Economia
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30 de outubro de 2024
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17:22

Novas regras da Caixa limitam financiamento imobiliário a R$ 1,5 mi e exigem entradas maiores

Por
Yasmmin Ferreira
yasmmin@sul21.com.br
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A partir desta sexta (1º), a Caixa Econômica Federal implementará mudanças significativas nas regras de financiamento imobiliário com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Entre as alterações, se destaca o limite de R$ 1,5 milhão para o valor dos imóveis financiáveis, além da redução da porcentagem financiável para 50% no modelo da Tabela Price, o qual utiliza parcelas fixas, e 70% no Sistema de Amortização Constante (SAC), onde as parcelas diminuem ao longo do tempo. 

Essas novas condições exigirão que os compradores deem entradas maiores, afetando tanto imóveis novos quanto usados. Em um cenário anterior, não havia limites para o valor das propriedades financiáveis, e o banco permitia financiar até 70% do montante total pelo sistema Price e até 80% pelo SAC.

Com as novas regras, para um imóvel avaliado em R$ 500 mil, por exemplo, no modelo Price, o mutuário poderá financiar apenas R$ 250 mil, o que significa que terá que pagar outros R$ 250 mil como entrada. No sistema SAC, o financiamento máximo será de R$ 350 mil, exigindo uma entrada de R$ 150 mil. Essas novas condições se aplicam a todos os tipos de imóveis, incluindo lotes urbanos e comerciais, mas as unidades habitacionais vinculadas a empreendimentos já financiados pela Caixa não terão suas condições alteradas.

Segundo o corretor de imóveis Cássio Argondizo, de qualquer forma, isso pode ser um problema para as pessoas que já têm uma pré-aprovação de financiamento, cujo processo está em andamento na instituição bancária e que, talvez, não consigam assinar o contrato devido a essa modificação. “Realmente fica bem complicado”, afirma Argondizo, em entrevista ao Sul21.

O corretor também pontua que todas as classes sociais serão afetadas pelas mudanças nas regras de financiamento bancário, especialmente aqueles que buscam imóveis abaixo de 500 mil. Para ele, a migração para bancos privados parece ser uma tendência, mas, infelizmente, essas organizações estão aumentando as taxas de maneira contínua. 

“Eu não tenho dúvida de que, realmente, com esse valor mínimo de entrada, os potenciais compradores, que dependem especificamente de financiamento bancário para isso, eu acho que, a princípio, vai desencorajar. […] O pessoal vai ficar um pouco mais receoso”, diz. Ele observa que, atualmente, há uma mudança no comportamento dos investidores, que têm optado por deixar seu dinheiro aplicado em taxas diferenciadas no sistema bancário, em vez de investir em imóveis. Essa estratégia é vista como mais segura, evitando custos como IPTU e condomínio que podem surgir com a locação.

Ainda nessa linha, o corretor sugere que aqueles que não têm uma necessidade imediata de compra de um imóvel considerem optar por uma carta de crédito. De acordo com Algordizo, essa alternativa pode oferecer condições de taxa de juros mais vantajosas em comparação às oferecidas pelos bancos privados.

Em nota oficial, a Caixa diz que “estuda constantemente medidas que visam ampliar o atendimento da demanda excedente de financiamentos habitacionais, inclusive participando de discussões junto ao mercado e ao governo, com o objetivo de buscar novas soluções que permitam expansão do crédito imobiliário no país, não somente pela Caixa, mas também pelos demais agentes do mercado”.

As “medidas” utilizadas neste caso, como afirma Argondizo, vão “dar uma complicação para todos os níveis de cliente”. Além disso, surgem em um momento de crescente demanda por imóveis no Brasil e aumento significativo nos saques da caderneta de poupança, principal fonte de recursos para empréstimos habitacionais. 

Segundo dados do Banco Central do Brasil (BC), em setembro, a caderneta de poupança registrou o maior volume de saques líquidos do ano, somando R$ 7,1 bilhões – uma situação que impacta diretamente a disponibilidade de recursos para novos financiamentos. 

Fora isso, a Caixa observou, em nota, que sua carteira de crédito habitacional deve ultrapassar o orçamento aprovado para 2024. Com quase 70% do mercado sob sua responsabilidade, o banco já concedeu R$ 175 bilhões em crédito imobiliário de janeiro a setembro, um crescimento de 28,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, resultando em 627 mil financiamentos.

Não. As recentes alterações nas regras de financiamento imobiliário da Caixa Econômica Federal não atingem o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). 

Conforme a instituição, como os recursos do MCMV provêm do FGTS, as novas regras não impactam as condições oferecidas pelo mesmo. Ou seja, os critérios do programa habitacional, voltado para as faixas de renda mais baixas, permanecem inalterados: os beneficiários continuam a ter acesso a subsídios, taxas de juros reduzidas e a possibilidade de compor renda familiar para obter o financiamento. 


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