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3 de outubro de 2015
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21:56

Ato da Frente Brasil Popular em defesa da Petrobras marca 62º aniversário da estatal

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
03/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Caminhada da Frente Ampla em defesa da democracia e da Petrobrás. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Caminhada da Frente Brasil Popular reuniu movimentos sociais e sindicais em defesa da democracia e da Petrobras | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Luís Eduardo Gomes

O sábado (3) foi marcado, no centro de Porto Alegre, por um ato de lançamento da Frente Brasil Popular, que busca unificar movimentais sociais, organizações sindicais, partidos políticos e demais alas de esquerda da sociedade. A data escolhida também é o dia do aniversário de 62 anos da Petrobras, e foi registrada nas falas do movimento que defende a estatal contra os interessados em sua privatização.

O ato começou por volta das 10h com uma concentração em frente à Prefeitura de Porto Alegre. Enquanto militantes de movimentos sociais, sindicais, estudantis e da juventude iam chegando ao local, oradores se revezavam no carro de som em manifestações em defesa da democracia, da continuidade do governo Dilma Rousseff (PT) – apesar de críticas à sua política econômica – e da Petrobras.

O vereador de Porto Alegre Alberto Kopittke (PT) lembrou que a luta em defesa do petróleo nacional tem quase 100 anos, pois começou com o escritor Monteiro Lobato na década de 20. “Durante 30 anos os EUA tentaram nos convencer de que o Brasil não tinha petróleo, até a Petrobras ser fundada, em 1953”, disse o vereador.

03/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Caminhada da Frente Ampla em defesa da democracia e da Petrobrás. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Representantes do Sindipetro-RS criticam projetos que preveem a concessão da exploração do pré-sal sem a participação da Petrobras | Foto: Guilherme Santos/Sul21

A vereadora Jussara Cony (PCdoB) também lembrou da operária Angelina Gonçalves, militante de esquerda que, segundo ela, foi morta pela Brigada Militar em 1950, na cidade de Rio Grande, durante ato em defesa do petróleo nacional.

De acordo com Claudir Nespolo, presidente da Central Única dos Trabalhadores no RS (CUT-RS), a Frente defende a manutenção de conquistas que aconteceram no governo Lula, como a mudança no modelo de concessão para partilha na exploração do petróleo e a produção de equipamentos com conteúdo nacional. “Neste momento, o Senado debate o PLC 131, é um projeto que objetiva desconstituir essas conquistas e, pior que isso, retirar da Petrobras a exclusividade da produção e do controle do pré-sal, especificamente”, disse.

Nespolo salientou que o objetivo da Frente não é ignorar o tema da corrupção na estatal, mas sim defender uma investigação plena. “Nós estamos entre aqueles que querem que se investigue tudo e todos, portanto não de forma seletiva como temos observado”, afirmou.

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), que também integra a Frente, destacou no ato o papel do Congresso na atual conjuntura. “Precisamos defender a democracia e evitar o golpe para evitar retrocessos políticos e sociais que tivemos em nosso país. Queremos avançar e resistir contra todos os tipos de golpe, principalmente esse que querem dar a nós trabalhadores no Congresso Nacional”, afirmou Guiomar Vidor, presidente da CTB/RS.

Eram 11h20 quando os manifestantes iniciaram uma marcha em direção à Praça da Alfândega, subindo a Avenida Borges de Medeiros, passando pelas ruas Riachuelo e Caldas Júnior até chegar à Torre do Petróleo, monumento localizado na praça.

03/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Caminhada da Frente Ampla em defesa da democracia e da Petrobrás. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Caminhada subiu a Borges de Medeiros na manhã deste sábado | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Frente para unir a esquerda

Lançada nacionalmente em setembro, a Frente Brasil Popular tem o objetivo de unificar as forças de esquerda no País e reconstruir posições que foram se enfraquecendo ao longo dos 13 anos de governo federal do PT. “Estamos convocando setores para construir uma plataforma junto, que recupere esses conceitos de aprofundar as mudanças e combater o rentismo e o neoliberalismo”, diz Nespolo, que salienta que a frente ainda está em um estágio “embrionário”.

Para o deputado estadual Edegar Pretto (PT), se faz necessária a constituição de uma frente de esquerda em um momento em que Brasil convive com o crescimento de uma “onda reacionária de direita”. “A intolerância, o preconceito e a discriminação estão muito mais potentes agora nessa luta de classes do País. Avalio que esse é um momento de resistência. Quando você está enfraquecido, a melhor forma de se fortalecer é se juntando”, disse.

O deputado afirmou que, nesse primeiro momento, cabe ao PT refletir e “acertar o passo” com movimentos populares e sindicais. “Eu acho que houve um período de distanciamento em um momento em que estávamos no governo com o presidente Lula, desfrutando de sua popularidade de 70%, criando muitos programas sociais que incluíram milhões e milhões de brasileiros, que passou uma sensação, principalmente para a direção partidária nossa, de que a gente já não tinha mais adversários, que já era possível conviver com a direita, com os industriais”, disse. “A roda da economia girou de tal foram que quem era rico virou milionário, mas o ódio de classe eles não perderam”.

03/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Caminhada da Frente Ampla em defesa da democracia e da Petrobrás. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Integrantes do movimento Levante Popular da Juventude se pintam antes do ato |  Foto: Guilherme Santos/Sul21

Como dialogar com a população?

Após mais de uma década de um governo liderado por um partido de esquerda, um dos principais desafios da Frente é justamente fazer o diálogo com o restante da sociedade se apresentando como um modelo alternativo também de esquerda.

Para o ex-governador Olívio Dutra (PT), o Brasil vive um momento em que a democracia está ameaçada, mas reconhece que o PT tem uma parcela de culpa no enfraquecimento das forças de esquerda que poderiam se mobilizar pela defesa do governo Dilma.

“O Partido dos Trabalhadores é, nesse momento, um complicador, porque temos uma direção que não respondeu às coisas erradas que foram cometidas por figuras do partido e com cargos importantes no governo. Erros seríssimos que feriram um patrimônio ético e moral de um partido de esquerda, que não é a esquerda, mas é a parte de uma esquerda do Brasil. Não podemos jamais cometer os erros que cometemos”, diz.

03/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Caminhada da Frente Ampla em defesa da democracia e da Petrobrás. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Ato reuniu centenas de pessoas em frente à prefeitura | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Cedenir de Oliveira, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no RS, avalia que a Frente deve retomar o trabalho político de base e fazer uma recomposição das forças de esquerda para enfrentar o pensamento conservador. “A sociedade está refletindo o que nós vemos todos os dias no meio de comunicação. Os grandes meios de comunicação de massa do País se transformaram no grande partido da direita. É uma tarefa que não é fácil num período de crise. Se nós tivéssemos avançando, o debate seria outro”, avalia.

Ele acrescenta que o primeiro momento da Frente é de organizar a militância dos movimentos para dialogar com a sociedade. “Há necessidade de construir algo diferente. Não podemos negar todo o ciclo histórico do governo do PT, mas esse processo entrou em esgotamento. É preciso uma reformulação. Nós enxergamos na Frente uma possibilidade de recompor as organizações, os movimentos e os partidos numa outra perspectiva de organização para enfrentar a crise política”, diz.

Também estiveram presentes no ato os atuais deputados estaduais Adão Villaverde (PT), Tarcísio Zimmermann (PT), Stela Farias (PT), Nelsinho Metalúrgico (PT), o deputado federal Henrique Fontana (PT), a vereadora Titi Alvares (PCdoB), o ex-prefeito de Porto Alegre e ex-deputado Raul Pont (PT), bem como lideranças de entidades sindicais, lideranças do movimento de servidores estaduais, movimentos estudantis e afro, entre outros.

03/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Caminhada da Frente Ampla em defesa da democracia e da Petrobrás. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Caminhada da Frente Brasil Popular em defesa da democracia e da Petrobras | Foto: Guilherme Santos/Sul21
03/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Caminhada da Frente Ampla em defesa da democracia e da Petrobrás. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Caminhada da Frente Brasil Popular em defesa da democracia e da Petrobras | Foto: Guilherme Santos/Sul21
03/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Caminhada da Frente Ampla em defesa da democracia e da Petrobrás. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Caminhada da Frente Brasil Popular em defesa da democracia e da Petrobras | Foto: Guilherme Santos/Sul21

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