
O manejo arbóreo realizado no Parque Farroupilha (Redenção) tem chamado a atenção de alguns frequentadores da tradicional área verde da Capital. E não é pela qualidade do serviço. Ingrid Moldt e Lila Romero, integrantes do coletivo Preserva Redenção e assíduas caminhantes no parque, avaliam que o trabalho de poda, atualmente executado pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSurb), piorou muito nos últimos meses.
“Eles têm uma visão que não respeita a fauna e a flora. Estão depredando. A intenção deles é transformar a Redenção numa praça”, afirma Ingrid. Para ela, os cortes e podas de árvores têm sido feitos sem critério e de modo errado, podendo prejudicar o crescimento da vegetação.
Além das podas, ela reclama também da retirada de matéria orgânica que tem sido feita por caminhões, supostamente com a intenção de limpeza. Ingrid explica que a matéria orgânica é importante para a adubação do solo. “Estão deixando a paisagem ‘cristalina’, mas isso é a morte para os animais. Os gambás já quase não são vistos, as tartarugas estão diminuindo e os aguapés sendo retirados. A vegetação está sendo retirada como se fosse culpada.”
Ela pondera que o serviço feito pela Prefeitura pode fazer parte da população achar que a Redenção está “limpa”, mas que do ponto de vista ambiental, o trabalho não está correto. “Porto Alegre está entregue a uma determinada visão urbanística. Parece que eles não têm interesse em plantar árvores”, lamenta. Para reforçar sua análise, Ingrid cita o corte recente de uma ameixeira no Parcão, outra tradicional área verde de Porto Alegre. O corte revoltou usuários do parque e foi realizado porque estaria atrapalhando a visibilidade de uma câmera de segurança.

Na Redenção, Lila Romero cita de exemplo o corte de um maricá. A árvore nativa, comum em vários estados do Brasil, é indicada para ações de reflorestamento, preservação ambiental, arborização urbana, paisagismos ou plantios domésticos. Na Redenção, havia um exemplar perto do Recanto Oriental. A árvore chegou a tombar recentemente, mas permanecia viva. Há poucas semanas, foi definitivamente cortada.
Para Lila, a ação da Prefeitura no parque tem tido apenas o viés da segurança. “Eles enxergam que a árvore esconde bandido e, por isso, deve ser retirada. Hoje, o parque está pobre em tudo.” Ela destaca que o manejo precisa ser correto e que isso não tem sido feito inclusive com as árvores que realmente precisam ser cortadas por risco de cair e causar danos aos frequentadores.
Procurada pela reportagem do Sul21, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos disse que, atualmente, não tem feito nenhum trabalho na Redenção, porém, confirmou o objetivo da segurança com as podas das copas das árvores.
“A Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria de Serviços Urbanos (SMSUrb), informa que não realiza, no momento, nenhum serviço de manejo arbóreo no Parque Farroupilha. No mês de junho, foi feito o levantamento de copas de alguns vegetais para melhorar a visibilidade, iluminação e segurança no local”, explicou.

A bióloga Hosana Picardi, também integrante do coletivo Preserva Redenção, destaca que o objetivo de um parque é a preservação do ecossistema e da beleza cênica, assim como servir à educação ambiental e à recreação. No caso da Redenção, ela avalia que o governo do prefeito Sebastião Melo (MDB) subverte o valor do parque com o discurso da segurança.
“Não é arrebentando o que existe que vai resolver o problema. Bota mais iluminação, bota mais câmeras”, defende. Para ela, a intenção da Prefeitura é deixar o parque “mais aberto” para instalar novos quiosques e pontos comerciais. “O objetivo é deixar o parque o mais pasteurizado possível.”
A bióloga pondera que se o governo Melo realmente quisesse melhorar a segurança, seria mais efetivo mapear os pontos considerados sensíveis no parque. Por outro lado, o que parece, diz ela, é que a Prefeitura prefere atuar em trechos com maior potencial comercial. “Se a questão é a segurança, então se mapeia e se age com estratégia”, afirma, ressaltando não ser verdade que as últimas podas tenham sido em junho. “É diário”, sustenta.

Com relação à vegetação que tem sido retirada dos lagos, Hosana explica que as plantas aquáticas oxigenam a água e assim auxiliam na vida dos peixes – que, por sua vez, também são fonte de alimentação das garças. O efeito é em cadeia.
“A degradação causa poluição e desregula a temperatura da água. A retirada das plantas inviabiliza a vida de várias espécies porque faz a água esfriar e esquentar muito rápido”, explica a bióloga, com mestrado em zoologia.
Em tom de lamento, Hosana diz que a Redenção antes cumpria seu objetivo de parque: “Tinha orquidário, tinha tudo. O parque está perdendo seu objetivo cada vez mais, estão fazendo de tudo para colocar mais comércio. A Prefeitura não tem nenhuma política de preservação e conservação. A Redenção é uma sombra do que já foi”.





