
Entre os dias 17 e 23 de outubro, o Cine Bancários, em Porto Alegre, será palco da mostra “Memórias do Golpe”, que exibirá seis documentários sobre a Ditadura Militar no Brasil. O evento, com entrada gratuita, é organizado pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e a Associação de Ex-Presos e Perseguidos Políticos do RS, e busca rememorar e refletir sobre os 60 anos do golpe de 1964 e seus impactos na atualidade.
A exibição terá sessões diárias às 19h, com destaque para filmes que exploram diferentes aspectos do período ditatorial, incluindo a resistência civil e militar, as perseguições políticas, e a trajetória de João Goulart, presidente deposto pelo golpe. Entre os documentários exibidos estão “Jango” e “Dossiê Jango”, de Silvio Tendler, além de “Jango no Exílio”, de Pedro Lucas, que abordam a figura de Goulart e seu papel no cenário da época.
Jair Krischke, do MJDH, ressalta a importância da mostra como um ato de memória e crítica. Segundo ele, o evento serve para “marcar os sessenta anos do golpe, pois o Lula não se atreveu a isso”. Além disso, Krischke reforça o legado de João Goulart, afirmando que o ex-presidente “foi derrubado por suas virtudes, e não por seus erros”.
Para Rodrigo Arreyers, escritor, professor, tradutor e sobrinho neto do “Quinho” – João Maria Ximenes de Andrade, militante negro desaparecido em São Paulo durante a ditadura –, o Brasil ainda tem tempo para superar o negacionismo, mesmo 60 anos depois. “Esse negacionismo é muito sério para os brasileiros, porque permite que esses erros voltem a se repetir. Então, é importante que a cultura, o cinema, as escolas e muitos outros espaços falem sobre o que aconteceu na ditadura e também sobre os desaparecidos”, disse, pontuando estas ações como um “ato de desobediência” em relação às tentativas de silenciamento por parte do governo.
Em entrevista ao Sul21, Arreyers também denunciou que a direita brasileira “tira proveito” do negacionismo. “A direita, aqueles que querem repetir o que a ditadura já fez, se aproveita muito, colhendo frutos desse negacionismo. Eles voltam a instalar as mesmas ideias com o apoio da falta de informação, do desconhecimento e, sobretudo, da insensibilidade das pessoas, porque, diante do desaparecimento de uma pessoa, é como se isso ficasse no passado ou do outro lado da linha, digamos. É como algo que pode acontecer com qualquer um em um regime autoritário, que é o que muitas pessoas querem restaurar com base nesse erro do negacionismo”, critica.
O encerramento da mostra, no dia 23 de outubro, contará com a exibição do documentário “O dia que durou 21 anos”, de Camilo Tavares – filme que revela, por meio de documentos e imagens de arquivo, o papel dos Estados Unidos no golpe que instaurou a ditadura no Brasil. Na sequência, ocorrerá uma homenagem ao jornalista Flávio Tavares, figura essencial na resistência ao regime e pai do cineasta.
Dia 17: “Jango”, de Silvio Tendler
Dia 18: “Dossiê Jango”, de Paulo Henrique Fontenelle
Dia 19: “Advogados Contra a Ditadura”, de Silvio Tendler
Dia 20: “Militares que Disseram Não”, de Silvio Tendler
Dia 22: “Jango no Exílio”, de Pedro Lucas
Dia 23: “O Dia que Durou 21 Anos”, de Camilo Tavares
Todas as sessões iniciam às 19 h, no Cine Bancários, R. Gen. Câmara, 424, Centro Histórico de Porto Alegre.