
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) lançou, na quarta-feira (4), uma plataforma para monitorar o plantio de árvores em locais públicos da Capital. Pela Prefeitura, o sistema é descrito como “pioneiro” e com “informações detalhadas” sobre cada árvore plantada em Porto Alegre nos últimos cinco anos.
A avaliação de Paulo Brack, professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da UFRGS, coordenador-geral do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), membro do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam) e vereador de Porto Alegre, é bem diferente: “Essa plataforma é uma piada”, afirma.
Brack calcula que 10% a 20% das mudas plantadas na Capital acabam morrendo por falta de rega e relembra casos de desmatamento na cidade, como as mais de 100 árvores cortadas durante a reforma do Parque Harmonia. “É contraditório com o que a Prefeitura faz. No papel, eles têm o mundo ideal, mas não é o que a gente vê”.

Segundo a Smamus, são 4.485 exemplares mapeados, 93% deles nativos, entre 116 espécies de 29 famílias botânicas. Mas, para Brack, os dados apresentados no sistema estão equivocados, em especial na classificação de árvores nativas da Capital. Segundo o biólogo, as nativas “não são exatamente ‘nativas’. Por exemplo, o ipê-amarelo não é nativo de Porto Alegre”, afirma. Nas informações apresentadas pela plataforma, o ipê-amarelo é o líder em plantios, com mais de 300 unidades.
Verônica Riffel, coordenadora de arborização urbana do município, defende que a nova tecnologia vai “aproximar a população das ações de plantio, incentivando que os cidadãos sejam guardiões do nosso patrimônio verde”. A medida estava prevista no Plano Diretor de Arborização Urbana (Pdau), que não é revisto desde 2007.
Em agosto de 2024, o Sul21 mostrou que frequentadores vinham denunciando podas e cortes de árvores sem critério no Parque da Redenção executados justamente pelo Município, no caso, pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSurb). A Prefeitura alegava questões de segurança para as intervenções.
Brack também critica o tratamento dado pela Prefeitura, representada pela Smamus, ao Conselho Municipal do Meio Ambiente. Segundo ele, o Conselho não se reúne com a Prefeitura desde o dia 28 de novembro, sofrendo com defasagem e corte de técnicos, a suspensão sem data de retorno do Grupo de Trabalho de Arborização e a falta de comunicação prévia sobre novos projetos, como a plataforma. “É como um carro de Fórmula 1 sem piloto”, compara Brack.
Germano Bremm, secretário municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, afirma que a iniciativa “melhora a qualidade do trabalho e diminui a burocracia no atendimento à população, mas também contribui para a redução de custos ao município, transformando a arborização em um serviço público mais eficiente e qualificado”. “Na teoria é muito bonito”, comenta Paulo Brack.
Em nota ao Sul21, a Arbolink, que coordena a plataforma da Prefeitura, defendeu seu compromisso com “a qualidade, a transparência e a melhoria contínua da plataforma Arbolink®, garantindo que ela se mantenha como um instrumento eficiente para o manejo sustentável da vegetação urbana”. Leia a nota na íntegra:
“Diante das recentes críticas direcionadas à plataforma Arbolink®, esclarecemos os seguintes pontos para garantir a transparência e a correta compreensão do sistema:
Nomenclatura Científica
A plataforma Arbolink® segue rigorosamente o Código Internacional de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas, conforme a versão de 1994. Os nomes científicos são apresentados em latim, acompanhados da autoria da descrição taxonômica, evitando ambiguidades e garantindo a universalidade da comunicação entre todos os usuários.
Atualizações e Revisões Taxonômicas
O mundo vegetal é dinâmico e sujeito a constantes revisões taxonômicas e descobertas fenológicas. Por isso, o banco de dados da plataforma passa por atualizações frequentes para assegurar informações precisas e alinhadas às classificações científicas mais recentes. Divergências entre especialistas sobre a nomenclatura podem ocorrer, gerando inconsistências com outras plataformas ou publicações, o que reforça a necessidade de revisão contínua.
Perda de Mudas e Adaptação ao Ambiente Urbano
A sobrevivência das mudas no ambiente urbano enfrenta desafios naturais e antropogênicos, como condições adversas do meio urbano e atos de vandalismo. A perda de até 10% das mudas é considerada um índice dentro dos parâmetros normais para projetos dessa natureza, especialmente em cidades em transformação.
Painel Público e Transparência
O painel público da plataforma é dinâmico e passa por constantes atualizações, garantindo a transparência do poder público e incentivando o engajamento comunitário. O objetivo é assegurar que árvores adequadas sejam plantadas nos locais certos, promovendo benefícios ambientais e sociais para a cidade.
Diretrizes e Cidades Inteligentes
A iniciativa segue práticas adotadas por cidades inteligentes como Nova Iorque, Madri e Singapura, entre outras, reconhecendo os desafios particulares de uma flora tropical em um país em desenvolvimento. A adaptação da infraestrutura e a implementação de melhorias são partes fundamentais deste processo.”