
Débora Fogliatto
Situado em uma área elevada, o Centro de Porto Alegre se consolidou como polo mais importante da cidade ainda no século XIX, precisando superar dificuldades para que fosse possível acessá-lo, devido a sua altitude. Entre as ruas Fernando Machado e Duque de Caxias, uma ladeira representava um obstáculo para a urbanização no ano de 1928, inspirando a Prefeitura da época a começar a construção de uma escadaria no local, em alvenaria de tijolos e pedras. A escadaria construída na rua João Manoel, que na época era ponto turístico e histórico, atualmente está deteriorada, sofrendo com o descaso de diversas administrações municipais.
O projeto foi assinado pelo arquiteto Cristiano de La Paix Gilbert, executado pela construtora de Theodor Wiederspahn e, anos depois, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura. A escadaria apresenta balaustradas na parte alta, com o caminho levando a um amplo patamar onde existem duas escadas laterais. Originalmente, servia como mirante de onde se podia admirar o Guaíba, mas essa função foi se perdendo conforme a construção de prédios cobriu a vista para o rio.
Agora, um coletivo que busca transformar Porto Alegre em Cidade Criativa tem como primeiro projeto a revitalização da escadaria. O conceito, criado pelo inglês Charles Landry, pode ser resumido como um lugar onde, além das pessoas poderem se expressar e crescer, o poder e a tomada de decisões são compartilhados entre os cidadãos. A partir daí, o movimento chegou também à Capital gaúcha para promover uma cidade mais humana, alegre e criativa.

“Conectadas, economia criativa e cultura pujante são as marcas de uma cidade criativa. As cidades criativas não são apenas cidades com boas ideias, são cidades com boas práticas. São cidades onde as pessoas não se enclausuram em suas casas e locais de trabalho, onde em permanente catarse ficam reclamando dos problemas da urbe nas redes sociais. Cidades criativas são cidades onde as ruas são vivas”, definem os integrantes do coletivo. A primeira ação proposta por eles foi ainda em janeiro, quando um tanque de guerra foi colocado como monumento na Avenida Ipiranga, e o coletivo teve a ideia de pintá-lo, transformando-o em “tanque de amor”. O “monumento” acabou sendo retirado, mas o grupo permaneceu.
“Pensamos que a cidade tem poucas questões relacionadas a isso e fizemos uma primeira provocação com a ideia da intervenção urbana no tanque. Como alguns integrantes vivem na região central, perceberam que a escadaria estava totalmente abandonada pelo poder público e pela população”, conta Thiago Braga, um dos fundadores do POA Cidade Criativa. A ideia é justamente tentar resgatar a importância e a história do local.

Por se tratar de patrimônio histórico, há alguns cuidados necessários. A estudante de Arquitetura e Urbanismo Francieli Hendges faz parte do grupo de pessoas responsáveis por articular isso com a Secretaria de Cultura e elaborar um projeto que respeite o patrimônio. “A proposta é fazer as intervenções relacionadas a arte urbana ou grafite no entorno, não na escadaria em si. Na escadaria a ideia é um restauro mesmo. Assim que a gente tiver as limitações definidas, vamos elaborar um projeto, para depois partir para um plano de ação”, conta ela, que explicou que ainda não foi possível se reunir com a arquiteta responsável por essa área, que está de licença.
Além das pinturas e grafites nas laterais, houve a sugestão de tornar a parte onde há uma bifurcação em um palco para teatro de rua. “A ideia é fazer uma intervenção urbana, na lógica de que o cidadão colabore, e de forma colaborativa, construtiva com as pessoas, com os artistas, atores, para ser um espaço cultural da cidade estando ao mesmo tempo atento à preservação”, resume Thiago. O evento criado para a restauração acontece no dia 18 de março e, até lá, o coletivo pretende realizar encontros entre si e abertos à comunidade para elaborar o projeto.
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