

Luís Eduardo Gomes
Em greve desde o dia 6 de outubro, bancários de Porto Alegre usaram irreverência e criatividade para chamar a atenção da população no Centro da cidade nesta quarta-feira (14). Contando com o apoio de um profissional, manifestantes receberam maquiagem inspirada na série de televisão “Walking Dead” e participaram de uma “Zombie Walk”, ou Marcha dos Zumbis.
Como já é tradicional nas manifestações da categoria, o ato começou com um “salchipão” na Praça da Alfândega por volta do meio-dia. Após o almoço e um tempo para que as maquiagens fossem concluídas, eles partiram às 13h para a marcha temática pela rua Caldas Júnior, passando por vias como Siqueira Campos, General Câmara, Sete de Setembro e Borges de Madeiros. No caminho, encenaram “ataques” a agências bancárias. O ato terminou com uma encenação na Esquina Democrática com os zumbis dançando ao ritmo da música “Vamos Zumbi”, uma paródia da canção “Vamos Fugir” (de Gilberto Gil), pouco antes das 14h.

Segundo Everton Gimenis, presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região Metropolitana (SindBancários), que organizou o ato, a ideia da “Zombie Walk” teve o objetivo de chamar a atenção para o “adoecimento” da categoria. “Nós temos uma pesquisa nacional que diz que mais de 40% da categoria toma algum tipo de antidepressivo e ansiolítico por conta da questão de metas abusivas, assédio moral e pela falta de condições de trabalho”, disse Gimenis.
Os bancários também denunciam que há um grande número de profissionais da categoria que se afastam por contas de doenças do trabalho. “Nós temos muitos colegas que com menos de 40 anos estão inválidos para qualquer trabalho. O sistema neurológico deles totalmente afetado, sem contar a parte muscular, onde não conseguem mais mexer o tronco, os braços”, disse José Henrique Bielecki Wierzchowski, funcionário do setor de logística da Caixa Econômica Federal, referindo-se também às doenças causadas por esforço repetitivo. “Com esse movimento de ‘Walking Bancários’ ou ‘Bancários Dead’, nós queremos denunciar a questão do adoecimento do trabalhador. Os bancários muitas vezes não representam para a maioria do conjunto de trabalhadores da população estar numa profissão que castiga e que vai adoecendo, mas, na realidade, a cobrança de metas abusivas pelo patrão, seja ele público ou privado, faz com que o bancário adoeça”.

Sem proposta dos bancos
Segundo Gimenis, a última proposta recebida pelos bancários pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) foi em 25 de setembro, de reajuste salarial de 5,5%, abaixo da inflação registrada no último período, 9,88%. Os bancários exigem 16% de reajuste. Em razão dessa falta de diálogo, ele diz que não há previsão para o fim da greve. “Enquanto a Fenaban não voltar para a mesa de negociação e apresentar uma nova proposta para ser avaliada, a categoria segue em greve”, disse. O sindicalista ainda afirma que a Fenaban também não fez nenhuma menção de atender às outras pautas da categoria (ver abaixo).
Para Wierzchowski, a manutenção da greve é inevitável diante da “proposta ridícula” da Fenaban. “O segmento que mais lucra nesse país. Ano após ano acumula ganhos, aonde nesse ano já somam mais de 20% sobre o que ganharam no ano passado. Querem simplesmente dar metade da inflação, não querendo em hipótese alguma dar ganho real”, afirmou. “A greve talvez não seja a melhor coisa, mas ela acontece em virtude da frustração das negociações. Os banqueiros hoje se sentem muito à vontade, porque eles têm o capital na mão e qualquer tipo de manifestação dos sindicatos em mesas de negociação é frustrada. Simplesmente a resposta deles é não, o que nos força a ir para uma greve”, complementou.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) estima que cerca de 12 mil agências bancárias estejam paradas no Brasil e mais de mil agências do RS estão totalmente fechadas, o que representaria cerca de 80% do total. Segundo Gimenis, no Centro de Porto Alegre, há algumas agências do Banrisul e do Banco do Brasil abertas, enquanto quase a totalidade das agências de bancos privados estão fechadas na Região Metropolitana.

Confira a pauta de reivindicações dos bancários:
– Reajuste salarial de 16% (5,7% de aumento real);
– PLR: 3 salários mais R$7.246,82;
– Piso: R$3.299,66 (equivalente ao salário mínimo do Dieese em valores de junho último).
– Vales alimentação, refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá: R$788,00 ao mês para cada (salário mínimo nacional);
– Melhores condições de trabalho com o fim das metas abusivas e do assédio moral que adoecem os bancários;
– Emprego: fim das demissões, mais contratações, fim da rotatividade e combate às terceirizações diante dos riscos de aprovação do PLC 30/15 no Senado Federal, além da ratificação da Convenção 158 da OIT, que coíbe dispensas imotivadas;
– Plano de cargos, carreiras e salários (PCCS) para todos os bancários;
– Auxílio-educação: pagamento para graduação e pós;
– Prevenção contra assaltos e sequestros: permanência de dois vigilantes por andar nas agências e pontos de serviços bancários, conforme legislação. Instalação de portas giratórias com detector de metais na entrada das áreas de auto-atendimento e biombos nos caixas. Abertura e fechamento remoto das agências, fim da guarda das chaves por funcionários;
-Igualdade de oportunidades: fim às discriminações nos salários e na ascensão profissional de mulheres, negros, gays, lésbicas, transexuais e pessoas com deficiência (PCDs).




