
A votação na Escola Estadual de Ensino Municipal Presidente João Goulart, na rua João Luis Pufal, bairro Sarandi, foi tranquila, de acordo com o diretor Manoel da Silva. A região foi uma das mais atingidas pela enchente de maio de 2024. Em uma das salas de votação do colégio, o quadro ainda não funcionava como suporte para a escrita por causa dos estragos da enchente. Marcas d’água podem ser vistas e o funcionamento do colégio é irregular – nem todos os espaços são utilizados. Também na escola, quase não se viam eleitores adesivados. Da mesma forma, ao circular pelo bairro, não se via muitas bandeiras ou manifestações eleitorais individuais.
Manoel conta que a água chegou a quase 5 metros, cobrindo o teto do colégio. Na cozinha da escola, existem diversas marcas de lama, que mostram o escoamento da água durante os 30 dias nos quais ficou praticamente submersa. Manoel é morador do Centro Histórico e foi atingido de outra forma, com falta de água e luz e necessidade de sair de casa. Sua tarefa enquanto diretor durante a interrupção das aulas foi de auxiliar nas redes de assistência a alunos, funcionários e moradores do bairro afetado, como um intermediário entre necessitados e recursos.
A duas quadras da escola, também na João Luis Pufal, vive Terezinha Jacinto, 81 anos, em uma casa de fachada azul com um adesivo de Maria do Rosário (PT) em uma das janelas. Mesmo que para sua idade o voto não seja mais obrigatório, ela se direciona ao seu local de votação com um andador e um motorista amigo da família, que dá carona. “Gosto muito da Maria do Rosário, gosto mesmo, de coração. Quando eu olho pra ela, eu lembro da minha neta, duas guerreirinhas”. A neta, Luana Borges, tem 10 anos e gosta de acompanhar os membros da família na hora de votar na urna. “Eu gosto mesmo é do barulhinho que faz”.
Para Terezinha, a enchente foi uma “incompetência do atual prefeito”. Sua casa, onde mora há cerca de 50 anos, foi alagada e toda a mobília teve que ser substituída, assim como a pintura. Por precaução, a família já havia saído de casa antes do alagamento do bairro e se hospedado na casa de outro parente, mas não imaginavam que o exílio duraria tanto tempo. “Tivemos que alugar um apartamento nesse meio tempo lá no Parque dos Maias, acredita?”, conta Terezinha.
Vizinho de Terezinha, Tadeu Silva, 67 anos, é eleitor de Sebastião Melo (MDB), mas não “apenas por ideologia”. Bandeiras do atual prefeito e da vereadora Comandante Nádia ornam a fachada da casa amarela, também com diversas marcas de água. Ele se reconhece enquanto de direita desde quando ingressou em um curso de bacharelado na Universidade Luterana do Rio Grande do Sul (Ulbra) via acesso universal. “Me questionam muito porque eu, uma pessoa negra, ser da direita. Uma pessoa negra deveria, obrigatoriamente, ser da esquerda? Eu discordo”. Quando perguntado se mantinha a escolha mesmo sob a gestão de Melo na enchente histórica, Silva responde que essa não é a primeira enchente que passa e que as águas independem de partido. Ele se refere ao alagamento que atingiu 700 casas no bairro Sarandi em 2013.
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