Entrevistas|z_Areazero
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25 de julho de 2016
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10:47

‘Se estou em dificuldades, as da Luciana serão maiores’, diz Vieira sobre campanha sem alianças

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
19/07/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Entrevista com pré-candidato a prefeito Vieira da Cunha, na sede do PDT. Foto: Maia Rubim/Sul21
Pré-candidato a prefeito, Vieira da Cunha concedeu entrevista na sede do PDT em Porto Alegre | Foto: Maia Rubim/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Vinte anos depois de participar de sua primeira eleição a prefeito de Porto Alegre, em 1996, Carlos Eduardo Vieira da Cunha (PDT) tentará este ano pela terceira vez chegar ao Paço Municipal – a segunda foi em 2004. Esta, porém, será a primeira oportunidade que concorrerá como candidato da situação, visto que é colega de partido do prefeito José Fortunati, ainda que não seja o principal candidato a carregar a marca da atual gestão, o que está mais próximo do vice-prefeito e também pré-candidato, Sebastião Melo (PMDB).

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Dentro desse quadro, Vieira diz que não irá se apresentar como candidato do continuísmo. Em conversa com o Sul21, ele reconhece que a cidade precisa, por exemplo, contratar mais fiscais para evitar que escândalos como as denúncias de superfaturamento de contratos do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) se repitam.

O ex-secretário de Educação do Estado – licenciou-se em junho para participar do pleito – também faz uma análise geral do quadro eleitoral, ponderando que um eventual segundo turno deve opor um candidato mais à esquerda e outro do campo da situação. Ainda faz um alerta: o tempo de inserção na TV e rádio deverá ser determinante, o que dificultará a vida de candidatos com pouca representação na Câmara Federal e sem coligações robustas.

Sul21 – Secretário, o senhor vive uma situação peculiar uma vez que o seu partido está no poder, mas o atual vice-prefeito também participa das eleições. Como o senhor vai se posicionar na campanha: como candidato de situação ou vai procurar outro caminho?

Vieira: Essa situação é consequência de uma ampla aliança que nós conseguimos construir na reeleição do prefeito José Fortunati e é natural que, sendo uma coligação com vários políticos, haja mais de um candidato representante dos partidos que compõem o governo. A minha postura em relação a isso não poderia ser outra, ao mesmo tempo que sou membro e representante do partido do prefeito, nós não pretendemos nos apresentar como simplesmente um candidato que vá dar continuidade a um projeto. Eu entendo que a população não decide seu voto somente em relação ao que foi feito ou ao que deixou de ser feito, mas, principalmente, se posiciona em relação às propostas, em relação ao que ela antevê de futuro para a cidade ao escolher um candidato. É nesse sentido que eu me apresentarei. Evidente que sou do partido do atual prefeito, nos identificamos não só na gestão Fortunati, mas no governo Fogaça, que o antecedeu. Penso que a cidade ganhou muito em vários aspectos nesse período, mas nós também não podemos deixar de fazer autocrítica onde ela deva ser feita, de reconhecer a necessidade de avanços em determinadas áreas e, nesse sentido, nós estamos exatamente numa fase de debate sobre esses projetos. Nós reconhecemos esse vínculo de um dos candidatos do partido que sustenta o atual governo, mas não nos apresentaremos como um candidato do continuísmo. Nós queremos manter aquilo que resultou de avanço para a cidade, mas revisar e avançar em relação a algumas questões que nós consideramos que mereçam uma nova visão.

19/07/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Entrevista com pré-candidato a prefeito Vieira da Cunha, na sede do PDT. Foto: Maia Rubim/Sul21
Vieira diz que não será o candidato do continuísmo | Foto: Maia Rubim/Sul21

Sul21 – Nesse sentido, o que o senhor enxerga de positivo e o que poderia ser mudado? Que tipo de propostas vão ser a marca da sua campanha?

Vieira: Bom, eu sou um trabalhista, então nossa prioridade sempre é a educação e, nesse sentido, eu penso que o governo Fortunati avançou. Hoje, nós temos mais de 70% dos alunos da Capital em tempo integral. Nós queremos avançar, para que as crianças possam ter uma escola pública de qualidade e que fiquem o dia inteiro na escola. Nós somos profundamente convencidos de que uma escola pública de qualidade é fundamental para que nós possamos fazer o resgate da cidadania dessas crianças, garantir o seu futuro  como cidadão, então esse é um primeiro aspecto que eu identifico no atual governo e merece que se dê continuidade.

Esse governo também ficou marcado por obras viárias importantes. Eu me recordo que há muito tempo se falava no famoso X da rodoviária e hoje nós temos a elevada, garantindo o fluxo de veículos naquilo que era um nó no trânsito da cidade. Temos outras obras viárias importantes, muitas delas concluídas, outras que ainda estão em andamento, mas que transformaram a cidade. Eu me lembro que a ultima intervenção pra garantir mobilidade no fluxo de trânsito na zona sul da cidade foi a Beira Rio, ainda no governo Collares, lá na década de 80. Quer dizer, hoje, fruto das obras da Copa, nós temos um conjunto de intervenções ali nos arredores do estádio Beira Rio que garantiram um novo panorama para aquela área. E agora, com o projeto da orla, também está havendo uma série de intervenções que significam o resgate de uma importante área da cidade. É uma série de intervenções, que ao mesmo tempo em que impacientam a população, porque uma obra sempre causa transtornos, é uma transição para uma cidade melhor.

Um dos maiores desafios com certeza é a mobilidade urbana, e essa é outra marca importante do governo, assim como a manutenção do orçamento participativo, os canais de participação da população. Eu penso que todos esses são aspectos positivos e que certamente serão mantidos.

Sul21 – E quais mudanças irá propor?

Vieira: Um grande desafio que nós temos na cidade é a questão da gestão pública, que é um desafio não só dos municípios, mas um desafio da administração pública em geral. Nós vemos isso também no governo federal. O PAC, por exemplo, sempre encontrou dificuldades na sua execução, tanto no governo Lula e Dilma como agora no governo Temer. Até recentemente fui secretário de Estado e fui testemunha das amarras burocráticas que também impedem que a administração pública tenha efetividade e mais celeridade, inclusive eu identifico isso também na administração municipal. Então, dar mais eficiência, mais celeridade na gestão pública, parece que é um dos nossos grandes desafios, para que os serviços públicos sejam mais eficientes e que as obras sejam mais céleres.

19/07/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Entrevista com pré-candidato a prefeito Vieira da Cunha, na sede do PDT. Foto: Maia Rubim/Sul21
Ele diz que, como trabalhista, pretende ter uma campanha focada na educação | Foto: Maia Rubim/Sul21

Sul21 – Estamos vendo um agravamento de um problema histórico da cidade, que é a questão da moradia popular. Tem a questão do Demhab (Departamento Municipal de Habitação) ocupado. Como o senhor acredita poder encontrar uma solução para as famílias que precisam de moradia? 

Vieira: Eu tenho uma profunda identidade com essas lutas desde a minha época de vereador. É uma questão de dignidade das pessoas. Eu fui muito atuante na elaboração da lei orgânica do município de Porto Alegre para que houvesse avanços nessa área. Depois, quando fui deputado estadual, presidi durante muitos anos uma subcomissão de habitação popular. Então, como prefeito, pretendo atuar fortemente nessa área.

Não é um assunto que um município possa resolver isoladamente. Nós temos que ter parceria tanto com o governo do Estado quanto com o governo federal, inclusive acessar financiamentos internacionais que existem para essa área, para que Porto Alegre possa desenvolver um amplo programa de regularização fundiária, por um lado, e de construção de habitações populares, por outro lado, para que nós possamos garantir a essa população uma moradia digna. Certamente será uma de nossas prioridades.

Sul21 – Qual a sua postura em relação à regularização de ocupações? Vai tentar buscar conciliação para que as famílias comprem as áreas em disputa com proprietários de terrenos? 

Vieira: Depende muito do caso concreto. Em algumas hipóteses, nós poderemos ter como solução as cooperativas habitacionais, por exemplo. Em outros, temos que reassentar, fazer a transferência dessas famílias. Depende muito da área ocupada e da situação jurídica da gleba que está em questão. Agora, sempre o que vai nortear a nossa ação é o interesse dessas comunidades de mais baixa renda. Essa sempre vai ser a nossa preocupação prioritária. Jamais deixaremos de colocar acima de qualquer outro interesse ao direito dessas famílias de morar dignamente. Significa dizer que a especulação imobiliária e que as grandes tensões de terra que ainda existam, os terrenos que sofrem desleixo de seus proprietário, durante o nosso governo terão que necessariamente se colocar numa posição de que vai prevalecer sempre a função social, que aliás está prevista na Constituição. Quer dizer, não podemos colocar o direito de propriedade acima destes direitos sociais e, sempre que a propriedade não cumprir sua função social, o poder público tem que agir. Nós agiremos e, se necessário, inclusive com ações de desapropriação, para que essas terras, esses imóveis, esses vazios urbanos possam cumprir sua função social.

Sul21 – Temos atualmente o caso da Lanceiros Negros, que ocupou um prédio do governo do Estado em desuso há mais de dez anos. Esse é um caso específico. O senhor defende que prédios abandonados, como há muitos outros no Centro, possam ser transformados em moradias?

Vieira: Eu acho que um dos caminhos para o resgate do Centro é a sua ocupação como moradia, para que o Centro seja não só um lugar de trabalho. Penso que sim, essa é uma das alternativas que a Prefeitura deve estudar. Na medida em que haja prédios vazios, a gente possa dialogar com as populações sem teto, mas que tudo isso seja feito de maneira organizada, de maneira que as pessoas possam ter o seu direito assegurado de maneira dialogada com o poder público. Porque, na medida em que essas ocupações são feitas de maneira desordenada, o que nós vemos normalmente são condições precárias de habitação. Então, é uma das alternativas sim, nós vamos dialogar com os movimentos, para que a gente possa encontrar formas de regularizar essas situações.

Sul21 – Um dos principais dramas vividos na cidade hoje é a falta de segurança. Como a Prefeitura pode contribuir nessa área? 

Vieira: Eu faço parte do Ministério Público e uma das minhas últimas ações na minha carreira profissional foi na vara de execuções criminais de Porto Alegre. Então, esse é um assunto com o qual eu tenho muita relação. Eu penso que a primeira providência que a Prefeitura tem que tomar é procurar uma integração maior com as forças policiais, principalmente a Brigada Militar. Na medida em que nós tivermos a Guarda Municipal atuando integradamente com a Brigada Militar, penso que nós vamos dar uma importante contribuição para a segurança pública da cidade.

“Não podemos colocar o direito de propriedade acima destes direitos sociais e, sempre que a propriedade não cumprir sua função social, o poder público tem que agir”

Também o monitoramento eletrônico hoje é um instrumento muito eficaz para a identificação dos praticantes de crime. Na medida em que se identifica o autor do crime, nós temos condições de processá-lo e puni-lo, já que a impunidade é uma das grandes alavancas que propulsionam a criminalidade.

Além do resgate de espaços sociais que vivem situação de abandono, iluminando, urbanizando. Fazer com que a população possa usufruir desses espaços também é uma ação importante do poder público municipal que colabora com a melhora da segurança pública.

E a questão fundamental, que vai à raiz do problema, que é investir numa educação pública de qualidade, porque assim nós estaremos formando futuras gerações que certamente não irão para o caminho da criminalidade.

19/07/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Entrevista com pré-candidato a prefeito Vieira da Cunha, na sede do PDT. Foto: Maia Rubim/Sul21
Pedetista salienta que precisa firmar alianças para ter uma campanha competitiva | Foto: Maia Rubim/Sul21

Sul21 – Na educação, hoje a Prefeitura precisa alugar vagas em algumas creches porque ela não tem uma estrutura 100% municipal pra abrigar as crianças. O que o senhor acha disso? Que avanços propõe para a educação? É possível estipular uma meta de quando a cidade vai chegar a 100% de escolas com turno integral? 

Vieira: Eu não teria condições hoje de fazer uma previsão de quando nós vamos conseguir universalizar o atendimento integral das nossas crianças. O que eu posso garantir é que nós teremos esse assunto como prioridade das prioridades, mas ainda não tenho condições de saber qual é o volume de recursos que nós vamos dispor pra essa ação, já que como nós todos sabemos, os poderes públicos em geral passam por uma situação de grande aperto financeiro.

O que eu posso assegurar é que esse será o nosso objetivo central de governo: universalizar o acesso às escolas de tempo integral, principalmente às crianças que moram em regiões de mais vulnerabilidade social.

Segundo ponto: as creches comunitárias. Desde que fiscalizadas, desde que o poder público possa zelar para que as crianças tenham o atendimento que a legislação lhes garante, eu não vejo nenhum problema de o poder público continuar conveniando com associações comunitárias, com entidades que possam prestar esse serviço. Agora, tem que haver fiscalização.

Aliás, sobre a fiscalização, eu quero dizer o seguinte, penso que a gestão deve se centrar em três aspectos: a transparência, o controle – não só do poder publico, mas também da população – e a fiscalização. E aí eu penso que realmente temos muitas fragilidades no poder público municipal em todas as áreas. Eu fui diretor geral do DMLU na década de 1980. Minha primeira experiência político-administrativa foi na limpeza urbana de Porto Alegre. Eu fiquei lá por cerca de dois anos no governo Collares. Isso faz 30 anos, em 1986, eu tinha apenas 26 anos de idade e aprendi muito. Um dos meus aprendizados foi a importância da fiscalização, principalmente quando tu tem serviços que são terceirizados, que não são feitos diretamente pelo poder público municipal. Eu vejo hoje o serviço público municipal muito fragilizado em função do número insuficiente de fiscais. Tivemos recentemente esse escândalo do DEP, por exemplo, em que ali se evidenciou esse problema de número muito reduzido de fiscais. Então, uma de nossas ações imediatas, supondo que Porto Alegre me dê a honra de ser prefeito da cidade, é abrir concurso público para que nós possamos recrutar mais fiscais para atuar nos mais diversos setores da Prefeitura.

Sul21 – A Prefeitura tem déficit de servidores?

Vieira: Sim, mas claro que não é só o déficit, que eu identifico como principal problema. Também temos que ter treinamento, uma ação efetiva desses fiscais. Mas nós precisamos de mais fiscais, isso não resta dúvida. Não só pra discutir sob ponto de vista de evitar que, via corrupção, o dinheiro vá pelo ralo, mas também pra garantir a eficiência da própria prestação direta do serviço público.

Sul21 – O senhor não teme um desgaste ao se posicionar com a bandeira da educação depois de ter saído da secretaria estadual no auge da questão das ocupações das escolas e da greve do Cpers? 

Vieira: Olha, eu tenho muito orgulho da gestão que nossa equipe fez na Secretaria da Educação. Embora em um período muito curto, um ano e cinco meses de administração, houve muitos avanços. Em 2015, houve um dos maiores investimentos em educação da história do Rio Grande do Sul. Nós investimos 33,7% da receita líquida do Estado em educação, o maior investimento dos últimos tempos. Nós deixamos, ao sair da secretaria, um orçamento para este ano de mais de R$ 200 milhões para obras em escolas. Esse recurso que foi disponibilizado por nossa gestão que permitiu inclusive um acordo para a desocupação das escolas, porque havia um volume e há um volume de recursos expressivo para investir naquilo que é uma das principais reivindicações dos estudantes, que é a melhoria nas condições de infraestrutura das nossas escolas.

A nossa gestão foi pautada por um permanente diálogo com o Cpers-Sindicato, tanto é assim que a primeira greve que nós enfrentamos em 2015 terminou com um aperto de mão entre um secretário de Estado e a presidente do Cpers. Nós fizemos um acordo em 2015 que encerrou a greve. O meu sucessor era meu secretário adjunto e, portanto, nosso trabalho está tendo continuidade na secretaria. Ao contrário do que alguns dizem, que eu abandonei o barco, eu saí porque a lei eleitoral exige que quem queira concorrer se afaste quatro meses antes do cargo. O Luiz Antônio Alcoba de Freitas também terminou a greve com um acordo com o sindicato e vem mantendo essa postura de diálogo, de respeito à categoria. Infelizmente, nós não conseguimos avançar na principal reivindicação da categoria, que é justa, que é exatamente o reajuste salarial, pelas condições do Estado. Hoje, os números estão à disposição da população. Quer dizer, o Estado não consegue pagar em dia, como é que ele vai pensar em reajuste para uma categoria numerosa? Qualquer reajuste ao magistério tem uma grande repercussão na folha de pessoal. Então, infelizmente, não se conseguiu avançar nessa que é a principal reivindicação do magistério. Em todas as outras ações que independem de recursos financeiros, nós avançamos, tanto é que conseguimos chegar a um acordo nessas duas greves que enfrentamos.

19/07/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Entrevista com pré-candidato a prefeito Vieira da Cunha, na sede do PDT. Foto: Maia Rubim/Sul21
Ele avalia que sua gestão foi positiva na secretaria da Educação | Foto: Maia Rubim/Sul21

Sul21 – Outra discussão em voga na cidade é sobre o Uber. Que postura o senhor pretende ter em relação às novas tecnologias que chegarão à cidade nos próximos quatro anos? Buscará a regulamentação o mais rápido possível ou é contra plataformas acusadas de tirar empregos?

Vieira: Eu vou ter a postura que o gestor público deve ter nessas ocasiões, que é de lidar com essa realidade. Esses aplicativos e modernas tecnologias chegaram para ficar. Nós temos esses aplicativos no mundo inteiro. O papel do poder público, no meu entendimento, é exatamente regulamentar esses serviços de modo que não haja uma concorrência desleal. A reação que os taxistas tiveram ao aplicativo é perfeitamente compreensível, evidentemente que eu não estou aqui querendo justificar os excessos, muito menos violência, mas alguém que presta um serviço e é submetido a uma série de exigências da Prefeitura de controle, de fiscalização, de pagamento de taxas, não pode de uma hora para outra ser submetido a uma verdadeira concorrência desleal, alguém prestar o mesmo serviço e sem regramento nenhum. Parece-me que a saída para esse assunto é exatamente o que a Câmara de Vereadores está fazendo, debatendo a matéria com a sociedade e regulamentando a atividade. Agora, os serviços terão que conviver. Essa é uma realidade que veio para ficar e o papel do poder público é regulamentar a fim de que os dois serviços possam conviver. Eu entendo que em Porto Alegre há mercado tanto para o táxi tradicional quanto para esses novos serviços.

Sul21 – Porto Alegre se caracterizou recentemente pelos baixos índices de desemprego – chegou a 3% – e agora voltou a superar a casa dos 10%. Qual vai ser a sua política para a questão?

Vieira: A questão do desemprego é reflexo de uma conjuntura econômica. Nós, infelizmente, estamos vivendo uma crise que teve suas consequências sociais e uma delas é o aumento do índice de desemprego. Embora a causa disso esteja na política econômica do governo federal, o município pode e deve atuar para minimizar os efeitos negativos disso. Uma das atuações que a Prefeitura pode ter é atrair novos investimentos. Empreendimentos que podem gerar trabalho e renda na cidade.

Sul21 – Tem algum caminho que o senhor irá percorrer?

Vieira: Eu vejo um caminho, com muita clareza, que é investimento em inovação e tecnologia. Porto Alegre tem essa vocação. Tanto é que algumas iniciativas como o Tecnopuc deram certo. Bombaram, como diz a gurizada. Nós pretendemos estimular e investir em novos centros de tecnologia avançada.

Sul21 – Isso passa pela questão do 4º Distrito?

Vieira: É um projeto que certamente será apoiado por nós, mas não só o 4º Distrito. Acho que um maior envolvimento com as universidades como um todo. A UFRGS também tem projeto nessa área. A própria Unisinos, que é nossa vizinha, tem. Porto Alegre e Região Metropolitana têm tudo para se transformar em referência internacional nessa área de ciência e tecnologia. Eu visitei no início desse ano o Vale do Silício, na Califórnia, e vi como aquela região dos Estados Unidos se desenvolveu a partir dessa opção que fez lá no passado, de priorizar essa área, de ter incentivos e de ter uma política pública voltada para esse setor. Esse é um assunto que está caindo de maduro para a nossa cidade, se tornar esse polo de ciência, tecnologia e inovação.

Sul21 – Voltando à campanha. Até agora não foi anunciada nenhuma aliança do PDT. Como o partido está trabalhando nesse sentido?

Vieira: Esse é o nosso grande desafio. Estamos com essa tarefa de compor uma aliança que garanta competitividade à nossa candidatura. O PDT elegeu 20 deputados federais, é um partido médio e nós temos humildade para reconhecer que temos que construir uma aliança para poder ter musculatura que nos permita disputar para vencer as eleições. Por isso nós estamos discutindo com vários partidos, sem nenhum tipo de preconceito.

19/07/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Entrevista com pré-candidato a prefeito Vieira da Cunha, na sede do PDT. Foto: Maia Rubim/Sul21
Segundo Vieira, pesquisas foram positivas | Foto: Maia Rubim/Sul21

Sul21 – Tem algum que esteja mais perto de fechar?

Vieira: Tem um partido que está desenvolvendo um processo de discussão interna, que é público, o PP, e deverá decidir pelo voto de seus filiados entre alguns candidatos e eu sou um deles. Estamos esperançosos de contar com o apoio. Estou dialogando com praticamente todos os partidos. Não há nenhum fora. Mesmo aqueles que se comenta que estariam mais perto de outras candidaturas, eu também tenho buscado o diálogo, como é o caso do PSB, do PPS, do PSD. Estou dialogando com Democratas também, com PCdoB, com a Rede. Todos os partidos que não têm candidato próprio lançado, eu busquei um diálogo e convidei para que eles fizessem parte da nossa aliança.

Sul21 – Há chance de o senhor não sair candidato, caso não feche uma aliança que lhe dê essa competitividade?

Vieira: Nós vamos, no momento oportuno, fazer essa discussão, esse debate no partido. Eu não vejo hoje essa possibilidade exatamente porque tenho encontrado, por parte de vários partidos políticos, muita receptividade para o apoio à nossa candidatura. As pesquisas mais recentes têm nos atribuídos índices bastante animadores, mostrando que a nossa candidatura é competitiva.

Sul21 – Em relação às pesquisas. Como o senhor vislumbra essa eleição? Será a disputa de um candidato do campo mais à esquerda contra outro do campo da situação no segundo turno?

Vieira: Embora as pesquisas, neste momento, ainda não sejam instrumentos que possam nos dar segurança de quem irá para o segundo turno, elas mostram que há quatro candidaturas que se destacam e que estão muito próximas. Da Luciana, do Raul, a minha e a do Melo. Desses quatro nomes, provavelmente sairão os nomes que irão para o segundo turno. É provável que de um lado esteja uma candidatura mais à esquerda, e seria a Luciana ou o Raul, e de outro lado uma candidatura que representa o atual governo. Seria o Melo ou eu.

Sul21 – Dado o contexto político nacional, o senhor não acredita que possa emergir uma candidatura conservadora, mais à direita?

Vieira: É possível que surja. Já há uma candidatura mais à direita que é a do Marchezan Jr., do PSDB. O próprio PP está fazendo um debate interno sobre a possibilidade de lançar a candidatura do Marcel Van Hatten, que teria esse perfil (Van Hatten desistiu oficialmente após a realização dessa entrevista). A saída do Onyx Lorenzoni (DEM) do processo abriu espaço para uma candidatura de perfil mais conservador, uma identidade mais neoliberal. Mas eu penso que, pela identidade do eleitorado de Porto Alegre, que tem se posicionado com um perfil mais de centro-esquerda nas eleições, uma candidatura com essa identidade ideológica terá muita dificuldade. Não só de vencer as eleições, mas de chegar ao segundo turno. Eu penso que o eleitorado porto-alegrense não se identificará com uma candidatura mais conservadora. Eu acho que a lógica é de ter o quadro que me referi, de uma candidatura de esquerda e outra de centro-esquerda disputando o segundo turno.

Sul21 – O PDT é um partido trabalhista, historicamente de centro-esquerda e, em nível federal, está atualmente ao lado do PT. O senhor tentará disputar esse voto de esquerda com a Luciana e com o Raul?

Vieira: Como tu bem disseste, o nosso campo político e ideológico é muito bem definido e, a minha trajetória, a população conhece. Eu faço política há mais de 30 anos. A cidade sabe quais são as minhas convicções, qual é meu perfil e a minha identidade. Nesse sentido, eu me animo sim. E a candidatura surgiu exatamente em função desse quadro político, que nos pareceu que há um espaço para uma candidatura que tenha esse tipo de perfil e de identidade política e ideológica. Agora, cada eleição tem a sua história para contar. Às vezes há surpresas, mas o eleitorado de Porto Alegre historicamente tem se posicionado mais à esquerda, por isso que eu repito que não vejo espaço político e eleitoral para uma candidatura mais conservadora.

Sul21 – O senhor não acredita que teremos uma repetição da eleição passada, quando Fortunati se elegeu com 65% dos votos no primeiro turno?

Vieira: Muito dificilmente, porque aquela era uma eleição com um prefeito no exercício do cargo com grande aprovação, na casa dos 70%, candidato à reeleição. Fortunati, ao fazer mais de 65% dos votos, se aproximou muito do índice que as pesquisas atribuíam de aprovação ao seu próprio governo. Hoje, ele não pode se candidatar, então eu vejo um quadro completamente diferente das eleições passadas.

Sul21 – O senhor acha que Melo não herda a aprovação do prefeito em um possível cenário semelhante?

Vieira: Nós estamos vivendo um momento de grande questionamento da população em relação aos políticos em geral. Isso é fruto dessa sucessão de escândalos, dessa pauta nacional que a operação Lava Jato está proporcionando. Então, os governos, em geral, estão sofrendo um grande questionamento e um grande desgaste. Por outro lado, se nós compararmos a aprovação do governo Fortunati em relação ao governo Sartori e ao governo Temer, nós verificamos que ele sobrevive a essa postura mais crítica da população. Então, eu penso que a população de Porto Alegre reconhece na gestão do Fortunati avanços. Ele tem tido uma postura de um gestor público muito atuante, alguém que tem o princípio da transparência como norte, identificado com os movimentos sociais, e isso faz com que ele sobreviva nesse momento a essa quadra difícil, muito complexa, da política.

“Eu penso que o eleitorado porto-alegrense não se identificará com uma candidatura mais conservadora”

Eu penso que as candidaturas que estiveram identificadas com o governo evidentemente sofrerão um desgaste que esse questionamento da política acarreta, mas, por outro lado, é um governo que é reconhecido como um bom governo por uma fatia expressiva da população. Na medida em que uma candidatura não se coloque apenas como uma candidatura de situação, mas possa também demonstrar para os eleitores que está disposta a fazer autocrítica daquilo que não funcionou e avançar e melhorar nos serviços públicos, pode muito bem ir para o segundo turno e vencer as eleições. Porque aí, no segundo turno, existe uma questão que é a rejeição. Parece-me que aquelas candidaturas que tenham posições mais radicais, tanto à direita quanto à esquerda, vão ter muita dificuldade de chegar à vitória. Poderão até ir ao segundo turno, mas tem um teto, porque a grande maioria da população não me parece identificada com posturas mais radicais.

Sul21 – O cenário mais favorável para o senhor seria ir para o segundo turno com a Luciana?

Vieira: Eu não tenho pretensão de escolher adversário no segundo turno. Cabe à população fazer essa opção. Agora, todas as pesquisas colocam, depois da saída da Manuela, a Luciana na liderança. Mas é uma liderança que não se destaca às demais candidaturas competitivas. Ela está no patamar de 20% da preferência do eleitorado. Esse é um índice que poderá levá-la ao segundo turno, mas ainda está muito distante de quem quer vencer as eleições. A Luciana vai ter uma grande dificuldade. Tu me questionaste sobre as alianças que o PDT está conseguindo fazer. Se eu estou em dificuldades, eu vejo as dela maiores ainda. As dificuldades da Luciana para fazer alianças são maiores que as minhas. Embora a influência das redes sociais seja cada vez maior nas eleições, o rádio e a televisão ainda vão ter grande influência. Se eu, que tenho um partido que tem 20 deputados, tenho a humildade de reconhecer que vou ter dificuldade, imagina ela, que tem um partido com seis deputados federais. Esse vai ser um grande desafio, de poder enfrentar as eleições com um tempo muito pequeno de rádio e televisão, ainda mais com as inserções, que são poderosos instrumentos e também são proporcionais ao número de deputados federais da coligação. Então, eu acho que, embora a Luciana tenha bons índices na largada, ela vai ter muita dificuldade de sustentá-los durante a campanha eleitoral se não conseguir uma aliança que garanta um tempo mínimo de rádio e televisão para que ela possa se comunicar com a população.

19/07/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Entrevista com pré-candidato a prefeito Vieira da Cunha, na sede do PDT. Foto: Maia Rubim/Sul21
Vieira reafirmou ser a favor do impeachment, mas ponderou defender novas eleições | Foto: Maia Rubim/Sul21

Sul21 – Nacionalmente, o PDT tem uma postura de oposição ao impeachment da presidenta Dilma. Como o senhor enxerga esse processo e acha que ele afetará as eleições locais?

Vieira: Eu penso que o debate nacional realmente vai ter influência nas eleições locais, porque é o grande tema do momento. Eu tenho divergências com a posição do meu partido. Quando o partido tomou a decisão de apoiar a reeleição da presidente Dilma, eu fui voto vencido, porque não via, já naquele momento, com esperança o governo liderado pelo PT e declarei isso publicamente quando fui candidato ao governo do Estado. Não votei na Dilma em função de todos os escândalos que acabaram vindo à tona e impediram que eu pudesse, como cidadão, optar pela sua candidatura.

Entretanto, o mesmo dinheiro sujo que, do meu ponto de vista, tirou legitimidade da reeleição da Dilma é o que não dá legitimidade ao Temer, porque o presidente interino Michel Temer se elegeu na garupa da Dilma. O mesmo processo de contaminação da Dilma contamina também o Temer, porque o PT e o PMDB, em todos esses escândalos de corrupção, são uma espécie de irmãos siameses. Não dá para separar um do outro. Foi um projeto de poder compartilhado, que teve nesses dois partidos os principais protagonistas. Não me parece que afastar a Dilma e colocar o Temer seja a solução. O que eu defendo com muita convicção é que sejam realizadas novas eleições presidenciais. Para refundar a democracia no Brasil, nós temos que chamar a população a participar diretamente desse processo elegendo um novo presidente. O ideal seria que as eleições ocorressem agora. Já que nós vamos movimentar toda a máquina eleitoral nas eleições municipais, nós deveríamos também eleger um novo presidente para o país. Isso é o que eu defendi perante o diretório nacional do meu partido. Fui vencido na discussão, o PDT optou por fechar questão contra o impeachment.

Não me parece que esteja em curso no Brasil um golpe, porque o impeachment está previsto na Constituição. Há um processo em curso, inclusive monitorado pelo próprio Supremo Tribunal Federal (STF), cuja maioria de juízes está lá por indicação do Lula e da Dilma, então é um tribunal insuspeito nesse ponto de vista, e vai ser julgado pelo Senado Federal, de acordo com o que diz a própria Constituição. O que eu quero reafirmar é que eu não vejo no presidente interino Michel Temer legitimidade para governar o país.

Sul21 – Teria algo a acrescentar?

Vieira: Não tocamos na questão da saúde. Como Porto Alegre tem a municipalização plena da saúde, vai ser um dos grandes debates. O que eu vejo é a necessidade de termos um foco maior na prevenção, investir nas equipes de saúde da família, cuidar mais da saúde do que da doença. Porto Alegre tem sofrido muito, por ser a Capital do Estado, com essa sobrecarga dos serviços de saúde. À medida que as regiões do interior se desestruturam, acaba tudo vindo pra cá. Então, esse é um dos grandes temas que nós temos que enfrentar.


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