
A comunidade universitária lotou o salão de atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na manhã desta sexta-feira (27) para a posse da reitora Marcia Barbosa, do vice-reitor Pedro Costa e dos novos integrantes da Administração Central da Universidade. Após uma eleição histórica com voto paritário entre alunos, docentes e servidores da UFRGS, a nomeação da reitora foi publicada no Diário Oficial em 16 de setembro.
A nova reitora entregou à decana do Conselho Universitário (Consun), Liane Loder, três projetos para apreciação do órgão máximo da Universidade: a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade; a Coordenadoria de Educação Básica e a Secretaria Especial de Emergências Climáticas e Ambientais (SECAM).
Marcia frisou que, desde o primeiro dia de gestão, foi instituído um grupo para discutir ações frente às questões climáticas. “Estamos em emergência climática e ambiental permanente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul”, frisou a reitora. Quanto à Coordenadoria de Educação Básica, Marcia destacou que a UFRGS volta a estar presente no diálogo com os diferentes setores do governo para discutir a educação básica do Rio Grande do Sul: “Vamos melhorar o IDEB deste Estado”, garantiu a dirigente.

A reitora destacou, durante seu discurso de posse, a longevidade da universidade “como local que cria, protege e espalha conhecimento”. Para Marcia, tal longevidade resulta de duas características importantes: é delas que nasce a revolução e também a renovação. “Hoje, a universidade precisa de uma transformação frente aos ataques ao conhecimento, que ocorrem justamente por meio de instrumento criado pela universidade, que é a internet. Esse instrumento vem sendo usado para atacar os cientistas, mas também a democracia, omitindo a informação importante de que o mundo vive uma mudança climática causada pelas transformações impostas pelos seres humanos. Mas, tenho um plano: a universidade possui os instrumentos para se revolucionar e tomar o mundo. Esses instrumentos são típicos do sul global e não existem nas grandes universidades do Hemisfério Norte: a extensão e a diversidade”, explicou.
Durante a posse simbólica da nova reitora, estudantes da UFRGS fizeram pronunciamentos em nome da comunidade acadêmica. A discente Niara dy Luz iniciou sua fala saudando a democracia universitária e a paridade. “Defendemos um projeto de universidade popular, que precisa estar no centro do desenvolvimento nacional, através da extensão, do ensino e da pesquisa. A universidade não pode seguir desligando os nossos colegas cotistas com o instrumento da matrícula precária. A eleição paritária desta reitoria precisa servir de instrumento para darmos um fim a lista tríplice”, afirmou.
A luta da paridade dos votos na eleição para reitoria é uma demanda histórica na UFRGS, há mais de 30 anos. Até 2020, a etapa de consulta à comunidade acadêmica tinha peso maior no voto dos docentes – um cálculo de 70% para os professores, 15% no voto dos alunos e 15% no dos técnico-administrativos. Entretanto, uma resolução de 2023 do Conselho Universitário (Consun), reafirmada por outra resolução de 2024, instituiu a paridade no peso dos votos de docentes, estudantes e técnicos na consulta à comunidade acadêmica.
A UFRGS passou os últimos quatro anos em clima turbulento devido à escolha do ex-presidente Jair Bolsonaro em nomear como reitor Carlos André Bulhões, que não havia sido o vitorioso na eleição de 2020.
Durante a posse de Marcia Barbosa, o estudante Wellington Porto destacou que este dia marca o início da possiblidade de construção de uma nova UFRGS: “É possível transformarmos radicalmente esta universidade e fazer história, como fizemos, elegendo a primeira reitora paritária da história da UFRGS. Este momento inédito nos abre um novo caminho, porque nós queremos mais. Queremos construir a nova UFRGS, onde estudantes, técnicos, trabalhadores terceirizados e professores tenham voz e espaços na tomada de decisões de forma paritária e transparente. A paridade não pode ser retórica, mas uma prática cotidiana”, declarou.