
Maria Inácia me mostra seu molho de chaves e diz que, com ele, abre todas as portas do bairro. Ela tem 87 anos e “já faz mais ou menos mais de 10 anos” que mora no Núcleo 37 da Cohab Rubem Berta. Estamos em uma reunião com lideranças comunitárias na Casa do Hip Hop, um local que reúne arte e resistência, e ouço de sua filha e de sua neta que Maria não para quieta – nunca, nunquinha. “Não mesmo”, grita ela, “subo e desço todos os dias as lombas aqui”. Depois dessa fala, Maria caminha até um equipamento de ginástica da casa e passa metade da reunião se exercitando.
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Na roda de conversa, ouvimos reclamações pela falta de segurança. A violência e os embates entre criminosos e policiais estão nas marcas das memórias de Leandro Coelho, que nos conta que não aguenta mais ver jovens de 20 anos tombando na rua por causa de tiro. Maria Inácia também me contou suas histórias de testemunha ocular da violência. No final das falas, os participantes concluem que estão cansados de ver tantas cenas ruins. Também para isso, a Casa do Hip Hop serve de espaço de acolhimento. Leandro conta que os grafites da casa são feitos por artistas do bairro. Lá, eles levam a sério potencializar a cultura local. Palavras dele. A construção desses espaços só é possível através da mobilização coletiva, como no caso da conquista da casa pelo Orçamento Participativo. Nas paredes, estão pintados artistas como Elza Soares.
Ao andar pelo Rubem Berta, é possível alternar a vista entre o concreto e a natureza. O bairro mais populoso de Porto Alegre é marcado por contrastes – e longos percursos. Há muito espaço a ser percorrido entre um limite e outro. De um lado, o bota-espera de resíduos da enchente que virou também depósito de lixo, de outro, a Praça México, pulmão do Rubem Berta.
Confira um ensaio sobre o bairro:










