
A memória sobre a enchente histórica que devastou o Rio Grande do Sul em maio deste ano foi o tema da prova de Redação do Vestibular 2025 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), realizada neste domingo (1º).
A prova apresentou o texto “Incêndio no Museu Nacional provoca reflexões: o Brasil é um país sem memória?”, do jornalista Leonardo Lichote, publicado no Jornal O Globo, em setembro de 2018. Na publicação, o jornalista parte do trágico incêndio para tratar do tema da memória no Brasil.
“Das chamas que consumiram o Museu Nacional parecia se erguer — palpável como os fragmentos de documentos incinerados que também se erguiam dali — a confirmação do fracasso do Brasil em gerir sua memória. Como se o crepitar do fogo chiasse a frase que, de tão repetida, se tornou um traço incontestável de nossa personalidade: somos um país sem memória. Mas, para além do lugar-comum, o que significa essa afirmação? Como nos tornamos uma Nação que deixa sua História queimar?”, questiona o texto, que foi apresentado no caderno da prova. Ainda, o jornalista também apresenta posições de diferentes intelectuais sobre o cuidado com a memória brasileira.
De acordo com a UFRGS, o exame pedia que o vestibulando simulasse que era morador de alguma região do Rio Grande do Sul entre as que foram recentemente afetadas pela enchente história.
“A partir daí, um grupo de cidadãos apresenta a ideia de criar um memorial para reunir materiais da catástrofe, proposta que é rejeitada por parte da população. O tema é, então, debatido em audiência pública e o texto de Lichote é apresentado como argumento favorável à construção do espaço de memória. A controvérsia leva para a criação de uma comissão em que o candidato deve se posicionar sobre os argumentos do texto.”
O exame propõe: “Você acha que os argumentos apresentados por Lichote, referentes à construção da memória no Brasil, podem ser aplicados para discutir a construção, ou não, de um espaço de memória relativo à catástrofe que atingiu o Rio Grande do Sul?”.
Nas redes sociais, a escolha do tema divide opiniões. Nas publicações da UFRGS sobre o assunto, alguns comentários elogiam a decisão: “Ótimo tema. Foi muito forte para não ser abordado sempre que possível, ainda mais com risco iminente de ocorrer novamente. A devastação deixada está aí, só olhar os leitos dos rios deformados! Temos que falar sobre clima, sempre!”, diz um dos comentários. “UFRGS sempre certeira! Parabéns pela escolha do tema! Necessário e importante!”, afirma outra pessoa.
Já outros comentários questionam a decisão de abordar esse assunto que ainda é recente e sensível para os gaúchos: “Se passaram. Processo de construção de memória leva tempo e reflexão, sendo que tenho certeza que boa parte dos candidatos ainda estão vivendo essa realidade. Sem falar naqueles que eventualmente já superaram as questões materiais mas ainda vivem o trauma disso. Podiam ter pensado N maneiras de trabalhar esse tema, que não dessa forma.”, afirma um dos comentários que criticam a escolha do tema.
“E o gatilho para quem perdeu tudo? Quem perdeu entes queridos? Poderia ter abordado de outra perspectiva como as mudanças climáticas e não memórias de uma tragédia dessas”, diz outro comentário.
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Além da redação, os vestibulandos também realizaram neste domingo as provas de Língua Estrangeira, Física, Química e Biologia. No sábado (30), foram aplicadas as provas de Geografia, História, Língua Portuguesa, Literatura e Matemática [confira o gabarito do primeiro dia do Vestibular 2025].