
Luís Eduardo Gomes
A Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH) da Assembleia Legislativa debateu nesta segunda-feira (5), o tema da liberdade e diversidade religiosa com a presença de representantes de diversas religiões e de estudantes que participaram de um projeto de curtas metragens desenvolvido em escolas do Rio Grande do Sul.
Uma das principais atrações do evento foi a exibição e premiação de três curtas produzidos por alunos de Ensino Médio para o concurso cultural Curta Liberdade e Diversidade Religiosa, promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (Anec) e que faz parte do projeto, que teve o objetivo de estimular o debate sobre o tema nas escolas.
Bruna Dimer, 15 anos, aluno do 1º ano de Ensino Médio do Colégio Luterano da Paz, de Porto Alegre, diretora do curta “O Diário de Clara”, diz que precisou pesquisar muito sobre a umbanda para a criação do filme, que trata sobre o relacionamento de um jovem dessa religião com uma jovem católica.
“Eu não conhecia nada da religião umbanda. A gente começou a pesquisar e viu que não era o que a gente pensava. Então, a gente viu muitos vídeos, conversou, teve que discutir como íamos abordar esse tema”, disse. “Apesar de nós não termos preconceito, as pessoas têm, e a gente precisava mostrar a religião umbanda não é como todo mundo acha, que é só matar galinha, que são macumbeiros”.

Luana Moraes, 16 anos, estudante do 1º ano do Ensino Médio da Escola Fátima, de Sapucaia do Sul, roteirista do curta “O Recomeço”, que trata de uma mãe que deseja impor uma educação religiosa rigorosa à sua filha e a impede de viver como uma “adolescente normal”, diz que ficou feliz em participar do projeto para mostrar que sua escola é um ambiente sem preconceito.
“Nós jovens não temos mais preconceitos. Estamos lutando contra isso”, disse. “Alguns adultos acham que nós jovens só queremos julgar os outros, mas não é isso que a gente quer. Apesar de sermos novos, nós temos cabeça e maturidade para pensar desse jeito”.
Ela diz que, por estudar em uma escola de confissão católica, já escutou muitas “piadinhas”, especialmente quando participa de torneios esportivos com outras escolas. “Na minha escola existe muito respeito e eu nunca vi nenhuma piadinha. Mas, na rua, quando a gente vai participar de um torneio, muitas pessoas falam ‘ai, porque são santinhas, estudam em escola de irmãs'”.
O outro curta homenageado na audiência foi “O Ato”, produzido por alunos do 1º ano de Ensino Médio Colégio Romano Senhor Bom Jesus, de Porto Alegre.
Conselheira estadual da ANEC, Maria Regina Coronet Laner, afirmou que o projeto Curta na Educação foi um convite para que alunos, professores e pais refletissem sobre a liberdade religiosa como um direito de todos. Ela salientou que 28 curtas diferentes, feitos por alunos de 11 instituições de ensino de sete cidades do Estado, foram inscritos no projeto. Os três curtas premiados foram selecionados em votação pela internet (confira aqui os demais curtas participantes do projeto) e receberam um certificado da AL.

Tolerância para melhorar a educação
Presente no início da audiência, o secretário de Educação do Estado, Vieira da Cunha (PDT), afirmou que um ambiente de intolerância religiosa prejudica o aprendizado. “Nós sabemos aquelas comunidades escolares que vivem em um ambiente de violência, de intolerância, de conflito, elas sofrem um enorme prejuízo no processo de aprendizagem. Não se consegue construir uma educação de qualidade sem que nós estejamos em um ambiente de respeito recíproco, de tolerância, de boa convivência”, disse Vieira.
Vieira também salientou que, para se criar um ambiente de liberdade e diversidade religiosa dentro de escolas, é essencial que crianças e adolescentes conheçam as diversas religiões. “Não se pode respeitar o que não se conhece. A intolerância muitas vezes é fruto da ignorância. Na medida em que haja, de parte dos nossos estudantes, o conhecimento das diversas religiões, dos diversos credos, e até daqueles que não creem, que também tem o direito de não crer e tem que ser respeitados, nós vamos evitar que atos de violência e de intolerância possam se repetir no futuro”, avaliou.
Já o deputado estadual Catarina Paladini (PSB), presidente da CCDH e proponente da audiência ao lado da Anec, saudou o fato de a audiência ter sido uma oportunidade de ouvir integrantes e adolescentes de diversas religiões. “Se ouviu aqui um aluno que é ateu, um aluno que simpatiza com a Igreja Católica, mas também outros tantos que puderam externar dizendo que o grande sentimento que deve orientar aqui é o amor ao próximo. Isso independe da religião”, afirmou o deputado. “Proliferar esse sentimento dentro de uma rede curricular que vai formar os novos cidadãos nos devolve uma certa tranquilidade”, complementou.

A audiência também contou a presença de representantes de diversas religiões e abriu espaço para que adolescentes falassem de suas experiências com a religião dentro e fora das escolas.
Babá Diba de Yemenjá, coordenador do Conselho do Povo do Terreiro do Rio Grande do Sul, lembrou ataques realizados contra mães e pais de santo este ano no país e defendeu que haja uma maior divulgação do conhecimento sobre as religiões para que diminua o preconceito. “A sociedade precisa saber o que é a umbanda para poder entender”, disse, acrescentando que as pessoas que seguem a umbanda também são vítimas de preconceito racial. “A intolerância religiosa é o lado mais perverso do racismo”, disse.
Jean Marques Regina, representante da Igreja Luterana do Brasil, considerou que o Brasil ainda é um País privilegiado em termos de liberdade religiosa, mas que vive um “momento preocupante”.
Ele lembrou o caso da menina Kailane Campos, 11 anos, que foi atingida por uma pedra no último mês de junho, no Rio de Janeiro, quando saia de um culto com um turbante na cabeça. “Esse caso mostra que a violência simbólica começa a galga passos para a violência real”, afirmou.
O estudante Guilherme Sperb, Colégio Romano Senhor Bom Jesus, que dirigiu o curta “O Ato”, afirmou que a questão da diversidade está ligada a aceitação e ao preconceito. “Quem julga é porque não conhece quem está sendo julgado”, disse.