Economia
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12 de abril de 2025
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09:09

Entidades de trabalhadores criticam pedido da Fiergs de extinção do salário mínimo regional

Presidente do Sistema FIERGS, Claudio Bier entrega ofício com demandas do setor industrial ao governador Eduardo Leite. Foto: Dudu Leal/Fiergs
Presidente do Sistema FIERGS, Claudio Bier entrega ofício com demandas do setor industrial ao governador Eduardo Leite. Foto: Dudu Leal/Fiergs

Pouco mais de três meses depois de a Assembleia Legislativa ter aprovado o reajuste do piso regional em 5,25%, em dezembro de 2024, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) apresentou ao governador Eduardo Leite a demanda pela extinção do salário-mínimo regional. De acordo com a entidade, “o salário-mínimo regional não contribui para a geração de emprego e renda, elevando os custos, desestimulando o crescimento econômico e afastando investimentos”.

A posição da Fiergs contra o salário mínimo regional é antiga. Em março, ao entregar para Leite uma lista de reivindicações do setor industrial gaúcho, o fim do piso regional era o terceiro item da pauta. A entidade costuma justificar sua posição alegando um possível risco da diminuição do emprego formal e a perda de competitividade do Rio Grande do Sul diante dos demais estados do Brasil. 

Dessa vez, a demanda pelo fim do mínimo regional só ficou atrás do pedido para que o governo estadual revise, com urgência, os cálculos das taxas aplicadas pela Sulgás às indústrias, e a revisão do plano de concessão do bloco 2 das rodovias no Vale do Taquari e Norte do Estado.

Presidente da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grando do Sul (CUT), Amarilldo Cenci, diz estranhar o posicionamento diferente da Fiergs em relação aos empresários de Santa Catarina e do Paraná, que, segundo ele, apoiam e valorizam o piso regional como uma estratégia de crescimento, captação e fidelização dos trabalhadores. 

“Nós lamentamos que esse posicionamento do atraso só contribui para que o estado do Rio Grande do Sul continue com essa perda de mão de obra qualificada para todos os estados da federação, especialmente os estados do Sul. A classe empresarial que deveria junto construir uma proposta para um Rio Grande mais desenvolvido e socialmente justo, cumpre esse papelão do século 19″, afirma o presidente da CUT/RS, destacando que o piso regional é uma conquista construída e apoiado por diferentes setores políticos na Assembleia Legislativa. 

“Temos o entendimento de que o piso regional valorizado distribui renda, incentiva os trabalhadores, reconhece a força de trabalho do trabalhador e trabalhadora gaúcha e beneficia quem mais precisa”, completou.

Em nota, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB/RS) diz não ser hora de falar em extinção do piso regional e sim de recompor seu patamar histórico. Para a CTB, ao contrário do que têm defendido os empresários, é preciso devolver ao mínimo regional seu poder de compra de 2001, quando foi criado e seu valor correspondia a 1,28 salários mínimos nacionais – o que significaria, atualmete, um aumento de aproximadamente 17%. 

Como forma de colaborar na negociação junto ao governo e os empresários, a entidade enfatiza que as centrais apresentaram uma proposta considerada “equilibrada e justa”, na qual o reajuste seria correspondente ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado no ano, somado ao crescimento da economia gaúcha em 2024, que foi de 4,9%. O cálculo resultaria em um reajuste de 9,8%.

“É atrasada a posição dos empresários que pregam o fim do piso regional. Ignoram que este é um dispositivo muito importante para garantir a dignidade de mais de 1,6 milhão de trabalhadores e trabalhadoras que fazem parte das categorias mais frágeis, como as empregadas domésticas, os motoboys e os assalariados rurais, entre outras. Também ignoram que, ao valorizar a renda desses trabalhadores e dessas trabalhadoras, há um incremento no consumo que gera mais crescimento econômico, mais renda em outros segmentos e faz a roda da economia girar”, afirma a CTB/RS.

O salário mínimo regional do Rio Grande do Sul foi reajustado, em dezembro de 2024, em 5,25%. Com o reajuste, o piso que era de R$ 1.573,89 passou para R$ 1.656,52. Em Santa Catarina, o piso regional é de R$ 1.612 e, no Paraná, R$ 1.856. 

Quando o projeto foi apresentado na Assembleia, a bancada de oposição ao governo Leite, formada por PT, PSOL e PCdoB, chegou a considerar o valor insuficiente e protocolar uma emenda elevando o índice de reajuste para 9%. No entanto, a emenda sequer foi votada na Assembleia. 

Procurado para colocar sua posição sobre a reivindicação da Fiergs, o governo estadual não respondeu até a publicação desta matéria. Assim que fizer, será acrescentado.


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