
Yasmmin Ferreira
Andando no Centro Histórico, além do habitual som de pássaros, conversas e veículos, também é possível escutar o barulho alto de geradores de energia. Utilizados em alguns prédios da região, como o Memorial do Rio Grande do Sul, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), e o Farol Santander, os equipamentos indicam os efeitos colaterais das enchentes ainda perceptíveis no município.
Mesmo após três meses desde as fortes chuvas, instituições, em sua maioria culturais, lidam com problemas estruturais que afetaram o funcionamento de muitos espaços na Praça da Alfândega. Conhecida por abrigar prédios históricos, a área ficou sem energia elétrica por 24 dias. Com duas semanas no escuro, já havia protestos por parte da população, mas o trecho do circuito elétrico que abastecia a região foi religado apenas no dia 26 de maio.
O gerente da filial Loxam Motomarc em Porto Alegre, Marlon Ramos, compartilhou com o Sul21 dados referentes ao aumento das solicitações de geradores. “Na época, tivemos diversas procuras, foi um momento intenso em que a demanda estava altíssima. No Centro Histórico, locamos para muitos prédios comerciais e residenciais.” Em sites de empresas que oferecem o serviço, o aluguel dos equipamentos varia entre R$ 120 e R$ 500 por dia, mas, no período da enchente, os preços chegaram a R$ 2 mil.

Um dos prédios históricos mais afetados pelas água, o MARGS teve aproximadamente 4 mil obras danificadas, o que equivale a 70% do acervo total, e permanece fechado por tempo indeterminado. Em nota, o a direção do museu, vinculado à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), afirma que o andar térreo “foi comprometido, envolvendo computadores, equipamentos, mobiliários, recursos e materiais de trabalho e exposições, além das instalações elétrica, hidráulica, de lógica, telefonia, PPCI, do sistemas de climatização e do circuito interno de câmeras”.
A diretora do Memorial do Rio Grande do Sul, Sylvia Bojunga, conta que a água, que chegou a 1,70m no edifício, ocasionou alguns danos no primeiro andar, que abrigava o Espaço Cultural Correios. Dois elevadores do prédio tiveram perda total nos motores, e o problema maior está relacionado à casa de máquinas e à subestação que fornece energia elétrica. De acordo com Bojunga, o local agora conta com recursos do Banrisul, que serão empregados nas obras necessárias.
Ainda sem data prevista para reabertura, mas com expectativas de que seja dentro de um mês, o Memorial utilizava um gerador que, entre julho e 4 de agosto, era emprestado pela CEEE Equatorial. Agora, conta com um equipamento próprio. A diretora do espaço ainda pontua que o Arquivo Histórico, muito utilizado por pesquisadores e estudantes, será reaberto, a partir do dia 20 de agosto, para aqueles que estão desenvolvendo trabalhos e precisam de documentos, mas a entrada ainda será limitada.

Procurada, a CEEE Equatorial informou que o reestabelecimento da energia no Memorial do Rio Grande do Sul e no MARGS está, agora, sob responsabilidade da Sedac, em razão das obras necessárias. Eduardo Hahn, diretor do Departamento de Memória e Patrimônio da Sedac, afirma que a previsão é de um mês para a restituição da rede elétrica em ambos os prédios. Ele também destaca que os geradores atualmente utilizados serão substituídos por equipamentos pagos com os recursos disponibilizados pelo Banrisul.
Na Galeria Sete de Setembro, localizada na Rua Siqueira Campos, os comerciantes há tempos reclamavam dos prejuízos causados pela falta de energia e do incômodo provocado pelo som dos geradores. Cerca de duas semanas atrás, finalmente a luz foi restabelecida no local. Roberto, responsável pela “Relojoaria: Pilhas, Pulseiras e Consertos”, foi um dos que comemoraram o fim do uso de geradores. “O retorno da luz foi um alívio, a gente estava perdendo muita clientela e a demora foi grande”, afirma o lojista.

