuários”, argumentou Sonia Hercz, também integrante do coletivo.
Já o representante dos vizinhos do Centro Histórico Rafael Ferretti ressaltou que muitos grupos informais frequentam a Brigadeiro Sampaio e que “essa harmonia tem de ser mantida.” “Queremos o nosso pôr do sol livre”, defendeu ele, convidando a todos a contemplar a bela paisagem no Rio Guaíba no momento em que começava a anoitecer. “O lugar dos encontros humanos é a rua e a rua é insubstituível”, destacou Liana Cirne Lins, advogada de Direito Público e uma das integrantes do Movimento Ocupação Estelita de Recife – espaço que estava prestes a se tornar um empreendimento comercial com 12 torres e foi freado pela mobilização dos ativistas.

Impacto ambiental
Durante a audiência popular, os ativistas do coletivo Cais Mauá para Todos recolheram assinaturas contra a revitalização proposta para o Porto. O técnico mecânico André Vicente Brassiani Ramos foi um dos que assinou. “Sou totalmente contra, esse é o pulmão para essa região. O calor vai ser bem pior se derrubarem as árvores”, justificou ele, que passeia três vezes por dia na Brigadeiro Sampaio com seu cachorro. Foi na Praça, inclusive, que foi formado o “grupo de cachorreiros” do qual ele faz parte. No local, eles fazem churrasco e tomam chimarrão.

O impacto ambiental da remoção das árvores e das obras previstas também preocupa a bióloga Larissa Barbosa, que está fazendo uma análise do ponto de vista ecológico para auxiliar o coletivo Cais Mauá de Todos. Ela afirmou que devido à remoção da vegetação e aos empreendimentos de concreto previstos para o local deve alterar a temperatura da região em dois graus. A bióloga também frisou que está preocupada com “as medidas mitigadoras” – ações para reduzir o impacto e promover a convivência – “não são claras”. “Ecologicamente essa área será descaracterizada”, acrescentou ela, Larrisa, sobre os impactos das obras.
Durante a audiência, que teve show do cantor Nei Lisboa, foi feito o cercamento simbólico dar árvores que devem ser cortadas para dar lugar às obras de revitalização. Novas atividades serão promovidas pelo coletivo Cais Mauá para Todos em defesa dos espaços públicos.O Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental está sendo analisado pela Secretária do Meio Ambiente (Smam) de Porto Alegre e uma audiência pública será realizada para discutir o impacto da obra com a população, porém não foi definida a data.

Confira mais fotos da audiência popular na noite de sábado:




