
Débora Fogliatto
Um projeto chamado Tribo Viva é mais uma possibilidade na rede de consumo colaborativo que cresce em Porto Alegre. A ação media a compra e a venda de alimentos, mas não estoca, não revende e não distribui. Trata-se de uma iniciativa voltada para produtos orgânicos, que acontece na região metropolitana de Porto Alegre. Criada pelo chef de cozinha Pietro Rocha e pelo publicitário Marcos Delgado, a Tribo é uma start-up que, paralelamente, é muito ativa no mundo real. O modelo basicamente reúne, além de seus criadores, produtores rurais de alimentos orgânicos, um coordenador de entregas e os consumidores.
Desses agentes, cada um cumpre seu papel no ciclo da colaboração: os organizadores identificaram e mapearam os produtores rurais, em sua maioria de agricultura familiar, que trabalham com produção orgânica. Entraram em contato com eles para firmar a parceria e criar uma “oferta”. Basicamente, o produtor informa quais os alimentos que têm e qual o preço de cada um, que são colocados à disposição do público em forma de cesta. Ao mesmo tempo, pessoas se inscrevem no site para serem coordenadores, ou seja, aquele que recebe os alimentos e de quem os consumidores então irão pegá-los. Quando todas as cestas daquela leva são vendidas, ele entra em ação, após pagamentos feitos via transferência, os produtos ficam disponíveis em sua casa ou local de trabalho.

A iniciativa surgiu das experiências que o carioca Pietro, de 40 anos, teve morando na Europa, onde o consumo de alimentos orgânicos está muito mais disseminado que no Brasil. “Trabalhei lá durante alguns anos e quando voltei, me mudei para Porto Alegre. Nisso, eu queria dar uma guinada na carreira a partir das perspectivas de sustentabilidade, inclusão, potencial que a gastronomia tem de ser poder transformador na sociedade”, afirmou. Já na capital gaúcha, conheceu seu sócio, que também estava querendo voltar seu ofício para a responsabilidade socioambiental. O chef conheceu sua esposa em Londres e os dois vieram para cá, cidade escolhida por ele por ter achado “mais estratégico, mais propício, com valores comunitários, sócio-políticos e interessantes, melhor para esse tipo de conceito”.
A Tribo tem um ano e meio de existência, mas a plataforma online funciona há menos de dois meses. Antes disso, as encomendas eram feitas pelo Facebook. “Esse novo tipo de economia está se expandindo muito rapidamente na Europa e na América do Norte. Percebemos que essa forma de colaboração tinha um potencial muito grande que poderia representar um diferencial, na questão de gerar acesso às pessoas e a esse tipo de alimentação”, explicou Pietro.
Para ele, a questão vai muito mais além do que a simples compra e venda de alimentos. “A economia colaborativa é realmente um embrião desse pós-capitalismo que está se desenvolvendo. Vemos cada vez mais que a única forma de os cidadãos poderem adquirir e desfrutar dos seus direitos é se organizando para poder suprir essas lacunas que as grandes corporações colocam entre nós e o nosso direito”, reflete. O fundador da Tribo destaca que, nesse sentido, os alimentos são comercializados por preços muito mais baixos do que nos supermercados e sites de compra online, por serem estabelecidos pelos próprios produtores, sem intermediários.

No site, os preços estão detalhados em cada alimento, além de haver a taxa de manutenção da Tribo (em geral, em torno de R$ 6 por cesta) e do coordenador da venda, que recebe uma cesta sem precisar pagar. Com cerca de 12 a 15 itens, de um quilo ou 500 g de cada, os preços das ofertas variam de R$ 35 a R$ 51, em média. “A gente está conseguindo quebrar essa mistificação do orgânico ser caro. Porque não é caro, é a representação viva da harmonia da alimentação humana com a natureza. Esse mito é decorrente desses monopólios, da monocultura, dos transgênicos, todas essas loucuras que existem hoje em dia”, afirma Pietro.
Ele conta que o sucesso da rede é perceptível, com cerca de 4 ofertas acontecendo paralelamente por semana. Pessoas de todos os tipos, idades, classes sociais e opiniões político-ideológicas abraçaram a ideia, conforme o organizador. A ideia é chegar a um ponto em que todas as regiões da cidade estejam sendo atendidas paralelamente, embora, por enquanto, a maioria das entregas tenha acontecido principalmente em bairros mais centrais. “As pessoas estão vindo com muita alegria e felicidade participar da nossa rede de consumo colaborativo, vendo que é uma nova forma de consumir e é uma saída para a sociedade. Sabemos que alimento é agregador”, comemora.