

Marco Weissheimer
A presidenta Dilma Rousseff reafirmou, na noite de sexta-feira (20), que não desistirá da luta pelo mandato que lhe foi outorgado pelo voto de mais de 54 milhões de brasileiros, nas eleições de 2014, e que não ficará presa dentro do Palácio da Alvorada esperando o tempo passar. A afirmação foi feita na abertura do quinto Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, em Belo Horizonte. Milhares de pessoas se concentraram em frente ao hotel Othon Palace Belo Horizonte, onde ocorre o encontro, para receber Dilma que foi calorosamente aplaudida. Ela falou ao público do encontro e depois teve uma conversa com blogueiros sobre a atual situação da conjuntura política do país.
“Vou lutar no Senado, no Judiciário e em todas as instâncias. Eu não vou ficar presa dentro do Alvorada. Não é minha intenção ficar lá dentro isolada”, garantiu a presidenta afastada do cargo por um período de até 180 dias, enquanto ocorre o julgamento no Senado. Na conversa com blogueiros e blogueiras, Dilma analisou o perfil das forças políticas que estão articulando o golpe contra o seu mandato.
“Houve uma alteração dentro do PMDB e uma força conservadora reacionária assumiu a posição que era ocupada pelo centro do partido. Essa força está consubstanciada na figura de Eduardo Cunha (Presidente afastado da Câmara dos Deputados). Houve uma mudança importante, na parte mais centrista do PMDB, que perdeu força. Há um centro de pequenos partidos que se agrupou em torno do PMDB. O impeachment jamais ocorreria sem Eduardo Cunha. O PSDB não tem força para isso. Essa é uma aliança de direita. É isso que está expresso no governo Temer. Quem está dando as cartas no governo dele é Eduardo Cunha. Ele tem um projeto e executa esse projeto, com o apoio de uma aliança com setores empresariais e também com setores de mídia. O golpe tem endereço, telefone e impressão digital”, afirmou.
Mostrando-se animada, Dilma disse que tem confiança na recuperação do mandato e que travar essa luta, para ela, não é uma escolha, mas sim uma obrigação:
“Se eu não acreditasse eu não lutava todos os dias. Eu acredito. Aliás, é minha absoluta obrigação. Não é uma opção, mas minha obrigação. Lutar contra isso até o fim e ganhar. As pessoas possuem uma grande força que é a capacidade de reação, como está acontecendo na área da cultura agora. Só temos um caminho que é lutar para garantir a democracia”.
Democratização da mídia
Dilma ouviu várias críticas sobre o fato de o governo dela – e também o de Lula – não ter enfrentado o tema da democratização da comunicação. Admitiu que houve erros, mas ressaltou que a correlação de forças sempre foi muito desfavorável para o governo fazer algo nesta área:
“Poderia ter feito diferente mas não levava, pois a correlação de forças é muito desfavorável. Nós quase perdemos a regulamentação da internet e o que estava em questão no marco civil é a neutralidade da rede. Por outro lado, em conjunturas de crise aberta as coisas que estão mais nebulosas em outra situação ficam mais claras. Acabam as nuances e a possibilidade da ambiguidade. Acabou a ambiguidade em relação a certos atores. O preto ficou preto e o branco ficou branco. Não existe mais o cinza. Assim fica mais mobilizar as pessoas”.
Presente ao ato, o ex-ministro do Desenvolvimento Social e do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, saudou a mobilização de milhares de pessoas para receber Dilma em Belo Horizonte: “Hoje começamos a caminhada para levar Dilma de volta à presidência da República. A nossa luta é uma luta pelo futuro do país”.