
Voltou a circular nas redes sociais um post supostamente feito no perfil oficial de Maria do Rosário (PT) no X (antigo Twitter). Segundo o print, Rosário teria escrito que “se algum dia eu for estuprada perdoarei o estuprador pois estupradores são pessoas frágeis e desequilibradas que precisam de apoio e carinho”. A data que aparece na montagem 24 de agosto de 2017.
Uma busca avançada na rede social permite ver que Maria do Rosário não publicou a mensagem que circula desde então. Em 25 de agosto de 2017, a deputada já havia se manifestado afirmando que isso “é coisa de máfia que propaga ódio”. A Agência Lupa também já checou tal conteúdo, em 2020, e reafirmou sua falsidade. Apesar disso, a “fama” de defensora de bandidos e estupradores volta a recair sobre Maria do Rosário a cada eleição.
Nesta quinta-feira (24), durante a Sabatina UOL/Folha sobre a disputa pela Prefeitura de Porto Alegre, Rosário foi alvo de comentários ofensivos e repetitivos. Ao menos seis vezes, o usuário “Wordpress Ed” comentou na transmissão ao vivo: “Poucos sabem, mas Maria do Rosário defende ESTRUP@DOR”.
O caso remete a 2003, quando Rosário ganhava notoriedade como defensora de pautas ligadas aos Direitos Humanos em paralelo à repercussão do Caso Champinha, que suscitou o debate sobre a redução da maioridade penal. Em novembro de 2003, o jovem Roberto Aparecido Alves Cardoso, “Champinha”, então com 16 anos, torturou e matou um casal de namorados em São Paulo. Uma das vítimas, Liana Friedenbach, 16 anos, foi estuprada por vários dias antes de ser assassinada. Após o ocorrido, com o país ainda impactado por tamanha brutalidade, o então deputado federal Jair Bolsonaro defendeu a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
No parlamento, Maria do Rosário se posicionou contra a redução, e ouviu de Bolsonaro que levasse “aquele estuprador de São Paulo [referindo-se a Champinha] para dirigir o carro da sua filha lá no seu Estado”. Rosário disse que o colega promovia aquele tipo de crime, no entanto, Bolsonaro disse ter entendido que foi chamado de “estuprador”. Bolsonaro empurrou Rosário, a chamou de “vagabunda”. O caso ganhou ainda mais repercussão após Bolsonaro dizer à Rosário: “jamais ia estuprar você, porque você não merece”.
Com a ascensão política de Bolsonaro, Maria do Rosário se tornou um alvo frequente da extrema direita. Deputada federal desde 2003, ela foi também ministra da Secretaria de Direitos Humanos entre 2011 e 2014. Em 2024, enquanto candidata à Prefeitura de Porto Alegre, Rosário ainda é alvo de associações que remetem ao caso de 2003.
No último dia 19, Rosário publicou em seus perfis oficiais um vídeo em que Ari Friedenbach, pai de Liana – vítima em 2003, no Caso Champinha -, manifesta solidariedade à candidata e repudia os ataques. Ari abre o vídeo se apresentando e afirma: “Quero dizer que discípulos do ódio, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, não defendem a honra da minha filha, não defendem uma sociedade mais justa”. Para o pai de Liana, “defender a pena de morte não é defender a vida, é apenas oportunismo político”.
“Vejo com profunda tristeza o uso político do caso da minha filha para atacar pessoas honradas, como a deputada Maria do Rosário que hoje concorre à prefeitura de Porto Alegre”, complementa Ari Friedenbach.
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Essa checagem faz parte de um projeto nacional de combate à desinformação nas eleições, liderado pela Énois e que reúne 10 veículos de imprensa de todas as regiões do Brasil.