
Débora Fogliatto
Há quinze anos, movimentos sociais e entidades de diversos países se reuniram em Porto Alegre para debater as mudanças que acreditavam ser necessárias no mundo, na primeira edição do Fórum Social Mundial. Em 2016, após percorrer outros continentes e se consolidar como um importante evento na agenda da esquerda internacional, o Fórum é comemorado na capital gaúcha entre os dias 19 e 23 de janeiro. Nesta quinta-feira (9), ocorreu o lançamento do FSM, na Prefeitura Municipal, em que se destacou principalmente o caráter de defesa da democracia presente no evento.
O prefeito José Fortunati chegou de terno e gravata, mas ao receber uma camiseta oficial do evento, prontamente trocou a vestimenta, recebendo aplausos dos presentes, em sua maioria representantes de entidades organizadoras. Ele definiu o Fórum como a “consolidação das várias visões que querem mudar o mundo”, e afirmou que há uma convicção que une todos os participantes. “Somente mudando o atual sistema conseguiremos avançar. Vivemos um momento crucial no mundo, no Brasil e na democracia”, disse.
Ele anunciou ainda que o Conexões Globais, evento sobre cultura digital que era promovido pelo governo estadual até o ano passado, será realizado pela Prefeitura de forma paralela ao Fórum Social Mundial. O prefeito já confirmou a presença do sociólogo espanhol Manuel Castells, um dos principais estudiosos contemporâneos dos movimentos sociais na era da internet e autor do livro “A sociedade em rede”. Fortunati também aproveitou para declarar que irá sancionar, nesta sexta-feira (11), o projeto de lei que institui o Dia da Consciência Negra, voltando a ser bastante aplaudido.
Outro mundo

Durante o lançamento, as falas em geral abordaram o cenário político do Brasil e do mundo, que passam por momentos turbulentos no âmbito da política, economia e meio ambiente. “O Fórum pregava que um outro mundo é possível. Agora, ainda é necessário fazer a reflexão sobre avanços e sobre o que precisamos rever desde lá”, assinalou o secretário-adjunto de Governança Local, Carlos Siegli, destacando também a necessidade de haver uma “união dos movimentos sociais para mudar a sociedade”.
Diversas entidades que promovem o Fórum se manifestaram na abertura. Cristina Corrêa, da União Brasileira de Mulheres (UBM), apontou o grande papel das mulheres no evento, tendo em vista que “temos perdido direitos recentemente, mas também temos promovido manifestações como resultado disso”. Mauri Cruz, presidente da Associação Brasileira de ONGs (ABONG), também mencionou que o país passa por “um momento muito crítico”. “Queremos apontar que esse modelo de sociedade é insustentável e isso está confirmado. O Fórum é um local onde pessoas de todo o mundo se reúnem para construir uma alternativa”, afirmou.
O FSM tem ainda o caráter de questionar o “capitalismo selvagem”, conforme apontou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Claudir Nespolo. “Eu não sei se há unanimidade aqui, mas eu acredito na união das entidades pela democracia e contra o golpe”, acrescentou, sendo aplaudido pelas pessoas presentes.
A vereadora Jussara Cony (PCdoB) falou em nome da Câmara Municipal, definindo o Fórum como “articulação internacional de todos os povos em luta”. “Temos a tarefa de garantir o Estado democrático de direito”, afirmou. Para a deputada Stela Farias (PT), o evento é um “espaço de garantia da democracia e diversidade”. Ela também criticou o aumento da intolerância e do conservadorismo no país. “Não podemos aceitar o aumento da intolerância e não aceitaremos nenhum passo atrás nos direitos da pessoa humana”, assegurou.