
Com a morte do papa Francisco, anunciada nesta segunda-feira (21), a Igreja Católica já se prepara para iniciar o processo de sucessão no Vaticano, o que está previsto para o mês de maio. A expectativa é que o novo pontífice mantenha a linha progressista adotada por Francisco ao longo de seus 12 anos de papado, conforme explicou ao Sul21 o padre Tiago de Fraga Gomes, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUCRS.
Com a morte do papa, o Vaticano reúne todos os cardeais do mundo no chamado Colégio dos Cardeais, que hoje conta com 252 membros. Esse grupo é responsável por compor o Conclave, mas somente os cardeais com menos de 80 anos podem votar na escolha do novo pontífice. Atualmente, há 135 cardeais aptos a votar, e a maioria deles foi nomeada por Francisco.
Gomes pontua que a composição atual do Colégio de Cardeais tende a garantir a continuidade do legado deixado por Francisco, elegendo um representante que mantenha diálogo com a sociedade e se mostre preocupado com as questões ecológicas e sociais. “Dificilmente o futuro Papa tenha uma postura contrária a essa linha. Exatamente por já estar colaborando no governo do pontificado atual e por ser eleito justamente por ter uma comunhão com o Papa”, pontua.
Para ele, o papa Francisco deixa como legado uma Igreja renovada, mais atenta e sensível às questões emergentes da sociedade. E, independentemente das disputas entre alas mais progressistas e conservadoras dentro da Igreja, acredita que o caminho traçado por Francisco continuará sendo seguido.
“Podemos dizer que ambos os papas, conservador ou progressista, vão ter sensibilidade sobre todas as questões, mas vão ter posições diferentes, vão enfatizar aspectos diferentes. Não tenho dúvidas que o próximo papa, mesmo mais conservador ou se seguir na linha progressista, ele não vai abandonar essas pautas. Essa marca de Francisco com certeza vai permanecer”, diz.
A principal diferença entre um novo papa mais progressista ou mais conservador, explica o padre, estará na ênfase dada a determinados aspectos do papel da Igreja. Um pontífice progressista estará atento as discussões externas a Igreja, preocupado com que a igreja de fato se insira nas situações que emergem na sociedade. Já um papa com perfil conservador reafirmaria a tradição e os elementos mais clássicos em relação aos dogmas da fé.
Além das questões internas, o próximo papa também enfrentará novos desafios, como o avanço da inteligência artificial. Para o padre Tiago, esse será um tema central nos próximos anos. “Vai surgir um questionamento profundo sobre o que define o sujeito, a individualidade e a dignidade humana diante de sistemas artificiais que simulam características humanas, como autonomia e pensamento crítico”, afirma.
Outro ponto que exigirá atenção da Igreja, segundo ele, são as questões ecológicas e seus impactos sociais e ambientais, o que demandará de um novo papa sensibilidade às urgências que emergem da sociedade.