Para existir o comunismo em um determinado país, é necessário que tal país elimine a propriedade privada dos meios de produção. Ou seja, o governo deve nacionalizar (como os americanos dizem) ou estatizar (como os europeus e nós dizemos) as fábricas, fazendas, grandes empresas etc. Quem insiste em falar em comunismo na Venezuela atual não sabe de nada. Fugiu da escola e talvez até da vida. Não há lá nenhuma nacionalização desse tipo. Aliás, no mundo todo, esse modelo já não conquista ninguém faz tempo. São pouquíssimas pessoas que acreditam que a abolição de uma sociedade de mercado é melhor do que a sociedade de mercado que temos, ainda que se possa e se deva, claro, criticá-la.
Governos de esquerda atuais são social-democratas. Mesmo antes de meados dos anos 80, quando do prestígio do Eurocomunismo, a esquerda ocidental era, quase toda, adepta da social democracia. A ideia básica da social democracia é ter alguns serviços estatizados acoplados a uma bateria de direitos sociais, um tipo de Welfare State que, sabemos bem, precisa arrecadar impostos e gastar bem, senão não funciona mesmo.
Os países comunistas entraram em crise nos anos setenta e tudo veio abaixo a partir de 1989, com a Queda do Muro de Berlim. E nessa onda até mesmo a social democracia passou por desprestígio. Aqui e acolá ela se recuperou. Mas, em alguns lugares como menos tradição de lutas operárias, ficou só com o nome de social democracia, servindo, sim, a grupos altamente privatizantes e/ou conservadores.
Em alguns lugares há uma direita de cabeça vazia, que precisa ainda da “ameaça comunista” para recorrer à defesa de regimes ditatoriais, tão ruins quanto foram a ditaduras comunistas. Há aqueles que acham que marxismo e comunismo são sinônimos. E há os mais tolos ainda, que acham que algum professor marxista é necessariamente adepto do comunismo. Nada disso. Ser de esquerda não implica, hoje em dia, em querer abolir a propriedade privada. Aliás, que fique claro, nem mesmo as ditaduras que carregam o nome de comunistas, que sobraram por aí, como a Coréia de Norte, se sustentam ou possuem algum prestígio entre qualquer tipo de esquerda no Ocidente. Cuba e China, por sua vez, já iniciaram processos de volta ao capitalismo, mas, com um agravante, sem democracia. Fica-se aí a confusão de que são ainda comunistas. Não são. Ditadura é algo que é possível de ser feito por esquerda e direita.
No caso brasileiro, o PT nunca foi comunista. No máximo, foi um partido social democrata. Depois, de social democrata passou para o populismo de esquerda e, enfim, se revelou apenas como um grande quadrilha, um aglomerado de corruptos e bandidos comuns. Tudo isso está desvendado agora, com seus líderes caindo na prisão dia a dia, e mostrando que outros, de outros partidos bem conservadores, adoraram o tal “regime do PT”. Só um ridículo desescolarizado pode ver, portanto, no Brasil atual, algum “comunismo” ou alguma “ideia de comunistas” tendo prestígio.
Durante a Guerra Fria o comunismo servia para amedrontar a classe média e os proprietários no Ocidente. Hoje, isso não é mais possível. Se alguém fica acusando o outro de “comunista”, vira motivo de piada. Pois não há comunismo no mundo, nem de fato nem em perspectiva, e muito menos no Brasil.
Escrevo isso exatamente para que você, moça e moço, não passe vexame por aí, repetindo bobagens de carcomidos da direita que não saíram da Guerra Fria, que são meio que débeis mentais. Não passe vergonha, combinado?
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Paulo Ghiraldelli é filósofo.